domingo, 31 de dezembro de 2017
estou sentado e acabo de deixar o meu corpo derramado sobre ela
não entendo o idioma que a cadeira fala, peço uma vírgula e
me entrego ao som do ruído que a cadeira about me emite
algo que já está dentro implora mais uma razão de sair
não se sabe para onde ainda só se sabe para onde ainda não
não é sobre escrever uma imagem é além de sair da cena sem
é sobre o não ser de conjugar o porque de é ali o caminho
i said your hands cruzando os dedos e fechando os dedos e
esmurrando minha face meu olho esquerdo pensando em nada que
direcione a mim os medos
agonizo no interfone
um sapo pula sobre minha barriga e este é um novo paragrafo
eu não tenho medo dos sapatos que sobrevoam a minha cara
o zíper está aberto e os dedos da vizinhança apertam enter
não me peça mais espaço entre mim e eu e você pode ir
Pierre Tenório
sexta-feira, 29 de dezembro de 2017
pia, mermo
também não significa que eu não tenha senso de humor, apenas sou
uma garota sem paciência para ouvir piadas e ter que achar graça;
mas, no meio dessa bobagem toda eu descobri um prazer quase invisível
em narrar piadas, na verdade em escrever piadas, criar e tirar de dentro do meu
útero:
piadas
e ao invés de esperar o riso,
sorrio da ira alheia
do ódio nos olhos
da seriedade súbita
da falta de paciência
por não haver graça em minhas piadas e isso alimenta
a minha vontade de viver
dá até uma dor no peito, um aperto no estomago, uma vontade desgraçada
de rir.
isso me faz bem;
foi a forma que encontrei de me livrar dos piadistas sem coração.
Sempre acharam que eu era uma piada, começando quando eu digo que meu nome é
Cleide, fico observando um esboço de riso dentro dos olhos, pois que sempre
fingi que não percebia, na escola, na rua, nas calçadas,
e na igreja, ainda
queriam vestir minhas roupas e pentear meus cabelos
isso também me fez rir por um bom tempo, hoje não preciso rir
de mais ninguém, pois sou dona do meu corpo, das minhas atitudes e do meu nome;
gosto do riso espontâneo
mesmo que seja de mim mesma
bem distante de mim, eu mesma.
O melhor das piadas sempre serão os entendedores
Pierre Tenório
quarta-feira, 27 de dezembro de 2017
poemas presentes
por todas as ceias
os fins acontecem
nas mesas com a mesma
certeza que tudo
de novo começa
na próxima breja
pessoas ausentes
na fotografia
queridos na mente
carentes na vida
nos pratos comida
a louça lavada
e tudo inicia
não gosto de escrever como
se o mundo fosse uma ceia
de ano novo
Jesus está velho demais
para grandes festas
de aniversário
se eu não tivesse memória
só viveria os agoras;
é quase outro ano quente
pra gente aguentar a gente.
Pierre Tenório
quarta-feira, 20 de dezembro de 2017
É possível que te escrevam um poema
e também que o decodifique e o transmute e o desminta e rasgue a nossa frente de alma aberta e o mastigue como você desbota na página
É possível que isto, um poema, não sirva para ti e também que você o rasgue e que você não leia e que dissolva como um papel na língua que ninguém mastiga, um pedaço de página
É bem possível que não saibas poematizar a poesia ou vomitar para dentro gestos silábicos soletrados com vontade de rir, secando o suor dos olhos cansados de tu- d o, é possível que não toques página por página
Pierre Tenório
terça-feira, 19 de dezembro de 2017
assim, vou conhecendo os eles dele e qualquer dia escrevo desvairada sobre tudo e todos a quem amo sem inventar qualquer inevitável pessoa a quem amo
observo a luz do dia e destroco as pessoas são palavras boas que me finjo de louca e sei que a pia está cheia louças não quero as mesmas palavras dentro do meu sacrifício de falar as mesmas e explicar tudo o que sei em destroços
realmente não sei te dizer
não te dizer realmente
dizer-te não sei
que és o mesmo
troco os troços e me finco no mesmo lugar
ao estar bêbado na sala de star tomo decisões e volto sozinha nas curvas dos arabescos pego uma mototaxi e amo pela última vez de novo
desliguem o ar-condicionado
Pierre Tenório
segunda-feira, 18 de dezembro de 2017
domingo, 17 de dezembro de 2017
eu só tinha dinheiro para andar em um parque e tive que escolher entre comer um pastelzinho de forno ou ficar mais um tempo esperando as coisas se realizarem dentro de um algodão doce você não estava mais daí então eu descobri o motivo para existir aos poucos quando disseram que eu deveria ser alguma coisa lancei minha cédula na paisagem sem vento e ela caiu sobre o meu sapato só faltava mesmo vento mas inventei que ela queria ficar comigo sem ser gasta e nem bolsos eu tinha na minha saia
Pierre Tenório
presto muita atenção
quando ele fala
e me cobra uma razão
para viver esse silêncio
que afeta os ouvidos do mundo
nessa nossa conversa
sobre o mundo só
nossa conversa
tão só
quanto nós dois
dobrei as roupas
tirei as roupas
você rasgou minha peça
favorita do quebra-cabeça
e eu perdi a cabeça
do teu corpo
sem roupas dobradas
tiradas na frente da
porta do banheiro
rasgadas nas mãos
Pierre Tenório
quarta-feira, 13 de dezembro de 2017
fui assassinado
e deixaram meu corpo
com todos os sentimentos
intactos e profundamente
enterrados sob a carne
crua e podre
e nos ossos
havia pena e tinta
isso, os ossos
sobrevoando a terra firme
das palavras
tatuadas por debaixo
da pele carnal
e limpa
fui assassinado
pois que nunca
sobrevivo aos momentos
que te amo
isso mesmo, você existe
e me matou
carinhosamente
quando disse boa noite
e a lua se tornou poeira
diante os olhos
e o corpo escreveu
a última palavra
do poema vivo
não é fácil sobreviver
aos pedidos de
despedidas
apago os eu te amo
da lista telefônica
ainda não te morri
Pierre Tenório
terça-feira, 5 de dezembro de 2017
segunda-feira, 4 de dezembro de 2017
avisto o shopping e
tenho a estranha sensação
que não existe morte
e Jesus virá de helicóptero
a qualquer momento
tirar fotos
penso que a vida
dali em diante
por si só
devido as cores
eternamente será
vou aos parques caros
e saio sem pagar
feliz escolho
qual não ir
as mães seguram
as mãos
e as soltam
pra nunca mais.
ficamos lençóis
quase com palavras
o cheiro
da praça
de alimentação
o cd novo
no toca discos
do carro
a paisagem
agarrada no braço
e por incrível que pareça
sempre compro
nada.
e ganho nadas
o cheiro do livro no armário
Pierre Tenório
quarta-feira, 29 de novembro de 2017
quarta-feira, 22 de novembro de 2017
troquei um punhado de alface
por uma porca gorda e faminta
vegetariana até as orelhas quando eu a olhava sentia o gosto da feijoada
eu mesmo matei a porca
e dentro dela tinham filhotes
de porquinhos e eles ficaram vivos
fora da porca sem cabeça
Eu comi a porca
assada na brasa
com cerveja.
jesus te ama
santan te ama;
nos cumprimentamos
e os irmãos da casa vizinha
me mandaram para o inferno
Vi os filhotes
crescerem gordos
famintos e
manifestados
com o espírito santo.
Deus me comeu no almoço
de amanhã
e eu me senti uma merda
divina e onipresente.
Pierre Tenório
terça-feira, 21 de novembro de 2017
Concluído
As palavras não terão
mais o peso dos grãos
da
terra
que nos so
ter
ra
No fim
letra por letra;
Nada haverá dito
Não há veredicto.
Só
amor.
quinta-feira, 16 de novembro de 2017
cuspo estrelas na tua cara
enquanto o coração para
I
Juro não escrever mais
poemas de amor
nunca mais
um juramento duvidoso
assim como és
Direi que o todo que te amo
atravessa os caminhos venosos
do meu riso
tor
to
não importa que você não atenda o telefone
sei que estou ocupado
e se amas, deitado esperando a lua.
II
Tudo pulsa e
enquanto os segredos são jorrados à luz
de penas
qualquer amanhã aparece corrompido
para dar suas boas vindas mesmo
sem ser
convidado.
Cobiço o homem do próximo
como a via láctea dança
em círculos.
assustado com minhas mãos frias
e com a alegria que elas matam
todo meu intenso.
