quinta-feira, 29 de dezembro de 2016
para confessar ao mundo
quando silencio me sinto
do fundo ao mais profundo
de algum comporte vazio
a captura de ventos
frios
o primeiro foi nascer e ao nascer
abrir a flor do sorriso mais preciso
sem desaguar uma gota de orvalho
nenhum grito de alerta, ao contrário
até hoje vivo rindo da cara dos outros
para que também possam rir da mesma forma
sem nenhum sentimento de culpa
vivo separando as sílabas
e aprendendo a falar mais calmo
gritar de baixo pra cima
calar de cima pra baixo
assumindo as próprias leis
sendo o próprio capacho.
Pierre Tenório
sábado, 24 de dezembro de 2016
pra mim é fevereiro no natal janeiro
e me perco irremediavelmente
nem percebo o mundo que se cria em meu bucho magro
quase como um filho de merda que renego as vésperas
do vômito beijo
posso carregar o hálito das algumas visceras
pelas estradas do labirinto que me perco idiota
e enfiar teu pau como uma árvore poente
imensidão de luz e friagem
frigidez
coisa mórbida
mas, não cinza
EU QUERO CINZA (isso deveria estar minusculo pq eu não gosto disso)
enquanto isso me perco no arrebol
não, no nascente claro
esqueci
pra fazer escorrer no teu corpo
as larvas de gelo que são
todas as palavras que não dito
digito
digo e ao mesmo tempo...
coagulo num porão de rosas mortas
achadas no lixo
protesto e ocupo
as escolas como e devoro
minha casa forte
porto
sorte
penso que me ensinarias
penso que morreria ao saber que
num longo espaço de tempo amplo
nossas cicatrizes como a terra
germinam
transparentes nordestes
e nada nos cabe
todo mundo dorme
Pierre Tenório
quarta-feira, 14 de dezembro de 2016
terça-feira, 13 de dezembro de 2016
segunda-feira, 12 de dezembro de 2016
os meus amigos
também dos inimigos distantes
ontem perdi meu celular
que estava mais embriagado que eu
não uso what's app
por isso não preciso estar avisando
mas, a saudade deles continua tanto
agora que não posso ligar
é que me ligay que estou um pouco distante
talvez isso seja um poema
talvez não
posso te beijar se você quiser
ser meu inimigo distante
de qualquer sintoma
nós somos o destino
e isso não é um poema triste
queria estar estar deitado sobre
um colchão de vidro
como uma correnteza de livros
fazendo-me sentir vivo
preciso me desligar
Pierre Tenório
sexta-feira, 2 de dezembro de 2016
domingo, 27 de novembro de 2016
terça-feira, 8 de novembro de 2016
sábado, 29 de outubro de 2016
santinho desgraçado
que de santo só tem barro
e tamanho
sonhei durante uma noite
contando para são paulo
todos os meus segredos
dentro d'um confessionário
fiz papel de otário
pensando que seria salvo
da seca
mas, não
sampa não tem coração
desenharei poemas
para ti
com enormes dimensões
e caminhando
sobre eles
com uma cruz
no pescoço
à procura de condenação
chegarei até você
e os direi
sem nada nos olhos
mesmo que o barulho
não o deixe ouvir
e tudo seja em vão
como tudo é;
todos São.
Pierre Tenório
que uma árvore
no centro da cidade
suportando caixas de som
que anunciam falência
não, eu não sou você
não aparento
é que já não escrevo poemas de amor
eles me sufocaram com as duas mãos
apagaram todas as letras do alfarrábio
me vendi por algumas misérias
degustei tantos miseráveis
comprei ereções matinais
esperando
poemas de ódio
artesanal
para declamar teu sorriso de mim
invisível poeta
pop.
Pierre Tenório
domingo, 16 de outubro de 2016
era como ela costumava se comportar
todos dias quando comigo cruzava
pelos corredores, sala de estar
pracinha, banheiro, as horas passavam
e a que eu mais gostava de viver
era o almoço
quando em meio aquela gente toda
meus olhos a procuravam
e as cores eram mais coloridas
quando ela estava no enquadramento
da minha fome
enquanto olhava ao longe fixo
suas pequenas mãos apalpando o garfo
como num passeio de astronave
lentamente aterrizando na boca
mastigando cada pedaço dos dez anos
de vida que tenho a frente dela
ela mastigava vida
eu a comia com os olhos
todos os dias
meu pau pulsava no mesmo ritmo
que o coração parava quando a via
minha deusa, pensei tanto
tanto que escrevi
ela
queria entregar esse poema limpo
e cheiroso
e inútil para ela
mas, não o faria
não perderia jamais
a sensação de não podê-la.
Pierre Tenório
sexta-feira, 14 de outubro de 2016
já não o vejo
apago lembranças
e fico sem nada
cobrar
não chove nos olhos
também já não há
dentro da escrita
algo que esconda
para sempre
ele da minha frente
matei todo mundo de rir
contando piadas sem graça
e sendo horrivelmente sincero
espero uma ligação dizendo: o cachê
tá na conta
corrente elétrica
sistema nervoso
nunca mais escrevi
poemas em cédulas.
a distância é algo feliz
jogo das velhas
rastegues soltas
de mão
em mão.
não há preço que
não se pague
por amores
perdidos.
abre o olho
Pierre Tenório
quarta-feira, 12 de outubro de 2016
públicos e pubianos
navegando pelo sangue
ainda não derramado
permeado entre
a positividade e o convívio
consegui umas aulas particulares
mas, abandonei
antes mesmo do aluno
decidir o que queria
não que eu não esteja errado
há tanta coisa dentro
dos vinte e sete anos
os poemas já são uma droga
quase sem efeito
sei que pareço assustador
há tanto pra ocultar
que desisto
como plantas
silencio.
