quinta-feira, 29 de dezembro de 2016

tenho uma série de crimes
para confessar ao mundo

quando silencio me sinto
do fundo ao mais profundo

de algum comporte vazio
a captura de ventos

frios

o primeiro foi nascer e ao nascer
abrir a flor do sorriso mais preciso

sem desaguar uma gota de orvalho
nenhum grito de alerta, ao contrário

até hoje vivo rindo da cara dos outros
para que também possam rir da mesma forma

sem nenhum sentimento de culpa
vivo separando as sílabas

e aprendendo a falar mais calmo

gritar de baixo pra cima
calar de cima pra baixo

assumindo as próprias leis
sendo o próprio capacho.

Pierre Tenório






















sábado, 24 de dezembro de 2016

tão julgado indiferente injusto
pra mim é fevereiro no natal janeiro
e me perco irremediavelmente
nem percebo o mundo que se cria em meu bucho magro
quase como um filho de merda que renego as vésperas
do vômito beijo
posso carregar o hálito das algumas visceras
pelas estradas do labirinto que me perco idiota
e enfiar teu pau como uma árvore poente
imensidão de luz e friagem
frigidez
coisa mórbida
mas, não cinza
EU QUERO CINZA (isso deveria estar minusculo pq eu não gosto disso)
enquanto isso me perco no arrebol
não, no nascente claro
esqueci
pra fazer escorrer no teu corpo
as larvas de gelo que são
todas as palavras que não dito
digito
digo e ao mesmo tempo...
coagulo num porão de rosas mortas
achadas no lixo
protesto e ocupo
as escolas como e devoro
minha casa forte
porto
sorte
penso que me ensinarias
penso que morreria ao saber que

num longo espaço de tempo amplo
nossas cicatrizes como a terra
germinam
transparentes nordestes
e nada nos cabe
todo mundo dorme

Pierre Tenório

quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

gostaria de medir
a espessura do verbo
desde quando inda preso

gostaria de pesar
a leveza de tais versos
mesmo sem sair ileso

gostaria de afagar
letra por letra dos verbos
como se fossem de carne

gostaria de engolir
parte a parte do verso
ainda que vomitasse.

Pierre Tenório

terça-feira, 13 de dezembro de 2016

telapático

sempre que fecho os olhos
sinto um clarão por dentro

descendo na garganta
como se engolisse

tudo que é retratado
pela inconsciência

de quando abro teus olhos
e vejo a escuridão

estática em processo
de labareda em carvão.

Pierre Tenório

segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

acordei com saudade de todos
os meus amigos
também dos inimigos distantes
ontem perdi meu celular
que estava mais embriagado que eu
não uso what's app
por isso não preciso estar avisando
mas, a saudade deles continua tanto
agora que não posso ligar
é que me ligay que estou um pouco distante
talvez isso seja um poema
talvez não
posso te beijar se você quiser
ser meu inimigo distante
de qualquer sintoma
nós somos o destino
e isso não é um poema triste
queria estar estar deitado sobre
um colchão de vidro
como uma correnteza de livros
fazendo-me sentir vivo
preciso me desligar

Pierre Tenório
27 anos luz

Certa vez
me pediram
em namoro

engoli o riso
prendi o choro

súbito aceitei
com fogo
no rabo

dali em diante
lado
alado
comecei contar
os dias

pra tudo acabar
logo.

Pierre Tenório

sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

bijuteria

fiz um faz de conta
tanto faz, refaço

nada mais adianta
colar os pedaços

deste anel quebrado.

escritos, símbolos, dialetos
tentaram florir desertos

me enterrei sob o próprio enigma

e a chuva veio de táxi
atropelar a miragem.

Pierre Tenório

domingo, 27 de novembro de 2016

mastiguei todos
os teus
poemas, honney
e você ainda
quer
meter no seco?

Pierre Tenório
mas, onde já se viu
um romance baseado
em fatos reais?

Pierre Tenório

terça-feira, 8 de novembro de 2016

PEQUENOS OLHOS

Se for
cegar

que não
me siga

segue
em frente

que eu
te cego

por trás.

Pierre Tenório
confesso que o medo
também é direito
de qualquer esquerda.