Me lembras quando já esqueci
mas, esqueces como de costume
Te como de costume
com o resto
das mãos
III
Se soubesse de tudo
também
não teria prazer ser
ninguém
realmente
Como algo gostoso que você
come
caga e morde dezenas de vezes
Nuvens de fumaça na floresta
e a música está queimada
o pôr do sol é lindo e me
limito nas paredes dos teus brônquios
implorando prisão.
fotografo teus pés caminhando para
o relógio das flores.
Risco a palavra
IV
Sujo o poema com medo
das lágrimas
Elas não precisam estar
levitando sobre
minhas unhas sem esmalte
preto
é a minha cor favorita.
Ninguém aqui é ativista
nem do mal
ninguém precisa de ninguém
e isso é muito frágil
na quarta série fui estuprada
E isso é claro demais
para meus óculos
lentos.
V
Queria que você se abrisse
para mim...
Não em formato de palavra
e sim, como um corpo de letras
cheio de idéias
Acendo as luzes e tudo
está como
desejo
corto o coração
com verbos.
Pierre Tenório
o filho da porra vomita sem querer, nada
e além de se preocupar com conjunturas
atinge a junção das palavras
e a estética da métrica
com a beleza da janela
aberta
um imbecil
meche comelas
ninguém lê
e não é preciso fugir
pq a vida óbvia
irreparavel mente
repete as palavras
e os
ex
é a primeira vez que escrevo
Pierre tenório
sábado, 11 de novembro de 2017
não falo de um espelho quebrado ou de uma caneta estourada ou a discorrência do texto
na tela do submarino, isso, de não sentir o próximo momento como algo que se escreva
em ordem de pensamento, ou pausa, o que não deveria ser ou o estrago que é, a real ilusão
do nunca. o silêncio dos dias e a queda das árvores, o medo, a distância rápida entre
uma vida e outra, a quantidade de linhas escritas, o peso da página.
o produto
Pierre Tenório
quinta-feira, 9 de novembro de 2017
para ti, senhor
mente cansada
de não fazer absoluta
mente nada
por ti
atravesso a rua
procurando chuvas que se foram
agradeço
pois a foto não desbotou
da carteira de estudante
me maquio
te mapeio
e nem de quatro
centos reais você vai
me pegar
de supresa
por acaso
não entendo os hormônios e
as próteses estão murchas
os violões silenciados
badalam os sinos
à luz das lágrimas
dos palhaços
tangs
mangues e
suco gams
Pierre tenório
quarta-feira, 8 de novembro de 2017
Travessia
Nada mais me faz fumar
um cigarro sequer na ânsia
de algo qualquer, lembrança
ou toda palavra cansada
que atinge os dias
sem graça
Comecei ler Dostoiévski
um romance em noite brancas
a paixão não me achou
a solidão do sonhador
também nada
em pontes frias
Sobrevivendo ao fundo
das águas todas do mundo
no silêncio de si
nas palavras do sol
que dói em mi
dias escuros
O olhar das nuvens, discreto
me adentra céu aberto
E o consagrado do livro
escorre pelos destinos.
Não me transfiguro
Pierre Tenório
quarta-feira, 1 de novembro de 2017
PIEDADE
digo que só tem
piedade em mim
pago tua pena
vivo ao lado
de quem não me quer
por perto
não ousem tirar-nos
o silêncio que o vento
se recusa a soprar
dentro dos ouvidos
a solidão é a alma
dos nossos negócios
ainda há muito ódio
para ser amado
sobre os tantos corpos
vivos, talvez mortos
me parto.
Pierre Tenório
quinta-feira, 26 de outubro de 2017
Configuração
Preciso que me toques
como dedilhas as cordas
dessa guitarra abandonada
Imploro aos teus pés
pela firmeza dos dedos
procurando um espaço
por dentro de mim
Meu cu se abre
como a porta do céu
em chamas
Quero que você dance
sobre as letras da minha alma
e perca os anéis
esqueça os braços envolvidos
na epiderme do meu cansaço
Espere anos até que eu goze
musicas em teu pescoço
Mergulhe-se no instante
com a força do teu poema
rígido na minha boca
Exploda no meu canto
com o som do suor estampado
em minhas costas
durma
acordado e me esqueça
no pensamento do sono
perdido.
Pierre Tenório
quarta-feira, 25 de outubro de 2017
eu poderia dizer que tá tudo uma merda
mas, limito ao território terrestre
onde sujamos os pés e as próprias mãos
onde lavamos a face com o sangue das almas
eu poderia lutar pelo poder das coisas
mas, limito em querer ter um espaço
onde suje com meus próprios pés
e cozinhe com as mãos limpas
eu poderia te deixar para trás
mas, limito minha impaciência
onde peço tua mão na minha
onde beijos nos teus pés são fáceis
eu poderia insistir no segredo
mas, limito minha indecisão
onde olhos nos olhos são versos
onde me liberto dessa estrofe
Pierre Tenório
terça-feira, 24 de outubro de 2017
Passeio pela rua de casa
MóA frieza abraça os poros e as narinas trazem as poças do caminho de volta para casa
quarta série
e os garotos não me deixam tirar notas abaixo de zero
Olho
e os vejo, eles não tem paz.
O cheiro das paredes recém rebocadas da casa nova, o gesso ainda branco, o barulho do frango na assadeira,
minha mãe abre a porta
as teclas do computador instalado no quarto de hóspedes
começo os primeiros versos a mão
e fico aterrorizado quando penso que de tudo já sei.
Leio a capa do primeiro livro na vitrine dos best-sellers
meu pai compra Stephen King mesmo contra vontade, assim pude inventar meu primeiro espelho inquebrantável.
Fim do ano
dez dias de água salgada e as melhores fotografias de todos os fins de ano
36 poses
7 queimadas
Duas delas minha mãe rasga por não gostar do ângulo
os ângulos são importantes para as mães
tanto quanto os momentos em que alguém precisava rebobinar o filme em nossas cabeças.
O vazio das pipas junto as marcas dos meus pés soltos pelo vento amarrado em meus dedos, o corpo seguro pela gravidade de um cordão.
A professora odiava me colocar de castigo
mas era forçada pela minha teimosia, ela não acreditou que eu sabia o que era ao pé da letra
Com certeza alfabetizei minha professora.
Perdi meu primeiro amor e até hoje sou apaixonado por perdê-los em inventários.
Busco profundamente essas lembranças com a sensação de encontrar uma moeda na carteira do meu pai
para comprar a figurinha repetida.
Um dia fiquei admirado com a impaciência do sol batendo a porta dos olhos e vejo
tudo muito parecido
O gosto da língua dos poetas que estão para acordar.
O sono é mais doce que as palavras
Pierre Tenório
sexta-feira, 13 de outubro de 2017
terça-feira, 10 de outubro de 2017
segunda-feira, 9 de outubro de 2017
Ando esperando que o dia chegue ao fim
Contemplando um momento
em que o céu pare de se mover
Não falo exatamente da extinção da aurora ou do banquete sangrento da lua
choro prendendo as lágrimas.
Parei de inventar histórias sobre a noite
e meu desejo é dormir
sem pensamentos que atrapalhem essa guerra aos poucos tantos de nós
quero apenas
o fim do dia
e que meus olhos mesmo fechados
não se percam na clareza
Movo o corpo para outro lado
abro as retinas acortinadas
da mesma vida
no mesmo tempo
e ainda não desligaram o sinal de alerta
Esqueço de perguntar para quem devo
agradecer
pelo ar poluído que respiro
Silencio quando olho quantas horas
carrego nas mãos
tentando caminhar pelos lençóis da cama
as horas não tem valor
sentadas nos bares
as horas estão paradas
na calçada de casa
vagando pelos destinos
horas acompanhadas
em busca do sozinho
do eu sozinho
do ser
meu sorriso ama
quando meus próprios lábios estão tristes.
Todas as horas da minha vida já passaram
faz de conta que estais comigo
Pierre Tenório
domingo, 8 de outubro de 2017
quinta-feira, 5 de outubro de 2017
meu amor
mas, sempre terás
um espaço especial
dentro do meu camarote
e quando quiser sair
estará embriagado
demais para seguir
Você poderá dançar
e até não querer voltar
Fale mal ou bem
também, se quiser
e quando eu estiver brava
terá que pagar entrada
Não sou uma festa, amor
mas, irei devorar
toda tua grana
para que você
se sinta o máximo
de tempo agradável
Se quiser também
poderá amar
todos que já foram.
Não sou sua
festa, amor
estou apenas
um pouco triste
Pierre Tenório
quinta-feira, 28 de setembro de 2017
QUEDA LIVRE
Lancei as retinas da varanda
pra ver se alcançava liberdade
Os olhos quase cegos se enganam
achar que toda porta tem uma chave
Sobrevoei os campos corpos casas
e não consegui enxergar nada
Caí quando não abri a asas
senti quando caminhei sozinho
Fugi dos perigos do caminho
morri com o odor do amor comigo.
