sexta-feira, 29 de dezembro de 2017

pia, mermo

Nunca gostei de piadas, nunca tive paciência para premeditar meu riso
também não significa que eu não tenha senso de humor, apenas sou
uma garota sem paciência para ouvir piadas e ter que achar graça;
mas, no meio dessa bobagem toda eu descobri um prazer quase invisível
em narrar piadas, na verdade em escrever piadas, criar e tirar de dentro do meu
útero:
piadas
e ao invés de esperar o riso,
sorrio da ira alheia
do ódio nos olhos
da seriedade súbita
da falta de paciência
por não haver graça em minhas piadas e isso alimenta
a minha vontade de viver
dá até uma dor no peito, um aperto no estomago, uma vontade desgraçada
de rir.
isso me faz bem;
foi a forma que encontrei de me livrar dos piadistas sem coração.
Sempre acharam que eu era uma piada, começando quando eu digo que meu nome é
Cleide, fico observando um esboço de riso dentro dos olhos, pois que sempre
fingi que não percebia, na escola, na rua, nas calçadas,
e na igreja, ainda
queriam vestir minhas roupas e pentear meus cabelos
isso também me fez rir por um bom tempo, hoje não preciso rir
de mais ninguém, pois sou dona do meu corpo, das minhas atitudes e do meu nome;
gosto do riso espontâneo
mesmo que seja de mim mesma
bem distante de mim, eu mesma.
O melhor das piadas sempre serão os entendedores

Pierre Tenório


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