Pierre Tenório

sábado, 29 de outubro de 2016

São Paulo mentiu para nós
santinho desgraçado
que de santo só tem barro
e tamanho

sonhei durante uma noite
contando para são paulo
todos os meus segredos
dentro d'um confessionário
fiz papel de otário
pensando que seria salvo
da seca
mas, não
sampa não tem coração

desenharei poemas
para ti
com enormes dimensões
e caminhando
sobre eles
com uma cruz
no pescoço
à procura de condenação
chegarei até você
e os direi
sem nada nos olhos

mesmo que o barulho
não o deixe ouvir

e tudo seja em vão
como tudo é;
todos São.

Pierre Tenório
mais sozinho
que uma árvore
no centro da cidade

suportando caixas de som
que anunciam falência

não, eu não sou você
não aparento
é que já não escrevo poemas de amor

eles me sufocaram com as duas mãos
apagaram todas as letras do alfarrábio

me vendi por algumas misérias
degustei tantos miseráveis

comprei ereções matinais
esperando

poemas de ódio

artesanal

para declamar teu sorriso de mim
invisível poeta
pop.

Pierre Tenório

domingo, 16 de outubro de 2016

distante das minhas retinas
era como ela costumava se comportar
todos dias quando comigo cruzava
pelos corredores, sala de estar
pracinha, banheiro, as horas passavam
e a que eu mais gostava de viver
era o almoço
quando em meio aquela gente toda
meus olhos a procuravam
e as cores eram mais coloridas
quando ela estava no enquadramento
da minha fome
enquanto olhava ao longe fixo
suas pequenas mãos apalpando o garfo
como num passeio de astronave
lentamente aterrizando na boca
mastigando cada pedaço dos dez anos
de vida que tenho a frente dela
ela mastigava vida
eu a comia com os olhos
todos os dias
meu pau pulsava no mesmo ritmo
que o coração parava quando a via
minha deusa, pensei tanto
tanto que escrevi
ela
queria entregar esse poema limpo
e cheiroso
e inútil para ela
mas, não o faria

não perderia jamais
a sensação de não podê-la.


Pierre Tenório




sexta-feira, 14 de outubro de 2016

"qual o preço da tua venda"
já não o vejo
apago lembranças
e fico sem nada
cobrar
não chove nos olhos
também já não há
dentro da escrita
algo que esconda
para sempre
ele da minha frente
matei todo mundo de rir
contando piadas sem graça
e sendo horrivelmente sincero
espero uma ligação dizendo: o cachê
tá na conta
corrente elétrica
sistema nervoso
nunca mais escrevi
poemas em cédulas.
a distância é algo feliz
jogo das velhas
rastegues soltas
de mão
em mão.
não há preço que
não se pague
por amores
perdidos.
abre o olho

Pierre Tenório

quarta-feira, 12 de outubro de 2016

ando ocupando os meus espaços
públicos e pubianos
navegando pelo sangue
ainda não derramado
permeado entre
a positividade e o convívio
consegui umas aulas particulares
mas, abandonei
antes mesmo do aluno
decidir o que queria
não que eu não esteja errado
há tanta coisa dentro
dos vinte e sete anos
os poemas já são uma droga
quase sem efeito
sei que pareço assustador
há tanto pra ocultar
que desisto
como plantas
silencio.

Pierre Tenório


sexta-feira, 7 de outubro de 2016

eu poderia ler
nos teus lábios
coisas que você
nunca escreveu
mastigaria tua língua
em vários idiomas
até não entender
mais nada sobre mim
eu seria sim
o guardião dos pesadelos
na tentativa insana
de te tornar eterno
dentro dos meus sonhos
e te livrar da morte
sempre esperando uma pergunta
como forma de resposta.

Pierre Tenório
POBRE STAR

por onde andará

jorge cabeleira

o cara que um dia
achou que era sansão
pensou que poderia

salvar a própria vida
comendo rock e baião

reino de curto circuito
excesso de poucos intuitos

numa jogada de mestres
sobreviveu um semestre

nem o próprio kurt cobain
esqueceria de morrer, meu bem.

Pierre Tenório

sábado, 24 de setembro de 2016

estou perdendo
a memória
esqueci
a quem agradecer
também esqueci quem sou
e o que devo fazer amanhã de manhã
esqueci de alimentar
meu filho
esqueci meu filho na porta de alguém
que tive filho esqueci
que morri quando pari
onde estão as minhas amigas
esqueci de ser gentil
e me desculpar
me culparam por nascer
e se morrer vão me culpar alguém
lembrei que fiquei louco
quando vi a carne
na churrasqueira
e minha boca encheu de fome
amei cada pedaço daquela carne
assada
amei cada pedaço morto
que quase esqueci
que devo.

