sexta-feira, 31 de agosto de 2018

O peixe e o touro

Há poeira
e chuva

Nesta contra
aliança

O peixe se dá na pesca
O touro na dança amansa

O touro vive afogado
O peixe morre na lança.

Eu ainda não sei como terminar este poema

(Pierre Tenório)

terça-feira, 28 de agosto de 2018

POEIRA

longas horas de escuta
os teus olhos desprovidos
rente aos meus desprevenidos
e as demoras foram curtas

vida que parece aquilo
mas, com muita calmaria
há lugar pra bicho grilo
cigarras em cantorias

uma nuvem de fogueira
luz ardendo em nosso corpo
o dia amanhecendo
você partindo de novo

eu bicho besta chorando
pedindo pra tu ficar
tu repetindo meu choro
mentindo que vai voltar.

(Pierre Tenório)

domingo, 26 de agosto de 2018

fez carinho
ao travesseiro

recebeu em troca
beijos

de cinema.

desligou o computador
e dormiu sem pensamentos

nem sonho
nem pesadelo

só poemas.

acordou molhada
e foi trabalhar

serviu as mesas
sem descansar

na mesma hora, exasperada

abriu a porta
de casa

e entregou-se ao mesmo
nada.

a música no pensamento era a única
outra

(Pierre Tenório)

Beija flores
sobre meu colchão
O vazio da rua sem saída
A pedra presa no corpo
de outra pedra
A mão tocando as costas
como Deus a sua obra

Ansia de comer tijolos
um sobre o outro, feito casa
A asa fincada na vértebra
o corpo despido de calma
Meu peso suportando o desprezo
desliza como semente
O  reconhecimento do amor
engolido pela saliva.
Tudo escorre

(Pierre Tenório)

quarta-feira, 15 de agosto de 2018

Amor da gota

disseram que ando triste
à procura dos teus olhos

consigo ver-te em silêncio
lembrando tudo que posso

mas nada me faz feliz
como o olho do teu cu

que mesmo sendo lembrança
hei de levar como herança

teu corpo ao meu corpo nu.

queria bem te escrever algo profundo,
talvez impossível ou criar um mundo;
mas só posso ler teu riso de mim
teus cabelos desbotados da memória

(Pierre Tenório)

Uma saudade que não sei
o poema definitivo  quase escrito
a palavra sem sílabas
a sílaba sem par
a letra desenhada pela mão
perto da ideia do não
sei

O poema termina quando desço
do ônibus e não te encontro
no meus recomeços
mandei cartas em aberto
e quando não esperava mais nada
você não me deu mais
nada

O  poema não termina
como a gente.

(Pierre Tenório)

sábado, 11 de agosto de 2018

Co-putaria

- Qual sua contribuição para esse trabalho?
- Trepar com(o) otário.






                                        
Pierre Tenório

segunda-feira, 6 de agosto de 2018

A verdade é que não gosto que me olhem muito.
Não gosto que me olhem.
Na verdade, eu não gosto quando ficam me olhando.
E sabe qual é a mentira?
Minha verdade fictícia.
Eu não gosto que me olhem, mundo.
Não gosto mundo que me olhem mudo.
Não quero que fiquem me olhando com esses olhos mau olhados.
E nem ousem falar nada, melhor que fure os olhos.
E os abra.
Mas não me leia, pois não sou um poema público.
Não me olhem como se eu fosse surdo.
Estou me odiando e amando o espelho
estou contemplando os meus olhos vermelhos.
Pareço morto, mas
só estou
um tanto absorto.              (Pierre Tenório)

sábado, 4 de agosto de 2018

Risco

Escrevo coração
por cima de coração
E te amei pra sempre
mesmo antes de tocar a caneta
ou apertar o play, é,
eu te amei
Melodias cravadas
pela ventania da tristeza
onde as doces harmonias
inexatas nos constrangem
e dissipam todo medo
dia a dia
Linha por linha do corte
o brilho que nos revestiu
e reveste a não sorte
O silencio escuro
do quadrilátero
o não sentimento de solidão.
Beberei minhas lágrimas
rasuradas.
Tento enfiar a linha
na agulha
o passado não presenteia
corações
não há sangue pelo chão
não tem mais fim
E nas linhas de escrever
teu ar respira em mim.

Escrevo coração
por cima de coração
E te amei pra sempre
mesmo antes de tocar a caneta
ou apertar o play, sim, querido
eu te amei.
Tento enfiar a linha
na agulha, mas, não enxergo
a direção e minhas mãos
não me respondem.
Deito-me em teu leito
e desforro a cama
sujo os lençóis
quebro os cds
rasgo as roupas
aumento o som
bebo a última gota
do que me resta
do meu sangue
uso todo teu perfume;
o passado não presenteia
corações
e terei que arrumar tudo
outra uma vez.

No silêncio obscuro
das nossas tristezas,
sempre estivemos mortos.

Que tua coragem
me abrace.

(Pierre Tenório)