Pierre Tenório
sexta-feira, 7 de outubro de 2016
nos teus lábios
coisas que você
nunca escreveu
mastigaria tua língua
em vários idiomas
até não entender
mais nada sobre mim
eu seria sim
o guardião dos pesadelos
na tentativa insana
de te tornar eterno
dentro dos meus sonhos
e te livrar da morte
sempre esperando uma pergunta
como forma de resposta.
Pierre Tenório
por onde andará
jorge cabeleira
o cara que um dia
achou que era sansão
pensou que poderia
salvar a própria vida
comendo rock e baião
reino de curto circuito
excesso de poucos intuitos
numa jogada de mestres
sobreviveu um semestre
nem o próprio kurt cobain
esqueceria de morrer, meu bem.
Pierre Tenório
sábado, 24 de setembro de 2016
a memória
esqueci
a quem agradecer
também esqueci quem sou
e o que devo fazer amanhã de manhã
esqueci de alimentar
meu filho
esqueci meu filho na porta de alguém
que tive filho esqueci
que morri quando pari
onde estão as minhas amigas
esqueci de ser gentil
e me desculpar
me culparam por nascer
e se morrer vão me culpar alguém
lembrei que fiquei louco
quando vi a carne
na churrasqueira
e minha boca encheu de fome
amei cada pedaço daquela carne
assada
amei cada pedaço morto
que quase esqueci
que devo.
Pierre Tenório
as pessoas se tornarão
insuportáveis
mas darão um jeito
de remediar
o terror da conveniência
talvez por décadas
de vida inteira
para não terem
que conviver
em paz
um dia ela se foi
levando a força
do meu sorriso
ainda insisti
em conversar com as paredes
cantei uma valsa
pernambucana inspirada
em chico science
usei truques da minha língua
também
da língua portuguesa
eu estava só
sempre acordando
no melhor horário
pra seguir viagem
as malas sempre prontas,
eu nunca.
uma hora ou outra
ninguém precisa ser mais que gentil
na maioria das vezes
tudo parece
se esquecer
desde que ela se foi
nunca mais
dei ouvidos à porta.
Pierre Tenório
sei que estou errada
um pouco distante
engulo palavras
vomito diamantes
brutos como a força
da fragilidade
cega estou de tanto ouvir ver
amo-te tão só
por falar
por vaidade
me embaralho
depois descarto
tarot imaginário
imagina teu futuro
quero ter um filhote
será que somos
matérias primas
onde estão os astromóveis
onde estão
as interrogações
as horas
somos espelhos
disto não estou errada
Pierre Tenório
quinta-feira, 22 de setembro de 2016
escrevo cartas de suicídio
saudando inúteis despedidas
despejo o que parece vivo
no entanto não faz mais sentido
segundos simulam anos
quando nos castram os sonhos
submerso no silêncio
torturo qualquer pensamento
vivo por indas e vindas
alimentando dilemas
assumo o papel de herói
que salva da morte
poemas
tp
sábado, 10 de setembro de 2016
levita por entre sonhos
teu cheiro abraça o casaco
que esqueceste em meu quarto
aquece o frio que sinto
numa frequente distância
a qual meu pau não alcança
teso feito iceberg
derrete-se pelos caminhos
a língua secando lágrimas
que escorrem pelas miragens
dentes mastigam pedaços
de pequenos arrepios
o cu reponta aos risos
solitude vampira
puta deusa bandida
olha no olho profundo
suga-me o sangue infecundo
uiva como o vento
toca tua buceta
com maremotos nos dedos.
Pierre Tenório
sexta-feira, 9 de setembro de 2016
perdendo tempo
fazendo merda
sinto que estou ficando doente
perdido no meio dos poemas e das
manifestações
o mundo num girassol
ecoando raios
despetalando-se
pareci patética
quando me dei conta
que não sei lidar
nem com palavras
nem matemática
raiz quadrada
letras de forma
pensei que pudia
destransformar pedras
música não fica velha,
eu que ando pensando demais
em como engolir frutas podres
colhidas do jardim do éden.
Pierre Tenório
sexta-feira, 2 de setembro de 2016
quinta-feira, 1 de setembro de 2016
reféns de mim elas não tocam a pele
fumei uma bíblia inteira semana passada
e as palavras queimaram como brasa
subi a escadaria da igreja
o sino não ousava falar nada
o eco ressoava nas paredes
e portas e frestas e esperas
ando com medo de andar pelas línguas
escorregar na saliva dos falsos
profetas
dormi esperando o poema
sonhar
ele não sabe a razão do meu medo
de andar
acordei cansado como se tivesse corrido
à procura da feira das vaidades.
Pierre Tenório
domingo, 28 de agosto de 2016
transcendo entre estar
com barba e sem ela
gosto quando o cheiro
penetra profundamente
dentro dos buracos
das minhas narinas
sinto frio quando a corto
o rosto soa delicado
feminino, quase impecável.
nada melhor que uma barba
mal feita ao alcance das mãos
para um cafuné com café,
cerveja em um dia qualquer
com beleza e a leveza
de olhos fechados
pelos apelos
beijos roubados
há uma cicatriz
debaixo da barba
uma lembrança falha
de alguma espada.