Pierre Tenório
na maioria das vezes
as pessoas se tornarão
insuportáveis
mas darão um jeito
de remediar
o terror da conveniência
talvez por décadas
de vida inteira
para não terem
que conviver
em paz
um dia ela se foi
levando a força
do meu sorriso
ainda insisti
em conversar com as paredes
cantei uma valsa
pernambucana inspirada
em chico science
usei truques da minha língua
também
da língua portuguesa
eu estava só
sempre acordando
no melhor horário
pra seguir viagem
as malas sempre prontas,
eu nunca.
uma hora ou outra
ninguém precisa ser mais que gentil
na maioria das vezes
tudo parece
se esquecer
desde que ela se foi
nunca mais
dei ouvidos à porta.

Pierre Tenório
mundo invisível
sei que estou errada
um pouco distante
engulo palavras
vomito diamantes
brutos como a força
da fragilidade
cega estou de tanto ouvir ver
amo-te tão só
por falar
por vaidade
me embaralho
depois descarto
tarot imaginário
imagina teu futuro
quero ter um filhote
será que somos
matérias primas
onde estão os astromóveis
onde estão
as interrogações
as horas
somos espelhos
disto não estou errada

Pierre Tenório
para mim, todos os dias são primaveris
quando acordo e me deparo
com o espelho despetalado
me descabelo
me abro


Pierre Tenório

quinta-feira, 22 de setembro de 2016

DURANTE AULAS

escrevo cartas de suicídio
saudando inúteis despedidas
despejo o que parece vivo
no entanto não faz mais sentido

segundos simulam anos
quando nos castram os sonhos

submerso no silêncio
torturo qualquer pensamento

vivo por indas e vindas
alimentando dilemas
assumo o papel de herói
que salva da morte
poemas

tp

sábado, 10 de setembro de 2016

desertificado meu corpo
levita por entre sonhos
teu cheiro abraça o casaco
que esqueceste em meu quarto
aquece o frio que sinto
numa frequente distância
a qual meu pau não alcança

teso feito iceberg
derrete-se pelos caminhos
a língua secando lágrimas
que escorrem pelas miragens
dentes mastigam pedaços
de pequenos arrepios
o cu reponta aos risos

solitude vampira
puta deusa bandida
olha no olho profundo
suga-me o sangue infecundo
uiva como o vento
toca tua buceta
com maremotos nos dedos.

Pierre Tenório


















sexta-feira, 9 de setembro de 2016

ganhando tempo
perdendo tempo
fazendo merda

sinto que estou ficando doente
perdido no meio dos poemas e das
manifestações

o mundo num girassol
ecoando raios
despetalando-se

pareci patética
quando me dei conta
que não sei lidar

nem com palavras
nem matemática
raiz quadrada
letras de forma

pensei que pudia
destransformar pedras

música não fica velha,
eu que ando pensando demais
em como engolir frutas podres

colhidas do jardim do éden.

Pierre Tenório








sexta-feira, 2 de setembro de 2016

queria ver o mar
o mar não me quer ver
voltar

só pode estar de onda;

mandou um bilhetinho
dentro de uma garrafa.

bebi a água salgada
achando que era cachaça
encontrei um marujo
perdido nos meus olhos

tentando escapar
das águas profundas do mar

o mar só quer me ver
chorar.

Pierre Tenório

quinta-feira, 1 de setembro de 2016

ando com medo das palavras prisioneiras
reféns de mim elas não tocam a pele
fumei uma bíblia inteira semana passada
e as palavras queimaram como brasa
subi a escadaria da igreja
o sino não ousava falar nada
o eco ressoava nas paredes
e portas e frestas e esperas
ando com medo de andar pelas línguas
escorregar na saliva dos falsos
profetas
dormi esperando o poema
sonhar
ele não sabe a razão do meu medo
de andar
acordei cansado como se tivesse corrido
à procura da feira das vaidades.

Pierre Tenório

domingo, 28 de agosto de 2016

Varanda

transcendo entre estar
com barba e sem ela
gosto quando o cheiro
penetra profundamente
dentro dos buracos
das minhas narinas
sinto frio quando a corto
o rosto soa delicado
feminino, quase impecável.

nada melhor que uma barba
mal feita ao alcance das mãos
para um cafuné com café,
cerveja em um dia qualquer
com beleza e a leveza
de olhos fechados
pelos apelos
beijos roubados

há uma cicatriz
debaixo da barba

uma lembrança falha
de alguma espada.