Pierre Tenório
terça-feira, 26 de setembro de 2017
sexta-feira, 22 de setembro de 2017
Janelas
Enterrei alguns dos meus dentes queridos
pra num dia triste recolher sorrisos
desde então vivo de boca fechada
tentando evitar palavras erradas
quando todo mundo ri da minha cara
volto pra casa e choro sozinha
lembro das sementes que arranquei
e nunca vi fada madrinha;
já quando penso em teu riso
me perco no paraíso.
dos sonos perdidos
Pierre Tenório
Quase sempre que me masturbo penso nas mesmas garotas, lugares que conheço bem, no entanto nunca naveguei, paisagens espetaculares longe do meu alcance, daria até pra viajar a pé.
E eu fico aqui viajando a mão.
As vezes penso em pegar um busão e sair por aí, de praia em praia, distribuindo simpatia e vendendo picolé, mas sou um cara preguiçoso, que também não reclama por ficar em casa assistindo o mesmo capítulo da mesma novela.
O trabalho também é uma viagem, sou um cara bem hétero, e católico, sei que é pecado mas também me pego aportando as ilhas privadas dos meus colegas, é quando sinto que estou adoecendo e dou um jeito de conseguir atestado.
As coisas não estão boas pra gente ficar saindo na rua, queria ir mesmo pra outro país, enquanto termino de construir minha casa na árvore.
Em qualquer espaço o ruim mesmo é quando a internet cai.
Pierre Tenório
quinta-feira, 21 de setembro de 2017
longe o amor
esteve mofado
dentro do livro
de poesia
durante tempos
quando abri
tomei um susto
logo que li
versos de vento
correndo os olhos
não acredito
em tudo lido
por isso dizem
que amar é cego
ainda insisto
passar momentos
colhendo flores
onde há cimento
sobre sementes
me fragmento.
Pierre Tenório
quarta-feira, 20 de setembro de 2017
terça-feira, 19 de setembro de 2017
sábado, 9 de setembro de 2017
KILAUEA
Parei de me ocupar
deixei aquela onda
invadir todo fogo
da erupção
só um pedacinho
da minha memória
é re-inflamada
Vivendo a morte
deste coração
invento coragens
pra não ser imagem
de qualquer ser vão
quarto descartável
seres implacáveis
Por dentro invadem
o que fora fodem
fedem
fadam
flores
flertam
figas
Nos dedos destorcem
amores por sorte
inventadas fugas
aos pés rachaduras
das plantas os galhos
enaltecem lábios
agoando luvas
Línguas se confundem
com dedos e os nomes
e os monges e as ervas
cartazes abraçam
não somos mais elas
pormenores falam
mudamos iguanas.
Vamos surfar nas larvas
que acalcam nossas praias
Pierre Tenório
quarta-feira, 6 de setembro de 2017
eu mesmo
quero ficar sentado sobre você, poema
sem que me penetres
não falar nada sobre
este meu falo encantado
nem gritar
eu não quero estar
chupando os dedos
enquanto te olho
e nem abraçar o teu pau
e nem beijar tua bunda
eu não quero prestar
esse serviço limpo pra você
seu poema cheio de cheiros
eu não
só quero que me sirvas
com tua boca
em meus seios
calado poema
e beba meu leite
e chore
dentro das minhas mãos
pois meus olhos
já não leem
tua barba
minha língua já não fala
tua língua
as palavras só te pedem
um pouco mais de gala
rasgo os trages
me perturbo
circulando o sabor
das tuas unhas
durmo com você
dentro
é
não basta ficar
calado
sobre minha cama
sobre meu corpo de lençol
e despedida
Pierre Tenório
quinta-feira, 31 de agosto de 2017
Aventura Interrogativa
- Professor, ela disse que o Sr. tem voz de veado.
- Como seria a voz do veado? Veados falantes, cantores...
- ...
- Professor na minha rua tem um veado que fala assim: (imita uma bicha, gay, homossexual, lgbtq, veado...)
- Ah, tenho um amigo que fala assim também, mas, ele é gente, sabe? Tipo, humano. O chamam de veado pelo fato dele ser gay.
- Minha tia namora uma sapatona, professor.
- O Sr. namora homem?
- Sim.
- Que ridículo o Sr. falar isso, professor.
- Todo mundo é diferente, cada pessoa tem o cabelo diferente, a cor, a religião, também gosta de pessoas diferentes e iguais também. Estou aqui para ensinar música e aprender com as perguntas de vocês, ok? E todo mundo se respeita. Ninguém é igual.
- Professor o Sr. é macumbeiro?
- Pq?
- O Sr. tem o cabelo assim e usa esses colares, essa menina aí é.
- Tenho muitos amigos que são do Candomblé, Harehare, Bruxaria, Jesus, tudo é normal gente, existem muitas religiões no mundo e cada um escolhe a que quiser. E macumba é um instrumento musical, sabiam? Pena que eu não sei tocar.
- Qual sua religião, professor?
- Minha religião é a natureza, a música, a poesia, o amor, a bondade, o respeito.
Por isso sou um anjo, não um veado, os veadinhos são bichinhos maravilhosos, como todos. Certo?
Vou fazer uma pergunta a vocês agora, que tipo de música vocês gostam e costumam ouvir?
- funk, funk, música de Deus, funk, sertanejo, funk, funk.
- Professor
- Oi.
- Eu tenho idade pra namorar?
- Quantos anos você tem?
- Nove
- Você é uma criança, tem que estudar, brincar, aprender, se conhecer. Quando tiver com quinze, dezesseis tu pensa nisso.
- Com quantos anos o senhorou namorou?
- 20
- Pois, eu já tenho namorado e beijo na boca dele, minha irmã tem cinco anos e também tem.
- ...
- Peguem os cadernos de desenho.
Pierre Tenório
quarta-feira, 30 de agosto de 2017
A arte é como uma casa vazia e sem portas e sobre a marquise urubus, urubus sobrevoando o projeto de telhado. Esses dias disseram que sou artista respondi que duvido muito e as dúvidas fazem de conta. Tomar as rédeas do cavalo e cavalgar sobre si mesma, não há nada por dentro que os animais consigam farejar e no fundo sempre querem que nos contradigamos.
Toda estrada tem uma enganação escondida dancei nas margens do São Francisco cantei poemas do Melo Neto encenei o fim dos meus sonhos.
Eles cortaram minhas mãos com o carinho de quem apunhala uma flor num lugar cheio de flores num planeta cheio de flores arrancadas
Que escrevem de boca fechada
Pierre Tenório
terça-feira, 29 de agosto de 2017
tosse
Estou infértil e sem satisfações para doar arranco meia dúzia de poemas a força e vendo os olhos violo meu despudor Me comporto como uma cadela cheia de pulgas atrás da orelha e olheiras de tanto dormir Amo como um cão que não precisa de dono crio apenas muitas expectativas Tenho a alma da planta da casa dos sonhos Sorrio pois que chove o bastante para que tudo floresça fora de mim e me esqueça Respiro o último instante em que nada que rime por mais que eu ame não reconheço poema.
onde estarei
tp
tp
quinta-feira, 10 de agosto de 2017
Estou perdida no meu próprio mapa astral
seguro ele firme com as mãos um pouco trêmulas
a imagem não é das melhores
Cansei de dizer o quanto não me sinto
exausta e ansiosa por nada
parei com essa história
de me escrever escritora
Rabisquei esboços sobre a página já escrita
não vou dizer como me sinto quando
me disponho
decidi nunca mais me vestir
Eu poderia não acordar mais
e respirar profundo
Vou quebrar meu telefone
para não ter que abrir a porta
Lambo os dedos após enfiá-los
na garganta
com olhar de felina caindo
no choro.
te esqueço novamente
Pierre Tenório
quarta-feira, 9 de agosto de 2017
Não prometerei nada
faço sexo como um qualquer
um faz. Jogarei suas palavras
ao seu favor e ficarei
contra você. Questão de tempo.
Em menos de dois dias
dois da poli cia
passaram a mão em mim
e me convidaram para fumar
um baseado. Eu disse: - não
ando com almas sebosas, meu bem.
Eles não me bateram
apenas disseram que
sou uma bicha hipócrita
mas, na verdade queriam dizer
que sou um retardado
eu, entendi o que
não deveria entender
minha mãe já não liga
para os meus inimigos
tudo é uma questão
de desatenção
agora eu finjo que não
te vejo.