Pierre Tenório
domingo, 21 de agosto de 2016
a geração mais infeliz que ouvimos falar
compramos sorrisos em bocas de fumo
a fumaça não alcança a medida das balanças
justiça cansada
o amor saiu correndo pra bem perto
das nossas luvas sem mãos
a tv desligou sozinha
os corações são azuis
vagando por céus acinzentados
palavras continuam bonitas
o natal ainda é em dezembro
produzimos obras de arte
para ilustrar desodorantes
que afagam nossos sovacos
abraços continuam baratos
narizes mais entupidos
o cigarro aumentou de preço
e maconha ainda proibida
plantamos desejos em pedras de gelo
e o telefone descarregou.
mas, pense bem.
colocamos todo nosso ar
em balões multicoloridos
buscando sorrisos gratuitos
em festas de aniversário
num dia qualquer de domingo
compomos músicas surpresas
para ouvidos doloridos
ignoramos boas tardes
enquanto nos perdemos
limpando toda casa.
a vida continua bagunçada
Pierre Tenório
quarta-feira, 17 de agosto de 2016
quinta-feira, 11 de agosto de 2016
parecia cabisbaixa
um pouco feliz em me ver
nunca a vi tão bonita, cada vez que some
ao voltar está mais bonita
embora nunca volte
fria
dizia-se preocupada com o país
cortaram as bolsas da universidade
a casa estava uma bagunça
a casa sempre estava uma bagunça
eu gostava da bagunça
o cheiro dali lembra coisas bonitas
cheiro de incenso
o cheiro dela
alguns desenhos espalhados
modelos vivos
mortos
posei algumas vezes para foto
somente para ela gostar
fingia sempre gostar
todo mundo de humanas se une
pra fazer essa coisa de arte
nos cantos, nos corpos, nos cus
eu gosto de esperar o ônibus
sentindo o cheiro do recife
enquanto a cidade chove
e voltamos para casa
e para de chover
e eu volto pra minha casa
essa é a minha relação com a arquitetura
o cheiro.
fumamos alguns baseados, era o último dia
daquele meu feriado, olhamos o mar fumando o sol
ela disse que vai dividir ap com um povo de cinema
que conheceu ontem e vender brownie e o que der
pelos cantos dos cantos dos cantos
termina o curso em um ano
foi despejada e quer um papel
num filme de baixo orçamento
o tempo parece somente
passar para mim que eu não posso
voltar
a acho uma ótima atriz
embora não consiga mentir direito
aquela loucura convence
amo aquela loucura
de se descobrir descobrir
fiquei na rodoviária
esperando por um bom tempo
bons tempos
onde nunca precisaremos
negar eu te amos
voltei pro interior
do interior
do interior
com fones nos ouvidos.
Pierre Tenório
domingo, 7 de agosto de 2016
perdão, não consigo correr
nos caminhos que fazem te achar
a distância é maior que a grana
que tenho para gastar;
não possuo pernas de atleta
nem ao menos bicicleta.
o amor já entregou as asas
que tinha para doação
tento escrever um poema
que sirva de condução;
mas, ele não suporta o peso
de não poder sentir cheiro.
com balões agarrados as mãos
e tijolos amarrados aos pés
sinto o mundo dar voltas
cavalgando em carrosséis;
na esperança de te rever
ao menos pela tv.
Pierre Tenório
sexta-feira, 5 de agosto de 2016
bem que te kiss;
disseste
kiss me, bem
meu bem, quiseste
reencontrar
dentro do jeito
meu paladar
roubando tempo
para escutar
tudo que importa
você calar
alguma coisa.
olhando ao canto
entra no olho
pra que eu possa
fingir não saber
reagir bem
fazer de você
o único bem
que possa esquecer.
escreverei alguma canção
onde possa te dizer, não.
como alguém que já aprendeu
nunca dar ouvidos aos olhos
melhor rasurar um poema
que nunca será entendido
do que declamá-lo pra sempre
em rodas de tempo perdido;
não hei de rasgar nossos medos
um sentimento que diz tudo
para qualquer ouvinte surdo.
Pierre Tenório
terça-feira, 2 de agosto de 2016
posso ter um piripaque.
Atravessar a rua na hora errada.
Pegar a estrada certa e dar de cara com o equilibrista,
ambos morrendo de medo.
Um policial pode me confundir com um homofóbico
e matar o homofóbico. Tenho medo de policiais, principalmente
homofóbicos.
Alguém pode me matar porque esqueci meu telefone em casa.
Ou porque entreguei meu samsung galaxy 2000.
Alguém pode surtar e sair atirando por aí, decerto eu estaria
no meio da pista.
Tem gente que morre de amor pra dar sem ter a quem, com tanta gente, bicho,
bicha.
Tem gente que morre pelo outro, taí, acho bonito.
Tem gente que não morre por séculos e séculos, amém.
Esse papo de morte parece mórbido, mas, não.
Gente morta-viva me deixa triste.
Só pensei em morte porque estava a pensar em coisas frágeis.
Atiraram em mim pensando que eu era negro, mas, não morri não.
Atiraram na minha fragilidade, mas, a bala pegou de raspão.
Pensei em nunca mais sair de casa.
E o médico me disse que tenho um tumor no cérebro.
Pensei: Tá brincando.
Me fiz um cafuné. Abri um vinho e suspirei profundo
afagando a textura do tecido do braço do sofá,
quase como a um filho.
Assisti a madrugada esperando o último ônibus de volta
para algum lugar.
Liguei pro meu amigo e pedi para ele curtir minha foto.
Abracei a querida cachorra que mora na calçada e está doente
pois quase a mataram também.
Ninguém matou meu amor por amar as coisas sobre todos os deuses.