Pierre Tenório

domingo, 21 de agosto de 2016

a geração mais infeliz que ouvimos falar

compramos sorrisos em bocas de fumo
a fumaça não alcança a medida das balanças
justiça cansada
o amor saiu correndo pra bem perto
das nossas luvas sem mãos
a tv desligou sozinha
os corações são azuis
vagando por céus acinzentados
palavras continuam bonitas
o natal ainda é em dezembro
produzimos obras de arte
para ilustrar desodorantes
que afagam nossos sovacos
abraços continuam baratos
narizes mais entupidos
o cigarro aumentou de preço
e maconha ainda proibida
plantamos desejos em pedras de gelo
e o telefone descarregou.

mas, pense bem.
colocamos todo nosso ar
em balões multicoloridos
buscando sorrisos gratuitos
em festas de aniversário
num dia qualquer de domingo
compomos músicas surpresas
para ouvidos doloridos
ignoramos boas tardes
enquanto nos perdemos
limpando toda casa.

a vida continua bagunçada

Pierre Tenório






quarta-feira, 17 de agosto de 2016

a língua passeia além das frases
o coração batuca pelo corpo
cortejos nervosos sem palavras

o verso navega pelo seco

mate dos olhos todo medo
de contemplar escuridões
afogue-se em nuvens negras

o verso navega pelo sangue


Pierre Tenório













quinta-feira, 11 de agosto de 2016

falando dela
parecia cabisbaixa
um pouco feliz em me ver
nunca a vi tão bonita, cada vez que some
ao voltar está mais bonita
embora nunca volte
fria
dizia-se preocupada com o país
cortaram as bolsas da universidade
a casa estava uma bagunça
a casa sempre estava uma bagunça
eu gostava da bagunça
o cheiro dali lembra coisas bonitas
cheiro de incenso
o cheiro dela
alguns desenhos espalhados
modelos vivos
mortos
posei algumas vezes para foto
somente para ela gostar
fingia sempre gostar
todo mundo de humanas se une
pra fazer essa coisa de arte
nos cantos, nos corpos, nos cus
eu gosto de esperar o ônibus
sentindo o cheiro do recife
enquanto a cidade chove
e voltamos para casa
e para de chover
e eu volto pra minha casa
essa é a minha relação com a arquitetura
o cheiro.
fumamos alguns baseados, era o último dia
daquele meu feriado, olhamos o mar fumando o sol
ela disse que vai dividir ap com um povo de cinema
que conheceu ontem e vender brownie e o que der
pelos cantos dos cantos dos cantos
termina o curso em um ano
foi despejada e quer um papel
num filme de baixo orçamento
o tempo parece somente
passar para mim que eu não posso
voltar
a acho uma ótima atriz
embora não consiga mentir direito
aquela loucura convence
amo aquela loucura
de se descobrir descobrir
fiquei na rodoviária
esperando por um bom tempo
bons tempos
onde nunca precisaremos
negar eu te amos
voltei pro interior
do interior
do interior
com fones nos ouvidos.

Pierre Tenório














domingo, 7 de agosto de 2016

SEM FREQUÊNCIA

perdão, não consigo correr
nos caminhos que fazem te achar

a distância é maior que a grana
que tenho para gastar;

não possuo pernas de atleta
nem ao menos bicicleta.

o amor já entregou as asas
que tinha para doação

tento escrever um poema
que sirva de condução;

mas, ele não suporta o peso
de não poder sentir cheiro.

com balões agarrados as mãos
e tijolos amarrados aos pés

sinto o mundo dar voltas
cavalgando em carrosséis;

na esperança de te rever
ao menos pela tv.

Pierre Tenório













sexta-feira, 5 de agosto de 2016

PUPILA

bem que te kiss;
disseste
kiss me, bem
meu bem, quiseste

reencontrar
dentro do jeito
meu paladar
roubando tempo

para escutar
tudo que importa
você calar
alguma coisa.

olhando ao canto
entra no olho
pra que eu possa
fingir não saber

reagir bem
fazer de você
o único bem
que possa esquecer.

escreverei alguma canção
onde possa te dizer, não.

como alguém que já aprendeu
nunca dar ouvidos aos olhos

melhor rasurar um poema
que nunca será entendido

do que declamá-lo pra sempre
em rodas de tempo perdido;

não hei de rasgar nossos medos

um sentimento que diz tudo
para qualquer ouvinte surdo.