Pierre Tenório
sábado, 5 de agosto de 2017
o mundo fala poemas
o tempo todo
o dia inteiro
digitam poemas
cheios de acertos
ortograficamente
poéticos
calado, é o poema
mais belo
não lido
poetas distraídos
ocupados
o dia inteiro
em ganhar dinheiro
não existe erro
até quem não sabe
lê
falo como um cego escuta
desenho flores enquanto durmo
é a natureza
Pierre Tenório
quinta-feira, 3 de agosto de 2017
quarta-feira, 2 de agosto de 2017
DAMA DE HONRA
rasguei
o convite
e
cheguei
na pior
hora
da festa
vesti minha melhor
fantasia de mendigo
não sou ladra, mas
decidi roubar
todos os presentes
eu não acredito
nessa histórinha
de amor, no entanto
amadoramente
cantei tua trilha
e fiz questão
de desafinar
você sempre teve
um péssimo gosto,
mesmo.
nem senti fome
o primeiro pedaço
do bolo custou
muito menos que
pude vomitar
coloquei o resto
dentro da bolsinha.
assinei o papel de outra
beijei o noivo na boca
roubei a senha do Wi-Fi
para fazer checkout
acabei com a festa
da minha amiga
que apanhava
todos los dias
a culpa foi do uísque;
lancei o buquê de talos
e as alianças no ralo.
fui embora jogando as pétalas
pelo caminho
- você me agradeceu por tudo.
Pierre Tenório
terça-feira, 1 de agosto de 2017
Sou presa fácil
nos teus lençóis
fico segura
mesmo distante
das tuas mãos
Ainda trago
em minha boca
o ar que polui
os teus pulmões
e me faz louca
Estou vestida
com a nudez
do teu semblante
quando decifras
meus pensamentos
Todos errantes
e teu sorriso
me faz sonhar
de olhos abertos
quando acordo
livre em teus braços;
Olho pro céu nublado
e o vejo azul.
quase sempre sozinha
Pierre Tenório
domingo, 30 de julho de 2017
quarta-feira, 19 de julho de 2017
I.
tudo no meu tempo é meu
eu e aquilo que invento
um pouco entediada, mas,
feliz com o clima
logo recomeçam as atividades
aulas, aulas, trabalho novo
busca por mais trabalhos
já que o salário é pouco
músicas novas
poemas novos
novos encontros
ocupações
quero ocupar corações
ocupar o meu coração
e meu sono
ocupar as horas que fico com fome
ocupar as mentes em cima da hora
acampar na varanda do apartamento
no fim de semana com o namorado
deixá-lo respirar um pouco ao meu lado
e sair sozinho
II.
escrevo o que gostaria de ler
estou morta
como
durmo, fumo maconha, espero acordar,
parei com cigarros, escrevo, apago
e olho para a tela do telefone
esperando uma mensagem no whatsapp
uma mensagem que nunca chega.
e não é "parabéns você foi sorteado"
logo tudo começa
a ficar cansativo de novo
eu vendo tudo
sem um real no bolso
volto pra casa na chuva
vagando a pé pela rua
somente o frio agasalha
e ninguém quer me pagar
pelo que faço melhor
jogam na minha cara
jatos de água gelada
a mensagem foi entregue,
não visualizada.
III.
desempregada, fui despejada
e o namorado deu-me um beijo
de despedida.
Pierre Tenório
terça-feira, 18 de julho de 2017
unha por unha
vagarosamente
roeu todo esmalte
de cada dedo
que apontava
para a porta
da minha face
quase decidi voar
do 16° andar
vagar pelo fundo
do rio, como um peixe
vivo dormindo
acordado
não deu tempo
as flores murcharem
nas minhas mãos
quase desmaiei
por medo de falar:
não sentirei saudades.
Pierre Tenório
sexta-feira, 7 de julho de 2017
queimando as páginas
decidi não acordar mais
só pra ficar sonhando com quem já fui
desapareci dos becos, da sala de aula e do carnaval
tentei fugir da tua boca, fumar o teu cigarro
tuas bocas parecem deus perto
pulei a fogueira apagada
e as brasas encontraram meus sonhos acesos
os sonhos de mim
quem sou não importa, meu bem
nem tampouco o que me torno
e tudo em torno
encontro a melhor rua para tua fuga
te convido para um chá
me deixa em paz já que te amo e grito para mim
te amo ano após amo
é uma pena que você vaga a mesma merda
os anjos mijam sobre nossas cabeças
já tive medo passando pelos meus rascunhos
e o vento trouxe de volta o animal
"quando todos vão embora eu me tranco aqui e tudo bem"
para você escrevo
que sempre estive onde
você não procura e
não me empresto pra você.
Pierre Tenório
quarta-feira, 5 de julho de 2017
não pedir para eles pensarem tanto
só queria que ficassem sozinhos
e tirassem a gravata que enforca
seus pescoços
queria arrancar a cabeça
dos homens
colocar um corpo de mulher
assim eu poderia tirar-lhes a barba
fio por fio
como uma máquina de desfazer medos
queria colorir a boca dos homens
e me apaixonar como um animal
selvagem
esquecê-lo para sempre sempre
mudar de calçada toda vez
que avistasse um homem
para vê-lo passar divagando
como nunca vi devagar
eu queria ser um cachorro
com o rabo entre as pernas
tp
terça-feira, 4 de julho de 2017
terça-feira, 27 de junho de 2017
Não tente beijar um poema
da última vez que tentei
beijar um poema
ele pediu para
que eu me afastasse
de mim
sem precisar me tocar
disse que para beijá-lo
eu deveria saber
o quanto pesa uma alma
diante do universo.
Pensei que seria impossível
beijar o poema um dia
tocar os meus lábios no corpo
do poema, que ria
mesmo que não tenha corpo
nem rima, mesmo que não tenha alma
não tenha
Eu disse para o poema
que estava a escrever
no momento do desejo
pelo beijo
este mesmo que estais lendo
- sou apenas quem não sou
e estou com tua alma
só não sei como ela cabe
no bolso da minha calça
o poema desmaiou
no fundo do meu abraço
não havia mais sorriso
nem cor alguma em seus lábios
Nunca tente beijar um poema
seja apenas quem você não é
e a poesia te come
como quem não quer
o poema não te beija
também não faz questão nenhuma de você.
Isso não é um conselho
é apenas um falso testemunho
Pierre Tenório
terça-feira, 13 de junho de 2017
peço desculpas por não ser
um poeta como você come
sou pecador acíduo
odeio quando a fumaça passa
despercebida
amo os meus ódios
cheios de olhos
fechados
abro as cortinas da razão
e a paisagem não é bonita
mentiras são nãos
de óculos quebrados
e bocas amordaçadas
as fachadas dos lugares
nos condenam a mesmice
das verdades esfarrapadas;
mergulho meu corpo cego e
a terra entre os meus dedos
colorem o universo
de um rio que vive sozinho.
distante cavo profundo
pra ver se encontro teu mundo.
onde finalmente eu possa me perder em paz
Pierre Tenório
terça-feira, 6 de junho de 2017
Mesmo antes de dormir
eu já sabia
que não acordaria
com saudades de nada
fui esquecendo
letra por letra do que não escrevi
fui deixando a contagem
das moedas
por minha conta
fui e não precisei voltar
visitei outros capítulos
sem decorar o que estava escrito
sobre o vento.
Comprei um e vinte e cinco
de pães franceses,
tá muito caro o pau Brasil
tá muito raro o pão
quase irreal.
Sonhei que os índios
queimavam os ternos
e a ternura reinou dentro do sono
tranquila
em vigília;
mataram o presidente
mataram quem representava o presidente
mataram quem representava o representante do presidente.
Acordei com saudades
e não tenho tempo para matar
minha fome.
Pierre Tenório
sábado, 27 de maio de 2017
Não quero resolver nada
não sei por onde termino
nem sei a primeira palavra
tenho inventado maus hábitos
também corrido perigo
me sinto presa neste país
presa fácil
sem crime
Perdi a noção do belo
perdi a tranquilidade do poema
parece que nada
precisa de ordem
que tudo é capaz
de lavar as almas
Não queria que a primeira
palavra deste poema
fosse tudo que tenho
em segredo.
E mesmo que fosse possível
eu afastar-me de mim
permaneceria do vão da dúvida
pensando no sim.
Pierre Tenório
domingo, 30 de abril de 2017
à Belchior
Acabou o mistério que começa.
agora hoje é que não sabemos
onde estará o infinito findo.
e ninguém vai o prender
e ninguém mais vai perseguir
a fúria ou pressa de viver
e ninguém mais vai cobrar
uma nota de papel
como respondente
a uma nota musical
e todo mundo vai cantar
e beber goles selvagens
de corações fugitivos
e todo mundo vai fazer
uma pequena turnê
esquecendo as próprias letras
fantasmagoricamente
lembrando qualquer você
alucinando o cinema
nas frases de inúteis
problemas.