Doei todas as minhas coisas. As roupas também.
Saí andando nua pela rua e fui detida por atentado.
Nunca pensei que seria terrorista.
Senti frio na alma. Sabe esses clichês de cinema e poesia?
Você olha a paisagem e sente exatamente.
Até hoje ninguém sabe como morri.
Só sei que existem muitas palavras dentro de cada palavra.
Inclusive as que não falamos, eu não diria principalmente.
Faz pouco tempo, mas, parece tanto.
Mesmo distante, parece tão perto.
Que de tão livre, preso.
E de tão preso, verso.
Pierre Tenório
sempre com muito cuidado
pra não encostar os poros
nem sequer olhos nos olhos
todo veneno da pele
que distante/perto dele
é gasto como perfume
numa faca cheia de gumes
na ânsia de perfurar
o medo de conjugar
verbos numa canção
tema de ficção
livres como tatuagem
permanecendo contidos
a contemplar o perigo
na inútil tentativa
de cicatrizar feridas.
Pierre Tenório
para fugires do frio
bordado com a neblina
que afaga as águas dos rios
roubei perfumes em pétalas
de todos os tipos de flores
colori as tuas unhas
com um pouquinho do céu
e dos cometas as cores
cobri a pele da face
com véu de orvalho das árvores
envolta do teu pescoço
pendurei cadentes estrelas
cortei as asas de um pássaro
para em liberdade vê-la
antes vesti tua mão
com alguns anéis de saturno
te penteei os cabelos
com as pontas dos cinco dedos
reciclei alguns segredos
com rimas achadas no lixo
num temporal de silêncios
já que um dia pediste
para que eu fosse livre
e contemplasse a natureza
que há por detrás das cercas;
por fim, confundi teus óculos
com raios caídos do sol
diretamente nos olhos
foi quando então decidi
tornar-me cego, infeliz.
que todo adeus seja belo
Pierre Tenório
segunda-feira, 18 de julho de 2016
toda escrita em números
contabilizando as horas
que perto estive distante
nada que se decifre
nem mesmo sobreviveu
o derradeiro afago
que os dedos nunca tocaram
foi na pelugem das costas
quando me destes as costas
que percebi o quão úteis
podem se tornar os ursos
sem uma gota de álcool
tacaste fogo em meu corpo
vazio de chamas
os ponteiros já não passeiam
nos mesmos lugares de sempre
onde nunca gastamos tempo.
agora estou a escrever
um romance em braile.
tp
quarta-feira, 13 de julho de 2016
deste sentimento
não quero vagar
perdido no vento
que você esqueça
as palavras frias
faladas no dia
que a chuva vestia
nossos corpos ledos
e você mentia
olhando meus medos
enquanto sorria
"bom dia, meu bem"
gravei esse texto
no alarme diário
do meu telefone
pra não esquecer
que o nome culpado
está escondido
pelos calendários
tua voz agora
só diz: vá embora
finjo que não ouço
procuro desculpas
perdidas nos bolsos
das roupas que não
nos despem os olhos
cegos de perdão.
Pierre Tenório
quinta-feira, 7 de julho de 2016
Um cara de pau
estuprou-me a boca
falando por horas
línguas muito loucas
dentro dos ouvidos
gestos indevidos
forçaram meus olhos
a não se abrirem
para o perigo.
Sem entender nada
no meio do escuro
vesti minha roupa
e pulei o muro
valeu a cerveja
da noite inteira
mas, nada no mundo
vai se comparar
ao que não me deixa.
Beijos vazios
só enchem
o saco.
Palavras repletas
de silêncio
e asco.
Pierre Tenório
uma mulher feminista
chata e menstruada
que lava as roupas
da família inteira
e é obrigada a ficar em casa.
amanheci meio trans
meio homofóbica
assassinei alguns poemas
e lancei meu corpo fora
pulei de uma cachoeira vazia
e quebrei a cabeça pensando
em como fugir dessa bosta.
amanheci uma cadela no cio
uma onça no meio da rua
um gorila preso a um bebê
um mendigo que não sabe escrever
amanheci tantas, mas,
não acordei.
Pierre Tenório
sábado, 2 de julho de 2016
ainda está sujo
com a lama da chuva
do dia em que nós
saímos juntinhos
contando as gotas
de orvalho das flores
você agarrado
a minha cintura
com o riso maior
que o clarão do brilho
de todas as luas.
Calcei o sapato
mesmo sem limpá-lo
sujo de alegrias
com você ao lado
e saí sozinho
na noite nublada
matando a saudade
dos olhos de estrelas
a motocicleta
ja está lavada
esperando a hora
da próxima queda.
Pierre Tenório
quarta-feira, 22 de junho de 2016
com você perdido pela vida
tentando encontrar um jeito
de invadir meus braços ao meio
sabendo que não procurar
é a melhor forma de sentir
há tanta coisa pra calar
que só eu posso ouvir;
abraçar o travesseiro
para recordar teu cheiro
e nunca mais ter que tomar
pílulas para sonhar.
Pierre Tenório
escrevi a hashtag
com teu nome pra ver
se te via mais fácil
dando tchau por aí
já que passas correndo
pela porta da minha
residência vazia
pra me desencontrar.
eu estou por aqui
e não quero te ver
olhos nus, sem abraços
só irei simplesmente
digitar para si
alguns versos enquanto
tomo um banho de sol
com um sorriso triste;
recordando a certeza
que você não existe
e irá morrer de frio.