Pierre Tenório

terça-feira, 2 de agosto de 2016

Sinto muito se a qualquer hora morro, se não de saudade,
posso ter um piripaque.
Atravessar a rua na hora errada.
Pegar a estrada certa e dar de cara com o equilibrista,
ambos morrendo de medo.
Um policial pode me confundir com um homofóbico
e matar o homofóbico. Tenho medo de policiais, principalmente
homofóbicos.
Alguém pode me matar porque esqueci meu telefone em casa.
Ou porque entreguei meu samsung galaxy 2000.
Alguém pode surtar e sair atirando por aí, decerto eu estaria
no meio da pista.
Tem gente que morre de amor pra dar sem ter a quem, com tanta gente, bicho,
bicha.
Tem gente que morre pelo outro, taí, acho bonito.
Tem gente que não morre por séculos e séculos, amém.
Esse papo de morte parece mórbido, mas, não.
Gente morta-viva me deixa triste.
Só pensei em morte porque estava a pensar em coisas frágeis.
Atiraram em mim pensando que eu era negro, mas, não morri não.
Atiraram na minha fragilidade, mas, a bala pegou de raspão.
Pensei em nunca mais sair de casa.
E o médico me disse que tenho um tumor no cérebro.
Pensei: Tá brincando.
Me fiz um cafuné. Abri um vinho e suspirei profundo
afagando a textura do tecido do braço do sofá,
quase como a um filho.
Assisti a madrugada esperando o último ônibus de volta
para algum lugar.
Liguei pro meu amigo e pedi para ele curtir minha foto.
Abracei a querida cachorra que mora na calçada e está doente
pois quase a mataram também.
Ninguém matou meu amor por amar as coisas sobre todos os deuses.
Doei todas as minhas coisas. As roupas também.
Saí andando nua pela rua e fui detida por atentado.
Nunca pensei que seria terrorista.
Senti frio na alma. Sabe esses clichês de cinema e poesia?
Você olha a paisagem e sente exatamente.
Até hoje ninguém sabe como morri.
Só sei que existem muitas palavras dentro de cada palavra.
Inclusive as que não falamos, eu não diria principalmente.
Faz pouco tempo, mas, parece tanto.
Mesmo distante, parece tão perto.
Que de tão livre, preso.
E de tão preso, verso.

Pierre Tenório








vivem lado a lado
sempre com muito cuidado

pra não encostar os poros
nem sequer olhos nos olhos

todo veneno da pele
que distante/perto dele

é gasto como perfume
numa faca cheia de gumes

na ânsia de perfurar
o medo de conjugar

verbos numa canção
tema de ficção

livres como tatuagem

permanecendo contidos
a contemplar o perigo

na inútil tentativa
de cicatrizar feridas.

Pierre Tenório
te fiz um longo vestido
para fugires do frio
bordado com a neblina
que afaga as águas dos rios

roubei perfumes em pétalas
de todos os tipos de flores
colori as tuas unhas
com um pouquinho do céu
e dos cometas as cores

cobri a pele da face
com véu de orvalho das árvores
envolta do teu pescoço
pendurei cadentes estrelas

cortei as asas de um pássaro
para em liberdade vê-la
antes vesti tua mão
com alguns anéis de saturno
te penteei os cabelos
com as pontas dos cinco dedos

reciclei alguns segredos
com rimas achadas no lixo
num temporal de silêncios

já que um dia pediste
para que eu fosse livre
e contemplasse a natureza
que há por detrás das cercas;

por fim, confundi teus óculos
com raios caídos do sol
diretamente nos olhos

foi quando então decidi
tornar-me cego, infeliz.

que todo adeus seja belo

Pierre Tenório

segunda-feira, 18 de julho de 2016

fiz uma carta imensa
toda escrita em números
contabilizando as horas
que perto estive distante
nada que se decifre
nem mesmo sobreviveu
o derradeiro afago
que os dedos nunca tocaram
foi na pelugem das costas
quando me destes as costas
que percebi o quão úteis
podem se tornar os ursos
sem uma gota de álcool
tacaste fogo em meu corpo

vazio de chamas

os ponteiros já não passeiam
nos mesmos lugares de sempre
onde nunca gastamos tempo.

agora estou a escrever
um romance em braile.

tp

quinta-feira, 14 de julho de 2016

GOURMET

faça o prato
com amor e
ele te come.