Vendo esse poema por um real
de olhos abertos
Pierre Tenório
segunda-feira, 17 de abril de 2017
que assim digam os mosquiteiros
as asas batem com as pálpebras
sobrevoando montes e torrentes
em frente uma tela desligada
cartões telefônicos figuram-se
postais em branco, posts and post its
o profundo sopro da ventania
contorna o semi silêncio
dos que com olhos abertos
fingiam que assim dormiam
ouvidos viciosos auscultam
corpos como ideogramas
a mente cria duas mil
possibilidades antes
o ideal é ser proibido para maiores.
Pierre Tenório
quinta-feira, 13 de abril de 2017
1. deseje o namorado(a) da sua amiga e faça sutilmente com que ele(a) perceba.
2. coma muita carne crua com legumes
3. roube os ovos da páscoa de alguma criança
4. lave as mãos no vaso sanitário
5. faça sexo oral em um padre
6. leia a bíblia de trás para frente
7. beba vinho até vomitar
8. assista a paixão de cristo em nova jerusalém ou na rede record
9. ame ao próximo como o anterior
10. apedreje um judas de pano (cuidado pra não confundir com um homossexual)
11. tome um banho de água benta
12. não banque o santinho(a)
13. não seja hipócrita
14. não responda sua mãe
15. faça de conta que deus não está vendo
16. leve um bêbado pra casa
17. decifre as metáforas da bíblia e não seja um alienado
18. siga os mandamentos o ano inteiro (a vida inteira de preferência)
19. reflita sobre você e suas posturas diante do mundo
20. duble alguma cantora evangélica
21. expulse seus demônios
22. acredite que vai pro céu
23. acorda pra jesus
24. procure o que fazer
25. cuide da sua vida
26. quando a semana acabar volte a pecar em paz
Pierre Tenório
Hoje estendi todas as roupas
no varal
todas as roupas sujas
no varal
deixei que a chuva lavasse
sozinha Sentada sozinha
fiquei paquerando as roupas
no varal
enquanto as gotas de chuva
banhavam as roupas sujas.
Os pingos de chuva
caíam sobre mim
como quem numa conquista
suja a melhor roupa.
Tudo escorria da vista;
como o encontro do rio
com o mar.
Pierre Tenório
quarta-feira, 12 de abril de 2017
enquanto outras não nos deixam dormir
coisas gemem de prazer
e outras dores fazem de conta; cair
tudo dói
me sinto a última pedra
perdida no precipício
de algum universo
perdido
único escombro
uma ocasião.
peço a deus que me roubem tudo
o que seria dito
por enquanto meu.
obrigo a deusa que nunca realize
nenhum dos meus sonhos
por favor.
não simplifique meus contos
deus idiota
real
Pierre Tenório
sábado, 1 de abril de 2017
nenhum poema pode ser silenciado
na claridade das retinas;
minhas pernas estão cansadas dos pelos
somos quatro cabeleiras
para três motocicletas
e toda a paisagem é pouca
para dois olhos em cada rosto
enquanto transito em mim mesmo
as árvores são fatiadas
como um bolo, ou presunto e queijo
dentro de um pão
cada pedaço se torna estátua
diante do meu barulho
já era claro, mesmo quando
a lua penumbrava os juízos
finais
estava tudo claro no canto
dos pássaros engaiolados
eu mesmo, um perseguidor
de fogueiras apagadas
entre os galhos
não sou o mesmo e mesmo assim
já esqueci que estou pronta
não me dirija os pedais
só me fotografe, mesmo
que nunca se revele
Pierre Tenório
domingo, 26 de março de 2017
atrás da porta o amor queima no lixeiro de alumínio e eu não sinto tuas mãos tocando minha maçaneta pois sou o pior em tudo que faço e falo com a caneta sem tinta escrevo poemas com o estilete na porta do banheiro sujo de merda pública digo bom dia ao porteiro e não recebo resposta alguma pior ainda é ser tratado como um veado dentro de uma condução nojenta felicidade é uma paz cheia de dinheiro é quando riem da minha cara de chupa pica é quando eu leio o jornal sujo de sangue nosso tu conhece a felicidade? mergulho na piscina de três metros e meio e sobrevivo por lá massageio teus pés de otário em cima da mesa enquanto cuspo verbos na tua cara de otário e tu me paga um salário de merda pra comer minha boceta chanel 5 coagulo num porão de rosas mortas achadas no lixo atrás da porta de alumínio protesto e ocupo e nada acontece parem de gritar parem de gritar seus bando de bestas que isso não tá adiantando
mais.
parem de gritar e
explodam
num longo espaço de tempo amplo nossas cicatrizes como a terra germina somos a geração mais infeliz que ouvimos falar
abraços continuam baratos
abraços continuam baratos
abraços continuam abraços
estou me repetindo
Pierre Tenório
sexta-feira, 24 de março de 2017
conheci um tal de
Sr. Assis
não tinha nada de Francisco
e vivia correndo riscos
falando pelos tornozelos
achava-se nos próprios medos
além do zelo, desvelo
pelos prédios
e animação
odiava os gatos
e também os sapatos
tentava entender o mundo
mas, era desgarrado
feito um moribundo
não se importava com nada
além de estar além
conversava com animais
no entanto
os únicos que o ouviam
eram os seres humanos
ainda assim, surdos.
Pierre Tenório
quinta-feira, 23 de março de 2017
segunda-feira, 20 de março de 2017
sentei
na mesa de madeira bruta quase só
e comecei de um por um
a degustar os espetinhos do lugar.
tomates, cebolas, vinagre, porcaria
comi quarenta e nove corações
pequenas novidades
dentre eles o meu estava no fim do último palito
foi quando naquela hora eu te deixei
olhar para minha mesa
e vomitar no meu prato sujo
cinquenta reais
as previsões de chuva estão por vim
e eu te digo: se molhe, por favor, vai te fazer bem nesse frio,
seu porco.
Quando como muito fico de mau humor
Pierre Tenório
sexta-feira, 17 de março de 2017
qualquer pessoa pode ter
o mesmo perfume
que o seu,
mas, duvido que ela possua
o mesmo cheiro que o meu
nariz inspira pelos cantos
da tua vida.
posso amar qualquer perfume
mesmo que não seja pura
tua essência,
o cheiro do seu corpo
penetrando meu olfato
ainda escorre pelos olhos
da minha vida.
Pierre Tenório
quinta-feira, 16 de março de 2017
fora aquilo que te escrevo ou escrevi.
que me levou e me levando, o fogo flui;
qualquer coisa não seria necessariamente delicada.
ou dedicada.
uma carta, uma urgência que me fale a memória,
confesso de lábios fechados e molhados pela língua entre os dedos
da ressequidão umedecida pelas páginas calejadas que sem calar, param
para me ouvir dançar.
e eu danço, danço e também me deixo levar um pouquinho
como o galo gala nas manhãs sob a lua.
confesso que esconderia tudo maldito.
dentro do teatro, lá no camarim, por debaixo da
bolsa preta que está em cima da sandália de couro.
e acolheria tuas cartas onde, onde os olhos não alçariam
aterrizar, ou até mesmo entre os membros de um corpo insólito.
no entanto, porém, contudo, decido queimá-las as tuas cartas
em meu ventriloquismo insensato.
e lembrá-lo de uma vez por todas com toda evasão das reticências.
me destroço e me espalho e me esparramo no estardalhaço
das conversas onde calado sobrevoo vestígios
que me levam ao nunca mais me retoque.
engulo copos vazios de ar.
sem pontos
não tentes me
Pierre Tenório
quarta-feira, 15 de março de 2017
como lençol fino pesa
sobre alguém sozinho
ou então jogue pedras
leves sobre as flores.
Jamais seque os olhos;
banhe-se na fonte
dos poemas mortos.
Trafegue entre escolhas
de produzir livros
ou livrar-se das penas;
amo folhas em branco
infinitas escrituras
conjunturas
de céu sem estrelas.
também verdes
e secas
amo árvores
presas
em terrenos
flutuantes;
de tempo passado
ou nascido
em finíssimos galhos.
amo as folhas que fumo
e esqueço
desde quando as leio
até apagar tudo
que escrevo.