Pierre Tenório
sexta-feira, 17 de junho de 2016
essa noite sonhei
que alguém atirava
de perto em meu sono
tirava minha vida
no meio do sonho
ontem morri
de medo do dia
em que roubariam
de vez os meus dias
apagando as cores
desse arco-íris
que enfeita meu rosto
de pura alegria
ao céu tudo é cinza
no chão tudo tinta
o corpo banhado
de suor vermelho
o lápis de olho
escorrendo ao espelho.
Pierre Tenório
quarta-feira, 8 de junho de 2016
sábado, 4 de junho de 2016
sexta-feira, 3 de junho de 2016
tu não conversa muito
mas, tem palavras negras
na ponta das garras
arranha o disco
e solta o play
tu aprisiona elas as palavras e
lança ao lixo da porta de casa
come comédia no café da manhã
mas, não ris
coleciona figurinhas
em álbuns de colagem e
isso parece suficientemente
engraçado
tu captura risos
e deixa qualquer ser
falando sozinho
tem nome de anjo
e rosto de poema
hoje ouvi tua voz
quando ligaste pra rádio
pedindo aquela música
que eu odeio
tu é o cara que sempre irá trocar
um livro de poesia
pelo jornal do dia
e nunca dirá boa noite
nem que o levem pro açoite
açoite bar
onde te espero nos fins de semana
e mesmo que não percebas
sou eu que entrego as cervejas.
Pierre Tenório
quinta-feira, 2 de junho de 2016
que a trilha sonora da nossa
história em câmeras lentas
nunca fui fotogênico
muito menos bonito
tenho presença de espírito
e sei me sair
sempre me saio
pelos intervalos
das horas erradas
na hora exata
do beijo da morte
sempre, sempre
guardo o desejo
em potinhos de filmes fotográficos
os quais coleciono
dentre retinas e retinas
tenho muitos desejos guardados
alguns até se livraram dos potinhos
fugiram uns com os outros.
a única coisa que não consigo
esquecer, meu bem
é a próxima cena a ser perdida.
Pierre Tenório
esqueço que há mundo e ruas desgovernadas
esqueço as fogueiras durante o dia e
caio no fato da noite fria
onde o verdadeiro fardo
está dentro do quadro pregado
na parede do quarto onde parto
de mim para dentro de mim
estampado um céu no edredom
nuvens me abraçam e repouso
entre a fumaça e os astros e as asas.
Pierre Tenório
quarta-feira, 1 de junho de 2016
as namoradas
que nunca tive
na lista negra
para possível
execução
telefonei
pra cada uma
marcando horários
em diferentes
pontos riscados
do calendário
só para ter
a garantia
que todas elas
corriam risco
de encontrar-me
pelas vielas
fui desarmado
em cada porto
mundo afora
pra novamente
de uma por uma
mandar embora
eu só queria
ter a certeza
que sentariam
à minha mesa.
Pierre Tenório
quinta-feira, 26 de maio de 2016
alguns mililitros
para que teu corpo
se apaixonasse
pelas palmadas
das suas mãos
que nunca ousaram
chegar nem perto
sequer do pouco
que tanto quis
aplaudiu insistente
qualquer gesto silente
quando cruzavas
a praça apressado
de um lado pro outro
sem mesmo sequer
arriscar um piscar
de olhos contra gosto
contou os segundos
durante mil horas
esperando o tempo
levar as memórias
e quando voltaste
as palmas de ouro
das tuas mãos secas
abraçavam as palmas
desnudas de outros
aplausos inúteis
enquanto morrias
de rir pela vida
ela sobrevivia
em portos e partos
e portas e partes
partida em pedaços
de maus caminhos,
carinhos, carinhas,
caixinhas de música
em busca de ouvintes.
Pierre Tenório
folheio o álbum de fotos
tentando extrair teu corpo
vivo embora tão morto;
não quero mais enganar
a vida inteira com imagens
inúteis lembranças colagens;
mantenho-me arbitrário
mas, não poderia deixar
teu aniversário de lado
onde quem sopra as velas
somos nós que ficamos
imaginando cenários
você nos dando bolos
nós com caras de otários.
ausência perpétua de espírito
ano após ano após ano
hoje, o amor da tua vida
vive se desenganando
lança âncoras ao vento
tentando afogar momentos
em nuvens de oxigênio.
eu, amigo imaginário
luto pra espedaçar
e quem sabe te salvar
das paredes deste aquário.
Pierre Tenório
terça-feira, 24 de maio de 2016
Chorei pelas madrugadas
da década de setenta
afagado pelas flautas
pianos e maestrinas
Amarrado pelas cordas
quebrei dedos na viola
pelos bares, pela nua
face redonda da lua
Naquele tempo você
navegaria em meus olhos
morrendo nas minhas canções
Diria eu mesmo pra mim
que te conquistaria
ao som do meu bandolim.
Pierre Tenório
segunda-feira, 23 de maio de 2016
subi a escadaria
de uma torre que
alcança o céu anuviado
onde passeei
triste
meus dedos tocaram a lua
enquanto
por sua garganta
profundamente
flutuei
estrelas me despiram
de mim
o sol me bronzeou
dentro dele
não fiquei com marcas
de biquini
nem usei óculos 3d
saí do cinema com a sensação
que a noite nunca mais
acabaria comigo
de novo
repeti a música dezenas de vezes
pra ver se decorava teus olhos
tudo não passava
de trilha sonora
tu,
um planeta inabitável
de encontro a minha falta
de órbita.