Pierre Tenório

quarta-feira, 13 de julho de 2016

joguei fora a culpa
deste sentimento
não quero vagar
perdido no vento
que você esqueça
as palavras frias
faladas no dia
que a chuva vestia
nossos corpos ledos
e você mentia
olhando meus medos
enquanto sorria
"bom dia, meu bem"
gravei esse texto
no alarme diário
do meu telefone
pra não esquecer
que o nome culpado
está escondido
pelos calendários
tua voz agora
só diz: vá embora
finjo que não ouço
procuro desculpas
perdidas nos bolsos
das roupas que não
nos despem os olhos
cegos de perdão.

Pierre Tenório

quinta-feira, 7 de julho de 2016

BAR E BECK

Um cara de pau
estuprou-me a boca
falando por horas
línguas muito loucas
dentro dos ouvidos
gestos indevidos
forçaram meus olhos
a não se abrirem
para o perigo.

Sem entender nada
no meio do escuro
vesti minha roupa
e pulei o muro
valeu a cerveja
da noite inteira
mas, nada no mundo
vai se comparar
ao que não me deixa.

Beijos vazios
só enchem
o saco.

Palavras repletas
de silêncio
e asco.

Pierre Tenório
hoje amanheci mulher
uma mulher feminista
chata e menstruada

que lava as roupas
da família inteira

e é obrigada a ficar em casa.

amanheci meio trans
meio homofóbica

assassinei alguns poemas
e lancei meu corpo fora

pulei de uma cachoeira vazia
e quebrei a cabeça pensando

em como fugir dessa bosta.

amanheci uma cadela no cio
uma onça no meio da rua

um gorila preso a um bebê
um mendigo que não sabe escrever

amanheci tantas, mas,
não acordei.

Pierre Tenório

sábado, 2 de julho de 2016

Meu all star preto
ainda está sujo
com a lama da chuva
do dia em que nós
saímos juntinhos
contando as gotas
de orvalho das flores
você agarrado
a minha cintura
com o riso maior
que o clarão do brilho
de todas as luas.

Calcei o sapato
mesmo sem limpá-lo
sujo de alegrias
com você ao lado
e saí sozinho
na noite nublada
matando a saudade
dos olhos de estrelas
a motocicleta
ja está lavada
esperando a hora
da próxima queda.

Pierre Tenório

quarta-feira, 22 de junho de 2016

difícil é conseguir sono
com você perdido pela vida

tentando encontrar um jeito
de invadir meus braços ao meio

sabendo que não procurar
é a melhor forma de sentir

há tanta coisa pra calar
que só eu posso ouvir;

abraçar o travesseiro
para recordar teu cheiro

e nunca mais ter que tomar
pílulas para sonhar.

Pierre Tenório
SOLAR

escrevi a hashtag
com teu nome pra ver
se te via mais fácil
dando tchau por aí

já que passas correndo
pela porta da minha
residência vazia

pra me desencontrar.

eu estou por aqui
e não quero te ver
olhos nus, sem abraços

só irei simplesmente
digitar para si
alguns versos enquanto

tomo um banho de sol
com um sorriso triste;

recordando a certeza
que você não existe

e irá morrer de frio.

Pierre Tenório

sexta-feira, 17 de junho de 2016

Ressacas

me amo exclusivamente
por isso vivo perdido,
não quero ser exclusivo
só te encontrar por aí
iludido;

faço poemas fofinhos
sempre que falo contigo
penso que você vomita
por nunca encontrar
sentidos.

Pierre Tenório
LUZES APAGADAS

essa noite sonhei
que alguém atirava
de perto em meu sono
tirava minha vida
no meio do sonho
ontem morri
de medo do dia
em que roubariam
de vez os meus dias
apagando as cores
desse arco-íris
que enfeita meu rosto
de pura alegria

ao céu tudo é cinza
no chão tudo tinta

o corpo banhado
de suor vermelho

o lápis de olho
escorrendo ao espelho.

Pierre Tenório

quarta-feira, 8 de junho de 2016

pegue a batuta
como segura
ventos nos dedos
siga no ritmo
despadronize
leia os pontinhos
universivos
reja um sorriso
em toda face
qualquer período
musicalize.