Pierre Tenório
sábado, 11 de março de 2017
mensuro os maiores medos de nós mesmos e.
levanto a bandeira do sangue, mas,não quero.
as dores do teu braço espero o passo de.
amanhã talvez eu não me renegue, pois jamais qualquer verbo
será em vão, meu amor
tudo isso é uma vingança inconsciente de ti para mim
ou uma onda selvagem de cartas e búzios trocados,
além das vírgulas eu sei que você me ama tanto que isso te
sufoca em minhas transmissões piratas
não me deixe sozinho, pois eu sei que todos
me darão o devido carinho que não.
sei que não
borrachas apagariam
borrachas encandeceriam
onde estarão os teus olhos longínquos
quero comer os teus olhos
e arrancar o teu pênis
e sobre minha barba deixar o sangue
estancar
escuta a música
mas, nada é leve
vele
nosso silêncio
eu não sou ninguém mais
na multidão que nos cala
e e e
nossas palavras são vãs
já pedi para me deixares em guerra
rapaz
as teclas do piano me importunam
no entanto
as amo.
contemplando o escafandro
nada me vislumbra
o abandono.
melhor calar-te
e soltar meu abraço
fico procurando os pontos
tp
sexta-feira, 10 de março de 2017
subindo a parede da sala de estar bem consigo
alegre sentada no colo e olhando
o ar entre os dedos dos pés pendurados
em busca de nada mais que plurais
no atormento do pensamento de si
sem se desculpar e desculpando-se pelos
chutes que as tartarugas atormentadas relevam
em fotografias queimadas pela maresia da terra
as pegadas das tartarugas
em busca do mar astral
existe prazer menor do que ser menos
que os outros que
observam as árvores dançar pelas varandas
desvairadas;
e se atentam a cor dos lábios celestes;
é o alvorecer nos despindo de nós mesmos
procurando por nós mesmos em outras palavras
nossas
e tudo mais será nada nosso mais por enquanto
os esquilos correm famintos
estou assombrado pelo verso não absorvido
por mim, estou alumbrado pela minha beleza
em descoberta então fale mais mais mais e então
cale-se e deixe que você mesmo fale por ninguém
exite e não exite
o que eu queria te dizer cabe muito além que as
flores que eu mataria
borboletas dormem no portão
também das carnes que como
e não nego nem me arrependo porque te amo
mesmo sem saber como como isto;
um ser qualquer como não te comeria mais
jamais e até que sinceramente
eu até compraria algumas veias
e versos
pra te ler
além.
Pierre Tenório
quinta-feira, 9 de março de 2017
da última vez
que beijei teus olhos
não pude sentir
o gosto salgado
que me adoça os lábios
ao te ouvir chorar
pela última vez
nesses anos todos
morri mais um pouco
por dentro de mim
não me leve a mal
mas, sobrevivi
para te ver cego
procurando medos
em novos castelos
de areia
desculpe-me amor
só peço que passes
pro resto da vida
as noites em claro
encontrando a cura
para as feridas
que nenhuma ausência
ousaria causar
um único aviso:
se mate por quem
me mata de rir.
idiota, eu diria
Pierre Tenório
segunda-feira, 6 de março de 2017
sexta-feira, 3 de março de 2017
Pensar em sempres
sempre me afoga;
Te amo no silêncio das vitórias
como também nos gritos de derrota
Se fico sem a tua companhia
o mar de aquarius é o abrigo
Com você o pequeno é imenso
nas estrelas de vidro que me cercam
Algas de plástico e cometas
imploram-me pra percebê-las
O silêncio de luzes florescentes
simulam o sol quase transparente
Nas ondas de marés não intensas
sou d'água doce como sempre lembras
Sozinho em teu santuário
sou peixe que flutua no aquário.
Pierre Tenório
quinta-feira, 2 de março de 2017
Mais uma vez me perdi do sono após ligar o ar
e ficar esperando o clima esquentar dentro de mim
na lembrança das fotos que tirei e que perdi.
Já é março e daqui a pouco é o seu aniversário
não posso nem comprar nada, mas, sei que és acostumada
a passar esta data, querida, recebendo presentes inúteis
de face a não face, coisas que qualquer sorriso compraria
se existisse.
Finalmente o mar pôde me abraçar e
enquanto passeava pela areia que esfoliava
meus pés grotescos, a maresia corroía os meus cabelos
e a amargura de sentir-se só.
As pessoas riam do meu andar desajeitado, confesso que
senti-me a cada riso, cada vez mais linda e avermelhada
como o arrebol, você precisava ver as marcas das minhas feridas.
Nenhum garoto conseguiu me beijar, perdi a conta de quantos
não distribuí sozinha pelos passeios na pracinha verde,
tenho muitos guardados na bolsa que perdi.
Ouvi muitos discos e uísque enquanto as narrativas abraçavam-me
os ouvidos.
Prestes a lançar o livro estou nervosa e bêbada.
Fui assaltada e estou sem contato físico, preciso pegar umas aulas
para pagar esse meu faz de contas, mandei um currículo em branco
e a meses espero uma ligação que sei que agora não virá.
Tive pesadelos místicos e preciso ficar cada vez mais só.
Olha um fragmento do livro que estou a ler no quarto do hostel
de um casal de amigos, hospedada com a minha graça. rs
Lembrei imediatamente de você;
"De agora em diante eu poderia chamar qualquer coisa
pelo nome que eu inventasse: no quarto seco se podia, pois
qualquer nome serviria, já que nenhum serviria.
Dentro dos sons secos de abóbada tudo podia ser chamado
de qualquer coisa porque qualquer coisa se transmutaria
na mesma mudez vibrante."
Quero que adivinhes de quem é e te mando livro completo,
sei que amarias. Também te envio como brinde um setlist
very special key em um frasquinho de lentes de contato.
Saudade do teu cheiro especial e de quando ficávamos loucas
no quintal da caverna do dragão.
Infelizmente você morreu e perdeu mais um carnaval
com a Rita lee cantando Beatles e agente amando no final
da festa, I wanna hold your hand, bitch, hahaha;
Escrevi um poema embriagado narrando mais ou menos a viagem,
e bebendo um milk shake, mandarei em anexo.
Encerro esta carta ao som de get out of town na voz da Caetana,
quem nem a estraga tanto, mas, sei que você odeia.
Amanhã pegamos estrada e você o quanto tenho medo de percursos,
bobagem, afinal de contas, Deus sempre me perdoa.
Saudades.
anexo em poema:
PERDI TODOS OS MEUS POEMAS
ATÉ OS QUE NÃO ESCREVI
TIVE PESADELOS DE INFÂNCIA
INCLUSIVE A QUE NÃO VIVI
PERDI TODAS AS MINHAS FOTOS
E TAMBÉM OS MEUS AMIGOS
ME PERDI ENTRE O BARULHO
QUE ALGUNS NOMINAM MÚSICA
ME PERDI QUANDO TE PERDI
MAIS UMA VEZ PELOS CAMINHOS
JÁ QUE NÃO ESTAIS NOS SONHOS
VENHA-ME NOS PESADELOS
AINDA BEM QUE AINDA LEMBRO
TEU ENDEREÇO ELETRÔNICO, MÃE
NO ENTANTO, ESTOU AQUI
ME REDESENCONTREI
ENQUANTO ME DISTRAÍ.
tp
enquanto minha glória não for aleluia
também espero que me digas
nãos para sempre e juro que não estarei nem aí pra mim
enquanto canto alguma conversa fora
as mãos
as mães
os nãos
cheios de vazios
que nos completam e confundem por todos os ângulos; formas transparentes
pirâmides
enquadros
molduras de ausencias inflamáveis
que nos matam aos berros diariamente.
peço que suportes meu silêncio quando te agraceço por te amo.
aos gritos
troco discos de trás para frente a espera de um milímetro de obrigado sem certeza.
não me deixe em paz, as pedras que caminhavam pelos jardins se puseram a florir calando o medo de mim mesmo.
não sou grato pelo poema que me inscreveste.
sobrevoo calmamente os escombros de mim mesmo e te contemplo sentado sobre si
na fagulha dos olhares.
confesso: não tenho medo de mim e posso me amar a qualquer momento dentro dos teus precipícios.
me odeie não
Pierre Tenório
sábado, 18 de fevereiro de 2017
POIS NÃO SOU UM HOMEM BOMBA
SE EU NÃO FICAR MILIONÁRIO
PELO MENOS TIRO ONDA
COM A CARA DOS OTÁRIO
O QUE FALO NÃO É LOMBRA
SE ME COLOCAR NO PALCO
SAI DA FRENTE, SE ESCONDA
TÁ PENSANDO QUE EU NÃO PENSO
O QUE É A ESPERANÇA
TU ESPERA QUE ALGUÉM MORRA
PRA PODER FICAR COM HERANÇA
NÃO TÔ NEM AÍ PRA ISSO HOMEM
MESMO QUE EU PASSE FOME
SEMPRE FAREI O QUE GOSTO
EU ESCREVO E TU COME
VAI PRA LONGE
COM ESSE TEU CLIMA PESADO
TU JÁ FOI DESSA QUEBRADA
PEGA TEU MONNEY E SOME
É ASSIM QUE EU NÃO PRESTO
POSSO FICAR COM O RESTO
MAS O QUE NÃO FALTA NÊGO
É A PALAVRA PRO VERSO
SABE ONDE QUERO CHEGAR?