Pierre Tenório
o poema desgraça
não tem força rima
sina farsa
vida não tem raça
negra rubra
desgraçada
sem foto foco
rótulo
só
trapaça beija
rala tato fato
ato
graça
qualquer coisa
vinho
tinto branco lombra
coisas rasas
pedro bombadones
fred luna loca
laça
coisa me abandono
nas palavras
lágrimas
desaguam
a toa
fala sério
vamos todos
morrer
de rir
do nada nada
córrego
devassa
tua lombra.
Pierre Tenório
domingo, 15 de maio de 2016
sexta-feira, 13 de maio de 2016
Pierre Tenório
segunda-feira, 9 de maio de 2016
nada mais havia a ser dito
tentei inúmeras vezes sangrar
as pedras inutilmente
De bruços sobre elas
lhes sugava a alma com desvelo
Mirando ao nada
ninei ao som do vento
todas as almas
que os olhos abrigavam
Sozinho pude ouvir
os zumbidos que
acalentavam os ouvidos
Gritos de socorro
pedidos de namoro
pausas dramáticas musicavam o silêncio
preenchiam o vazio vislumbrante
da minha própria alma avessa.
Pisoteei as flores do caminho
extraindo orvalho para os labirintos
venosos do meu corpo árido
Destilei veneno das nuvens
suor de frutas
Hidratei os cabelos com areia das praias
desertas
Bebi toda água do mar como combustível
para apagar o passado.
apagar.
Procurei novos significados para os medos
e com a brutal força dos arcanjos
pude sorrir dentro de um pesadelo.
Galopei em corcéis de asas cortadas
por estradas sem gravidade.
Procurei um cantinho escuro entre as estrelas
onde pudesse me revelar poeira.
com total autoridade
sobre qualquer sentimento
qualquer.
Pierre Tenório
sexta-feira, 6 de maio de 2016
terça-feira, 26 de abril de 2016
quando desafino
minha alma chora
pálida
resplandece ao nada
quando a nota foge
ecoando ao longe
o corpo aborta
voa cega alma
vagando impávida
crio minha alma
fora do meu corpo
dentro da cabeça
mas, é de mentira
tudo é de mentira
imaginação
meu ouvido dói
quando desafino
ô alma danada
tu és inventada
então cante certo
ou fiques calada
tu aí sentado
pode até tentar
mudar de instrumento
mas, não poderá
trocar uma alma,
mesmo que seja
por outra penada
alma é alguém
que não vai à luta
com múltiplas armas
ou odores letais,
ainda há quem diga
que são imortais
almas usam corpos
e corpos usam almas
de certas pessoas
para ecoar gritos
ou talvez niná-las.
quando desafino
morre minha alma
e o corpo nada
dela musicá-la.
Pierre Tenório
domingo, 24 de abril de 2016
resplandece o próprio nada
que o corpo aborta
ecoando
voa cega pelas redes
sociais vagando impávida,
quase pálida
escorre aos córregos
nadando rios
completos de peixes
elétricos
a alma perfuma
e perfura
bifurca indecisões
vara
corpos humanos
transpassando tudo
filtrando o insano
anos
anus
passam por frestas
de memórias
acesas
luzes de velas
A alma sobreluta
com armas de múltiplos
odores letais
ainda há quem diga
que almas são imortais.
Pierre Tenório
sábado, 23 de abril de 2016
em meia folha de papel oficio.
Você fez um planeta terra, cheio de água e árvores e flores.
Alice pediu para que desenhasses o mundo, novamente.
Sobrepuseste círculos multicoloridos.
Alice pediu para que desenhasses o mundo bem gigante.
Fizeste de conta que a folha era inteira.
Alice silenciou por alguns minutos e indagou: Desenha o mundo!?
Deixaste a folha em branco.
Ela então ordenou: Desenha a porra do mundo.
Você desenhou uma bola de futebol
e disse: O mundo não é o país das maravilhas, Alice.
Lembrei dos brasileiros,
tão livres,
enquanto presos.
Ainda assim, Alice persiste em desbravar os mundos.
Pierre Tenório
sexta-feira, 15 de abril de 2016
como és minha
pouco contato
tanta entrelinha
atento ao tempo
que de repente
muda os rumos
subitamente;
te tenho quase inteira
embora nunca me queiras
tu, me tens no agora
mantendo sempre por fora
mesmo quando partes
o cheiro demora
pois és prisioneira
da minha memória
vive em liberdade
porque está morta
eu, por fim à espera
vivo abrindo portas
e também janelas
minha alma cega
o vento venera.
Pierre Tenório
quarta-feira, 6 de abril de 2016
Ela faz sexo por baseado
dinheiro, lanche
ou qualquer olhado
dá um trago e olha de lado
como quem não quer nada
me deixa molhado
mesmo quando ela brinca
de pintar
seus papéis só quebram
do lápis as pontas
para ter pretexto de não instigar
nosso lance é mesmo um grande
faz de conta.
Olho sua página no facebook
esperando post com o próximo look
ou alguma indiretinha pra mim
-isso é antiquado meu bem: ela diz.
-Quero conversar sobre revolução
ir morar no mato
te pegar na mão
contemplar estrelas
ouvir um vinil
clarear o dia falando besteira
Conta para mim que signo tu és
posso ser teu mapa
da cabeça aos pés
tua ascendente
teu inferno astral
leve ou selvagem
como um animal.
Eu que só que queria
me aproveitar
da facilidade
do teu blá, blá, blá
agora estou mísero apaixonado
e tudo quero é ficar do teu lado
arrisquei até te escrever um poema;
-tá mais para funk, amor, sem problema.
Creio que todo mundo já percebeu,
na verdade o fácil da história fui eu.
