a gente já se chupou
tanto que ela enjoou
do meu gosto do gosto
que tem o meu osso
meu rosto
diria: caroço coração
desgosto
senti quando ela
sentiu
que não sentia mais
o que eu gostava mais
truta, fruta
gruta
tem hora que eu mesmo
a esmo me dou fora
vou embora
sem demora
antes que me engasgue
ou sufoque
perca o foco
afogue as mágoas
antes que haja
meu amor
tá tudo bem
viaja,

pierre tenório

tudo está escrito
no próximo poema
do próximo livro
no próximo rito
do próximo grito
no próximo ao vivo
na próspera vez

nada será lido
nada será dito
nada será mito
tudo ao espírito
beirando o divino
toque ao toque fino
leve tez a tez

pierre

ELEGANTE

ela disse
meu nome
não sei
aonde

meu nome
ao longe
pralguém
distante

dentro
do olho
meu nome
abrange

fora
do corpo
fruta
do conde

quero
que ao fundo
meu nome
cante.

Pierre Tenório

ninguém me espera
no alfabeto
da lista
telefônica, no asfalto
da cidade fria
sou um cacto
afável e miserável
vagando sonâmbulo
sorrindo
incertezas
te procurando
sabendo que não
consigo ser
tocado pelo silêncio
cantarolo algo allegro
dodecafônico
também cafona
cheia de romance
e tua espera, esfera
me desespera
dramática
cuja cênica cínica
nos invade
finalmente penso
em te rasgar
com meu abraço
meu amor.

errei endereço
troquei remetente
rasguei envelope
risquei manuscrito
esqueci poema
escrevi malditos
reaprendi letras
cantarolei discos
mudei telefone
destinei outros nomes
rabisquei desenhos
fiz poses pra foto
configurei livros
desfigurei meu peito
quando olhei nos olhos
você sabia tudo.

pierre tenorio

hemisférios

energias extralunares
ascendem esperançosos
sonhos irreversíveis
cicatrizes desmascaradas
despidas pela frieza
de um corpo nebulosa
nódoa do contratempo
música no espelho negro
arte para não artistas
amor para além humanos
seiva no subterrâneo
escorre como fio de lágrima
desperta o corpo feito planta
que sangra porque está viva
insiste que ainda ama.

pierre tenório

se o chão está sujo
imagina o mundo
que imundo.

saio do banho
a poeira cobre
as cabeças.

lavo os pratos
depois os sujo
sujo a privada.

limpo o meio
do caminho
para poderes

entrar e sair
quando eu quiser
lavo as roupas.

visto e sujo
vou pro banho
nada está limpo.

tento um sal grosso
ervas carnívoras
fio de cabelo
banhos de sóis.

pierre tenório

ao escrever
este poema
me sinto
com 12 anos
quando tua boca
acompanhava
os meus ouvidos
até em casa
falando nada
quando teus olhos
cedo brilhavam
toda manhã
quando me olhavam
não viam nada
lembro das mãos
me emprestando
uma borracha e
eu te apagando
da minha vida
quando mudaram
você de escola
só porque
você me amava.
foi a primeira
vez que soube
o que acontece
quando se ama.

pierre

meu canto
minhas rédeas

vocais

pierre tenório

sobre
viver
de ilusão

com dois
corações
nas mãos.



pierre tenório

meu
coração
pesa
no peito
o peso
se mede
por nossa
distância
e nossa
distância
se beija
sempre
quando
me escreves
e sempre
quando
me escreves
me perco
nos teus
poemas.

eu só
penso em
morrer.

pierre t

teus pés
estalam as
costas
costelas
constelações
giram
nas tuas
mãos nuas
o tapete
flutua
na sala
eu solo
pareço
idiota
nas nuvens

pierre tenório

a bicicleta ultrapassa
os motores com pressa
engarrafados no trânsito
corpos presos nos carros
como em bolsas de sangue

a cidade parada
em puro ar movimento
ninguém está se olhando
o ciclista levita
o pneu está seco

os buracos no piso
chacoalham os nervos

pierre

perdi a noção
de sensibilidade
invoco trovões
penso que sou, aprendo
e desaprendo nem decoro
como fugir das palavras
quando as quero
desaprendi a não ser
qualquer coisa parecida
com o bater do peito
como soletrar depois
de antes de ontem
é mais ou menos
ontem (não seria essa palavra)
"onde os espíritos
se encontram"
e o verbo
não se conjuga.

eu ficaria no abraço
diria: teu



pierre

a lua nova
deixou-me
nostálgica

eclipsando
dentro das
pálpebras

ouvi discos
antigos
de artistas
vivos

os amigos
mortos
falando
do futuro

que há
entre nós.

a noite chega
outra vez
e alguns mortais
pagam o aluguel

às 8 em ponto.

pierre

não sei
se sai

de mim
um sim

não sou
tão seu

aceite
o fim

pierre

eu e minha amiga
comemos um turbilhão
de doces, calorias
venenosas
minha amiga é
uma viagem
parece um doce
uma gota de lágrima
mas, na verdade
ela é atriz
eu choro com ela
passamos o texto
fumamos um fino
e ela dormiu
onde estava
com a pressão baixa
curtindo a brisa
penso que ela sonha
com um par de ovos
dentro de um pão
francês.

"o brigadeiro que queimou
no fundo da panela"

Pierre Tenório

a pedra
sangra

partida
ao meio

são dois
inteiros

as pedras
amam.



pierre tenório

só quero

puxar
teu saco

encher
teu saco

de pancada

secar
teu saco

engolir
tua gala

cuspir
um poema

na tua cara

pierre

pensei que nunca
conseguiria
conquistar um
a cozinha

nunca pensei que
comerias o
teu prato fa
vorito

pincelado por
meus dedos
com amor das
deusas deusos

cozinhar co
mo quem cria

porções chei
as de magia.

Pierre Tenório