PERTO DOS PÉS DE UM ALTAR
PEGAR O BUQUÊ DE FLÔ
E IR PRO MATO PLANTAR
OLHAR NO CÉU MULTICORES
ME DESPERSONIFICAR
SEGURA AQUI MEU DIÁRIO
E VÊ SE APRENDE A LER OTÁRIO
Pierre Tenório
sexta-feira, 17 de fevereiro de 2017
onde meus ouvidos pediam para descansar, mas, a senhorita
não parava de discutir ininterruptamente com o indivíduo a sua frente,
ele estava indelicadamente vestido de mulher, ''catraia'',
no melhor jeito machista de falar, alegava não ser machista.
ela estava devidamente organizada com um terno branco,
barba de lápis de olho, chapéu, um relógio dourado que provavelmente
seria do avô falecido.
-que horas são, moça? (perguntei-lhe tentando fazer com que eles
esquecessem do que estavam falando. inutilmente.)
-tá parado. (respondeu-me olhando para o braço e coçando os ovos)
ela o agrediu minutos antes de saírem em seus respectivos blocos
de carnaval; ela não permitira que ele saísse em um bloco cujo nome
depreciava o ser feminino.
ele a chamou de puta.
os dois são casados a 13 anos e se conheceram na adolescência,
mas, alegavam não se conhecerem nada a cada dia.
ela chorava de ódio.
ele é a favor do governo temer.
ela o agride por isso.
Quando o delegado chegou, me liberou pelo roubo do chapéu verde que
afirmei ter esquecido de pagar e pedi desculpas e assinei um papel.
parece que terei que limpar os banheiros de uma escola durante seis meses.
no caminho de casa no meio do furdunço, encontro os dois blocos
bêbados de mãos dadas levantadas ao alto quase zombando dos policiais
que os prenderam minutos atrás.
o som da orquestra de frevo e dos batuques de maracatu
quase ofuscava o de suas vocês que gritavam e
cantavam e gritavam freneticamente felizes
-MACHISTAS FEMINISTAS, NÃO PASSARÃO!
-FEMINISTAS MACHISTAS, NÃO PASSARÃO!
não sou rockeiro, mas, carnaval me dá medo. rs
Pierre Tenório
comprei uma briga com o vendedor
que me fez passar vergonha ao correr atrás de mim
ele não percebeu que roubei o chapéu verde
correu atrás de mim
para devolver o caderno de poemas que caiu da minha bolsa
nem tive tempo de piscar os olhos para agradecer
não comprei nada finalmente;
ele deve gostar de coisas verdes.
grilos
o chapéu tem formato de grilo,
eu coloquei na cabeça e enquanto
futucava a bolsa para tirar a
câmera para tirar uma foto o caderno
caiu sem que eu me desse conta
que esse faz de conta não tem preço algum.
o vendedor tirou a foto
eu não pretendia tirar o chapéu
ele foi o único que não me viu sair.
me senti invisível nesse clima carnavalesco
Pierre Tenório
segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017
não queria me desprender do cheiro que há nas mãos
com vista para nada, me deparo com o nada que há na janela
e os meus olhos se fecham, onde estão as cortinas?
a chuva que não, o vento que não vai, o cheiro que não,
ainda estou acordado
cheio de perguntas e não sei sequer escolher um tema.
minha foto favorita está rasgada e eu só te peço para
que voltes, ao menos por dez minutos, ou quatro,
as lembranças me remetem ao quarto
quando vinhas doce e de quatro e ias embora
acho melhor ires embora mesmo, (pro outro quarto)
levando o vento que o tempo em vão, claro que não
sem que eu quisesse deixar, (mastiga um chiclete)
minhas horas favoritas são quando estou despretensioso
quando isso ocorre as águas discorrem sobre tudo além mais
as telas conspiram e as tintas desviam meu medo de tudo
não quero ler o meu nome, nem gosto de ver minha imagem
não que sinta vergonha de mim, mas, é exatamente isso,
creio as palavras não podem ser solfejadas em outro tom que não
seja o presente desembrulhado
meus joelhos se contraem repetidamente em um ritmo dissonante
não seja meu amante.
Pierre Tenório
a lixeira está derramada à sua espera
os lixos já foram jogados dentro de nós
então peço que te acalmes, menina,
nada que não seja belo nos Antônia as narinas, ficamos por conta das causas
os copos também estão vazios à sua espera
danço como bailarina de funk e por
vezes me sinto louca e bêbada fingindo
à sua espera
sempre me deixando levar pelo som
da música que paira, você não me para nem pra dizer oi
enquanto mexo meu corpo de vontades
mesmo enquanto silencio e sobrevoo sua espera
as pessoas falam e eu não retorno a ligação, não é minha culpa
estúpida
não existe culpa, quando o crime é aprazível
eis que as mãos estão vazias
mato os poemas nas mãos enquanto os fatos
não passam de fotos na manhã plena
à sua espera
me desgasto e sobrevivo
não há nada que não nos ache,
então se desespere
Pierre Tenório
sábado, 11 de fevereiro de 2017
as vidraças já não são paisagens, os vizinhos apenas a miragem dos vidros
os retroprojetores já não inalam o que os pulmões gritam sobre meu ego inflamado
estouro os balões da festa, enquanto as ninfas dispersas estouram os mesmos balões
o piano alcança inesperadamente o meu tom, improviso uma conversa despretensiosa
meus ouvidos mais estão atentos a desgraça do que aos semitons de qualquer graça
fujo e volto na mesma hora para que você me sirva um café
sirva me algo, não suporto mais a inercia do acalanto não atento
chora um pouco em cima do esmartifone
sorria para mim então, contarei os dentes e direi que te falta algo
que a compreensão não te permite
por mais que interrogações me interroguem o medo do juízo é mais forte que as amarras do sucesso
a fama e glória me sufocam a ansiedade de não tê-las
devolva os dez centavos que te dou algum agrado da sobra que nunca inalei
grilos cantam na paisagem, e se você lê que me leia no verso das páginas das
calçadas, as palavras me cansam os artigos inúmeros também, e é nas entrelinhas que me engano
totalmente, me envolvem as entrelinhas que me,
sem que tenha braço, sem nada por nada que afaga, onde está a fada do dente
onde estará o duende que dormiu comigo na noite passada e fugiu do medo
de sorrir comigo,
entreaberta janela fechada e sem ferrolhos, desculpa.
não ousar de tantas palavras, apenas que me entendas deveras
por favor, não me entenda.
as lágrimas já estão petrificadas neste nordeste.
um norte
eu poderia ser a qualquer pessoa
que amarias no mesmo vento.
pierre tenório
segunda-feira, 6 de fevereiro de 2017
abraço não se devolve, besta
cartas sim.
devolva também o cd que você pegou emprestado e eu sei que perdeu,
eva nunca vai me perdoar por isso, maurício beijou outro cara no fim de semana
e o namorado dele finalmente com ciúmes, ligou pra mim 13:00 da tarde
dizendo que a ressaca o traz de volta.
ele estava ouvindo justamente um cd igual ao meu
haha achei engraçado ouvir joplin de ressaca
não entendo os ciúmes depois de tanto tempo
acho ciúmes engraçado, talvez belo, ciúmes tem cheiro do amor de deus por nós
por isso deve ser que ele mata todo mundo, não tenho ciúmes dos deuses.
nem dos amigos, desde que foste nunca mais senti nada.
e me questiono e escrevo.
tem uma árvore que dança pra mim toda noite enquanto me bronzeio
a luz da lua e da brisa quente na varanda.
as vezes cerveja, as vezes café, ontem foi vinho.
aí tá quente ou frio? como são as flores? a vegetação, as chuvas.
aqui tá uma guerra, tudo desgovernado, o país inteiro; tô pensando em fugir.
gostei muito das fotos que você mandou na ultima correspondência, vê se treme menos.
me fala sobre a exposição
o que a crítica falou de menos? kk adoro as narrativas
grava a fita do brotolândia pra mim, também a bossa do caetano
gosto daquele jeito k7 que você me olha
eu sempre fico de aparecer né, mas, sinto meus pés fincados aqui
presa em um pentagrama cheio de notas baixas,
também das últimas vezes que me escreveste senti
uma aversãozinha da sua parte, tá me escondendo algo?