Pierre Tenório
Os olhos da deusa
tudo mais
tu vai com o tempo
o tempo.
Que não passamos, tudo abstrai
se esvai e te traz à mim.
Cólera em taças de plástico
bonecos infláveis
tamancos desgastos
os astros te trazem aqui.
Saber o que cê vai fazer sem mim
me mata de tanto sorrir por dentro.
Só quero um pouquinho de você completo
no verso e esconda onde todo mundo vê
pretendo mudar pra bem longe daqui
espero mudar pra melhor
Me deixe em transe me faça um péssimo ator
me chupe os lábios venenosos
Destilo o sangue
no copo no olho
nas águas de marte
a vida da morte
o cão dos infernos
o deus da serpente
a lua de ouro
massagem nos pés
Os olhos da deusa encantam
os olhos da deusa
os olhos da deusa encantam
os lábios, os lados, os fatos
o sangue no cálice.
''afasta de mim...''
Pierre Tenório
Água
você não estava lá
já morrendo de ressaca, pensei
preciso de muita água
a minha cabeça dói
não lembro de quase nada
não sei se falei
alguma coisa que distrai
para onde foi o meu amor
ai, como dói minha cabeça
onde estará meu celular?
leio o bilhete sobre a mesa:
- me esqueça.
Pierre Tenório
terça-feira, 5 de abril de 2016
quarta-feira, 30 de março de 2016
segunda-feira, 28 de março de 2016
terça-feira, 22 de março de 2016
Vivo morrendo
de rir das coisas
ao meu redor
Morro vivendo
chorando tudo
que há de pior
Melhor seria
que me bastasse
apenas ser
Só que nem tudo
é bem do jeito
que a gente quer.
larvas de vulcão escorrem
dos meus dedos todo tempo
e no silêncio me contenho
e me contento no silêncio
a alma queima congelada
sou um deserto quase frio
cheio de cores
e miragens
parece impossível me tocar
corro parado
e guardo certezas
nas profundezas
das minhas dúvidas
desculpa se preciso ficar sozinho
é que aprendi a amar dessa forma
também aprendi a jogar
amores fora.
Pierre Tenório
segunda-feira, 14 de março de 2016
segunda-feira, 7 de março de 2016
no lixo denso das sabedorias
nos vasos que há dentro dos corpos
nos pratos que não mato a fome
parece bobagem (ou frescura)
mas, por mais vazio que sinta
meus versos são calejados
e somente posso sentir
d'um jeito bem semelhante
ao que todo mundo sente
meus versos são para as folhas
das árvores, baleias, astronaves
para qualquer olho cego, morto-vivo
ou talvez para os amigos
dos amigos
ninguém mais
meus versos são para o meu ex namorado
e também para o seu
passado e futuro, nunca presentes
não, não são presentes
pálidos
os poemas são fatos ou fotos,
fitas de vídeo e cetim
vícios, viço
jogo poemas fora
mas, não me atreveria
jogar um papel de bala
desarmado na calçada.
tenório, pierre
quarta-feira, 2 de março de 2016
Observe sempre
pequenos detalhes
mas, nunca se prenda
aos grandes olhos
de qualquer pessoa
faça um negócio
quebre os espelhos
por toda casa
retire os óculos
vista a cegueira dos animais
siga instintos elementais
seja a poeira
das folhas brancas
desequilibre-se
rente aos tremores
mergulhe fundo
em erupções
não precisa sorrir na foto
para gargalhar do outro
pode esquecer essa história
daquele que ri por último.
Pierre Tenório
quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016
pousando em nossas macaxeiras
com manteiga derretida sobre
nós dançando agarrados
a nós mesmos
numa dança
de algum jantar
em plena guerra
espera
não lanço sorrisos
pegue a mão dos meus olhos
e siga sempre pra onde
não quiseres
contra dance
contra eu
faça-me o favor
de pisar meu pé
sobrevoando as lógicas
das nossas semióticas.
Pierre Tenório
quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016
não
eu não quero morrer agora,
preciso sentir o cheiro da noite
e da privada
sentir o beijo das almas
e o corte das pálpebras
eu não quero morrer
porque não me permito
desaparecer pelos buracos
brancos do esquecimento
não, eu não quero morrer
ainda preciso abraçar o vento
concreto e não
real.
Pierre Tenório
quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016
Arrumei as malas
simulando fuga
naveguei parado
por terras de nunca
Conheci paisagens
as quais desprezei
dei misericórdia
descumpri as leis
Na imensidão do teu corpo
ousei ser tripulante
por lá fiz de tudo um pouco
só não pude ser amante
Me perdi nas próprias palavras
inclusive as que calei
Queimo todos os castelos
onde não posso ser rei.
Pierre Tenório
sábado, 30 de janeiro de 2016
pareces impenetrável,
véu de viúva negra
cobrindo o rosto pálido.
escrevi um péssimo livro
ninguém ousaria tocá-lo
algo menos que a primavera
de uma pétala em branco.
o que sobrou da resma:
sangue em palavras de pedra
descongelando triunfos,
água escorrendo por terras.
nada mais é
que lápis de olho borrado
de alguém que pinta alfarrábios.
Pierre Tenório
quarta-feira, 27 de janeiro de 2016
vestiu-se de abutre
pra voar ao longe
do meu corpo humano
sempre circulando
sobre.
e nunca mais cantar
para os meus ouvidos
poemas desconhecidos
podres.
e nunca mais tentar
sufocar meu ar
de cara subversivo
nobre.
e nunca mais despir
o que lhe vestiu
e reveste
pobre.
a única coisa que ele queria
era cravar suas garras
e me agarrar
forte.
