quinta-feira, 2 de março de 2017

Amiga,

Mais uma vez me perdi do sono após ligar o ar
e ficar esperando o clima esquentar dentro de mim
na lembrança das fotos que tirei e que perdi.
Já é março e daqui a pouco é o seu aniversário
não posso nem comprar nada, mas, sei que és acostumada
a passar esta data, querida, recebendo presentes inúteis
de face a não face, coisas que qualquer sorriso compraria
se existisse.
Finalmente o mar pôde me abraçar e
enquanto passeava pela areia que esfoliava
meus pés grotescos, a maresia corroía os meus cabelos
e a amargura de sentir-se só.
As pessoas riam do meu andar desajeitado, confesso que
senti-me a cada riso, cada vez mais linda e avermelhada
como o arrebol, você precisava ver as marcas das minhas feridas.
Nenhum garoto conseguiu me beijar, perdi a conta de quantos
não distribuí sozinha pelos passeios na pracinha verde,
tenho muitos guardados na bolsa que perdi.
Ouvi muitos discos e uísque enquanto as narrativas abraçavam-me
os ouvidos.
Prestes a lançar o livro estou nervosa e bêbada.
Fui assaltada e estou sem contato físico, preciso pegar umas aulas
para pagar esse meu faz de contas, mandei um currículo em branco
e a meses espero uma ligação que sei que agora não virá.
Tive pesadelos místicos e preciso ficar cada vez mais só.
Olha um fragmento do livro que estou a ler no quarto do hostel
de um casal de amigos, hospedada com a minha graça. rs
Lembrei imediatamente de você;

"De agora em diante eu poderia chamar qualquer coisa
pelo nome que eu inventasse: no quarto seco se podia, pois
qualquer nome serviria, já que nenhum serviria.
Dentro dos sons secos de abóbada tudo podia ser chamado
de qualquer coisa porque qualquer coisa se transmutaria
na mesma mudez vibrante."

Quero que adivinhes de quem é e te mando livro completo,
sei que amarias. Também te envio como brinde um setlist
very special key em um frasquinho de lentes de contato.
Saudade do teu cheiro especial e de quando ficávamos loucas
no quintal da caverna do dragão.
Infelizmente você morreu e perdeu mais um carnaval
com a Rita lee cantando Beatles e agente amando no final
da festa, I wanna hold your hand, bitch, hahaha;
Escrevi um poema embriagado narrando mais ou menos a viagem,
e bebendo um milk shake, mandarei em anexo.
Encerro esta carta ao som de get out of town na voz da Caetana,
quem nem a estraga tanto, mas, sei que você odeia.
Amanhã pegamos estrada e você o quanto tenho medo de percursos,
bobagem, afinal de contas, Deus sempre me perdoa.

Saudades.


anexo em poema:

PERDI TODOS OS MEUS POEMAS
ATÉ OS QUE NÃO ESCREVI
TIVE PESADELOS DE INFÂNCIA
INCLUSIVE A QUE NÃO VIVI

PERDI TODAS AS MINHAS FOTOS
E TAMBÉM OS MEUS AMIGOS
ME PERDI ENTRE O BARULHO
QUE ALGUNS NOMINAM MÚSICA

ME PERDI QUANDO TE PERDI
MAIS UMA VEZ PELOS CAMINHOS
JÁ QUE NÃO ESTAIS NOS SONHOS
VENHA-ME NOS PESADELOS

AINDA BEM QUE AINDA LEMBRO
TEU ENDEREÇO ELETRÔNICO, MÃE

NO ENTANTO, ESTOU AQUI
ME REDESENCONTREI
ENQUANTO ME DISTRAÍ.

tp





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