ou tá com medo de mim?
não esqueça que sou uma bruxa das palavras
e consigo ver teus olhos de longe;
pensando bem, acho melhor demorar mais um pouco,
preciso cuidar das crianças, depois saio por aí,
talvez apareça... talvez não.
abraço se envolve, como a pista sente os pneus em pleno meio dia
e os ares as asas dos pássaros, o tempo sente falta de um abraço
e o corpo de mais um aniversário.
abraço se envolve como o silêncio dos quilômetros.
como me envolvo com você.
me diz como foi o carnaval, com detalhes poéticos, por favor.
prometo usar a máscara que você deixou
beijos,
Pierre Tenório
sexta-feira, 3 de fevereiro de 2017
como as sombras são
feito assombração
passam por lá, longe
torture
como tartaruga
beija bem na nuca
devagar se move
afaga
puxando os cabelos
arrancando o dedos
rodeando as sagas.
dos versos perdidos
dos copos partidos
corações inteiros
pulsam
procurando tempo
pra viver em paz
sempre e nunca mais.
curta minha foto
que te dou um voto
de castidade
veja nossa idade
já passou o tempo
em que nos prendíamos
a ter liberdade.
fechem os portões.
e gozem-nos nas mãos
Pierre Tenório
quinta-feira, 2 de fevereiro de 2017
sábado, 28 de janeiro de 2017
os filhos dormem pela casa
nuvens de poeira vagam ao telhado
quadros pincelados redecoram tempos
e além disso os porta retratos
lençóis para sempre desforrados
o eco que reverberando os olhos
varre o chão pra poder andar descalço
um passarinho assombra as noites na marquise
e a janela guarda o calor do meu corpo
o café quente não estará pronto
nas manhãs o barulho soa morto
precisei vender as alianças.
Pierre Tenório
domingo, 22 de janeiro de 2017
fico lembrando sorriso e pele
das pinturas quebradas que remetem
o sonho do espreguiçar
juro estranhamente não nos matarem
nos dias de anteontem então
as pessoas não entendem que somos apenas menininhas
e eles querem meter em nós, só um sorrisinho modernista
arranhado na gargante
um sorrisinho
e algum deslize
sem graça, tia
tiaaaa, roubaram as minhas roupas
hahaha e não quero mais me vestir
os poemas não são meus sonhos
(nem os teus)
e as palavras não tão reais
(e agora?)
quanto as músicas que julgo e como
tanto as letras que jogo fora
e mais
penso que as espadas podem nos ferir
mas, meu amor, sempre haverá alguém
para desmentir
e meu sangue se tornará bruto, seu idiota
minto que todas elas
elas as palavras seriam
tão quais vãs lençóis
que te cobrem todas as noites
e toda essa bosta é pra ter rima
e não
e repasso horas programando coisas
tão importantes como quase nunca
mais não.
eu te amo
vai tomar no cu, não lembro mais
dos teus beijos e de todas
as provas que a média, mídia, mesmo a moda
me desconsolidaram
não avancei na escola que andei
meramente merdas, me ensinaram algo
ao passar das horas,comeram e vomitaram
tudo em versos de repúdio
me exilaram pra dentro de mim mesmo, mãe
vou receber um diploma de merda
que me julgará uma merda
e aí? tu és um bom músico?
(enquanto escrevo isso pra ti me sinto uma droga penada
escolhendo as palavras certas pra não te desagradar
tirei todos os retratos do caderno;
não; da agenda
não;
e os versinhos também
dos recreios e pra quê tantos.
também as fotos)
geralmente não tenho escrito pra nada,
e as árvores tem saído dos caminhos
só queria que você me entendesse um pouco e não)
não quero fechar os parenteses)
(sim)
também me sinto lindo
e isso não é uma carta de amor
quero me vocês me ouçam, sem aplausos que mentira.
vejo o dia raiar e mais uma vez na vida penso quantas noites
tu passas acordado pensando em tantas coisas mais importantes do
que seria mais importante pensar em tudo isso que
e mais uma vez me pego e me agarro e me dobro
e papel
pedi pro meu amigo puxar uma carta
e ele me negou
daí eu fiquei em mim mesmo e
em alguém mais
me importo com os sonhos e os vivo.
sonhos que meus olhos não vivem ao mesmo tempo
e em mim em mim, minhas letras cansaram de amar.
não quero saber de escrever
sobre nada que o nada me faça
te ler, teu amor) juro fazer outras coisas e não.
abro parênteses fechados, quando abro de novo
os fecho e
vou comer algo e cantar algo.
me solta um poema
Pierre Tenório
quarta-feira, 18 de janeiro de 2017
decidi te escrever depois que vi um filme pornô ontem
a noite cujo ator principal parecia muitíssimo você.
não sei bem o sentido disso, mas, como você tá, eim?
desculpa não responder suas últimas cartas
faz tempão que não nos vimos né, nem falamos,
ando com tanta coisa pra fazer
uns trabalhos pra concluir, não significa que não sinta saudade
sempre lembro de ti, as vezes talvez
as vezes eu como pastel com caldo de cana lá na senhora
só que agora aumentou um real
insignificante diante da realidade com você distante
tu sempre gosta de comer dois, aí vende caldo de cana com pastel?
revelei aquelas fotos do dia que fomos reais
irreais, sei lá. acho que você sabe qual é, mais fácil não lembrar
os quadros estão devidamente nas paredes da casa inteira
sempre que posso os mudo de lugar para que eles possam respirar
outros ares.
estou pensando em viajar, talvez possa te visitar qualquer dia
ou vice versa versos
queria ser a primeira a ler os teus versos como sempre novamente
pensei que era a primeira a lê-los, só que era você mesmo
manda um poema qualquer dia, acho melhor do que ler teus problemas
com Virginia. (manda em anexo, rs)
sinto saudade da tua risada quando raramente acontece e é de mim,
seu idiota.
quando meu cachê enrolado entrar na conta
envio os objetos que ficaram aqui, pensei em ficar com eles
mas... mais ainda com você, então se foda comigo, haha
tomara que eles quebrem na viagem, qualquer coisa no inverno
chego de supetão
pra aprender a sentir mais saudade de você.
e esqueça o Gullar que ficou na escrivaninha
beijo.
Pierre Tenório
terça-feira, 17 de janeiro de 2017
domingo, 15 de janeiro de 2017
não quero piscina
não quero praia
não quero foto
não quero água
não quero nadar
hoje não vou te ver
nem falo nada
nem me acordo
nem durmo tanto
nem fumo conha
também não interessa
o que tu fazes
nem comes
quem amas
quem fodes
o que dás
não faço
questão alguma
que pagues nada
que vendas tudo
que jogues fora
que vás embora
quero que fiques
só mais um pouco
e me prepare
um bife acebolado
depois me beije
e me observe comer
enquanto se maquia
na frente do espelho
e se pergunta:
Pierre Tenório
do que aceitar convites
as energias são reais, bobo
melhor acreditar nas estrelas
do que em coração poeta
e tudo isso no fundo importa mesmo
quando você olha pro mapa
e viaja.
ontem sonhei
que estava vivendo
no fundo de um mar
com estrelas caídas
carentes de luz.
pisando nas mesmas
palavras
Pierre Tenório
sábado, 14 de janeiro de 2017
segunda-feira, 9 de janeiro de 2017
terça-feira, 3 de janeiro de 2017
me permita mesmo
com todas as falhas
de percurso e falta
de dinheiro
pensar em ti do mesmo
formato cor e cheiro
que olho e te leio
e te escuto
e te vejo
tão distante
dos meus dedos.
me permita que eu olhe para cima
e te veja no azul ou no céu cinza
que nos banha onde quer que estejamos
me permita que eu duvide que te amo
pois se esta é minha falha de percurso
que duvide todo dia na incerteza
de fazer todo dia a mesma escolha
te amar como escrevo nesta folha
e amanhã quando acordar esquecido
te amarei mais ainda do que nunca
em um rosto de algum desconhecido
se permita.
Pierre Tenório
esse teu amor livre me ameaça amedronta amadoramente complica e consome
o esquecimento que a mim consola toda vez que me esqueço
de mentir amor
tu voltas fantasmagórico assolando meu desprezo teu
tuas digitais sujas de merda
minha varinha de condão enfeitiçando teu rabo de cadela
quando tu viças perdido eu te busco na janela aberta do chrome
e travada engulo letra por verso de música lixo
mastigo teu lixo meu castigo
me liberto me divirto enquanto brinco
e me decoro e me recordo
e me isolo
livre do teu amor
livre
me converto ao teu medo
me perverto
relaxa que dois mil e dezesseis não acabou
meu amor
meu temor
Pierre Tenório