Pierre Tenório
sábado, 23 de janeiro de 2016
na fogueira do meio dia após dia,
criam elas ouvidos e faces e berros e labirintos
inquietos como uma boca mastiga papeis em algures,
pessoas passam despercebidas por trás de lentes sem contato,
armadas com agulhas nas mãos prontas para entrelaçar
os tecidos de pele crua, fotografias queimadas, alma fria, única
inconsequente a barra do vestido toca partículas de pensamentos
que sustentam o chão sob passos de ballet saltitantes em fuga,
de poça em poça vazia os pés são lavados nas águas das chuvas de nunca.
o céu branco inspira pintores apenas, na aurora os poetas despem suas almas
e sacam suas canetas para matar seres já mortos
e nada mais importa, tudo está embrigado de sangue pelas calçadas
enquanto a seca paira e o fogo se espalha.
Pierre Tenório
domingo, 17 de janeiro de 2016
peguei o baseado com a mão esquerda
com cuidado para não queimar o banco
o direcionei à boca vagarosamente
tão lento como uma tela em branco
sugando-lhe toda fumaça
que fui capaz, foi quando
em súbito desejo, meus lábios
trêmulos tocaram os teus.
como quem sopra uma ferida
te presenteei o ar
que abrigava-me os pulmões
minha nuvem carregada de fumaça
tua língua contraindo as emoções
e com os olhos bem fechados
tudo em câmera lenta
tomamos banho de chuva.
Pierre Tenório
as pessoas nascem para perder as outras
mesmo quando ganham na loteria
borboletas como prêmio
tenho bilhetes escritos, mas, não a sorte de perdê-los
ao cruzar estradas descalço
contemplo a cor dos olhos que roubam
a força das nuvens escuras
tudo, nada ou qualquer coisa fará mudar a cor da fachada
o perfume sempre será indiscreto por trás da orelha
chove água quente por aqui, o rosto se desmancha
sentado à sombra das árvores que encontro
pelas margens dos mesmos rios
tampouco importa se estão cheios ou vazios
ou apenas compotas de pequenas ou longas histórias de natal
carnaval ou qualquer data comemorativa
em que gosto de fugir das festas em família
busco um ou mais sentidos para começar a falar
qualquer coisa que faça o tempo parar.
Pierre Tenório
quarta-feira, 13 de janeiro de 2016
sábado, 9 de janeiro de 2016
da noite
que a gente vai
e se encontra
um suposto apaixonado
arrancou a minha mão
para poder afagar
o próprio rosto insone
sem qualquer permissão
a leu como vidente
durante dias insistente
mas não conseguiu escrever
palavra alguma
enfiou anéis entre os dedos
guardando e revelando segredos
depois ele retirou todos
graças à deusa
se masturbou por horas
esquecendo o quanto
tudo se demora
na indevida calma
hora sobre hora
não obteve gozo
faltava-lhe algum corpo
vivo-morto
pra poder repousar
durante alguns segundos
enquanto o olho direito
ainda piscava
por fim então devolveu-me
já que nenhuma serventia
aquela mão o tinha
obtinha
órbitas
óbito.
eu fiquei olhando aquilo
sobre as minhas mãos
depois joguei ela fora
para que todos os porcos
pudessem sem tocar.
Pierre Tenório
quinta-feira, 7 de janeiro de 2016
desmancho-me completo
furo meus dedos com agulhas sem pontas
desfio os cabelos do corpo inteiro;
escrevi uma frase numa linha de costura
em letras bem pequenas para que ninguém
pudesse ler
até o fim das voltas sem pontuação
pra esconder os pontos fracos e amarrar os fortes
em nós
a costura fazia com que aos poucos se soltassem
presas num acabamento que quando vestidas ao corpo
gritassem morrendo aos poucos
desbotadas ao longo do tempo
despidas as palavras são véus para
máquinas de casamentos
fico com os retalhos
costurados à mão
entre a indecisão do sim ou.
Pierre Tenório
segunda-feira, 4 de janeiro de 2016
morta do meu jardim
já estava criando rugas
e mergulhado entre as dunas
de tantas transformações
pude compreender
que por mais maquiagem
que possamos usar
o pó que estava vencido
por dias, meses na estante
torna-te o rosto mais leve
quase 'aquilo que és'
livre dos meus retoques
poros de diamante
incandescentes pela
divina transparência
meus átomos, tua essência
me enriquecia os dedos
mesmo em planos distantes
de coerência;
submerso em vasto brilho
pude contemplar o mar
quando uma de suas ondas
levou-me embora de volta
pra cerca do meu vergel
surgindo de todo nada
uma sereia com asas
do escuro estrelar do céu
tentou convencer por tudo
que embaixo de qualquer água
até grandes sinfonias
tocam silenciadas.
Pierre Tenório
sexta-feira, 1 de janeiro de 2016
de fim para recomeço
passei tão despercebido
por uma dessas favelas
aquela favela
daquelas favelas amigas
sem labirintos foi onde
tive o grande prazer
de reencontrar aquele
meu predileto magrinho
e descompassado assassino
de mim e das minhas fraquezas
indiferente com único
sorriso macio navalha
suas mãos cansadas e lindas
e cheias de veias infindas
estradas nas voltas dos dedos
crimes demais que imperfeitos
jogar papeizinhos na rua
era o seu único erro
fico rindo de mim mesmo
que apago todas as bitucas
dentro de um mesmo cinzeiro
as balas transpassam o ego
atire escrevendo meu bem
pregos sob meus martelos.
Pierre Tenório