Pierre Tenório


sábado, 4 de junho de 2016

li nos teus olhos
a carta em branco
quando escrevias

enquanto dançávamos
a mão do carteiro
puxava teus olhos

roubava as palavras
que nunca seriam
lidas por mim

dentro dos teus olhos.

Pierre Tenório

sexta-feira, 3 de junho de 2016

CABEÇA DE RÁDIO

tu não conversa muito
mas, tem palavras negras
na ponta das garras

arranha o disco
e solta o play

tu aprisiona elas as palavras e
lança ao lixo da porta de casa

come comédia no café da manhã
mas, não ris

coleciona figurinhas
em álbuns de colagem e
isso parece suficientemente

engraçado

tu captura risos
e deixa qualquer ser
falando sozinho

tem nome de anjo
e rosto de poema

hoje ouvi tua voz
quando ligaste pra rádio
pedindo aquela música

que eu odeio

tu é o cara que sempre irá trocar
um livro de poesia
pelo jornal do dia

e nunca dirá boa noite
nem que o levem pro açoite

açoite bar

onde te espero nos fins de semana
e mesmo que não percebas

sou eu que entrego as cervejas.

Pierre Tenório

























quinta-feira, 2 de junho de 2016

Os filmes terminam primeiro
que a trilha sonora da nossa
história em câmeras lentas

nunca fui fotogênico
muito menos bonito
tenho presença de espírito
e sei me sair

sempre me saio
pelos intervalos
das horas erradas
na hora exata
do beijo da morte

sempre, sempre
guardo o desejo
em potinhos de filmes fotográficos
os quais coleciono
dentre retinas e retinas

tenho muitos desejos guardados
alguns até se livraram dos potinhos
fugiram uns com os outros.

a única coisa que não consigo
esquecer, meu bem
é a próxima cena a ser perdida.



Pierre Tenório



Iluminado entre pedras e plantas e quedas de água
esqueço que há mundo e ruas desgovernadas
esqueço as fogueiras durante o dia e
caio no fato da noite fria
onde o verdadeiro fardo
está dentro do quadro pregado
na parede do quarto onde parto
de mim para dentro de mim
estampado um céu no edredom
nuvens me abraçam e repouso
entre a fumaça e os astros e as asas.

Pierre Tenório

quarta-feira, 1 de junho de 2016

Cataloguei
as namoradas
que nunca tive
na lista negra
para possível
execução

telefonei
pra cada uma
marcando horários
em diferentes
pontos riscados
do calendário

só para ter
a garantia
que todas elas
corriam risco
de encontrar-me
pelas vielas

fui desarmado
em cada porto
mundo afora
pra novamente
de uma por uma
mandar embora

eu só queria
ter a certeza

que sentariam
à minha mesa.

Pierre Tenório

quinta-feira, 26 de maio de 2016

Ela se esforçou
alguns mililitros
para que teu corpo
se apaixonasse
pelas palmadas
das suas mãos
que nunca ousaram
chegar nem perto
sequer do pouco
que tanto quis

aplaudiu insistente
qualquer gesto silente
quando cruzavas
a praça apressado
de um lado pro outro
sem mesmo sequer
arriscar um piscar
de olhos contra gosto

contou os segundos
durante mil horas
esperando o tempo
levar as memórias

e quando voltaste
as palmas de ouro
das tuas mãos secas
abraçavam as palmas
desnudas de outros
aplausos inúteis

enquanto morrias
de rir pela vida
ela sobrevivia
em portos e partos
e portas e partes
partida em pedaços

de maus caminhos,
carinhos, carinhas,
caixinhas de música
em busca de ouvintes.

Pierre Tenório
RELICÁRIO

folheio o álbum de fotos
tentando extrair teu corpo

vivo embora tão morto;

não quero mais enganar
a vida inteira com imagens

inúteis lembranças colagens;

mantenho-me arbitrário
mas, não poderia deixar
teu aniversário de lado

onde quem sopra as velas
somos nós que ficamos

imaginando cenários
você nos dando bolos
nós com caras de otários.

ausência perpétua de espírito
ano após ano após ano

hoje, o amor da tua vida
vive se desenganando

lança âncoras ao vento
tentando afogar momentos

em nuvens de oxigênio.

eu, amigo imaginário
luto pra espedaçar
e quem sabe te salvar

das paredes deste aquário.


Pierre Tenório








terça-feira, 24 de maio de 2016

À Pixinguinha

Chorei pelas madrugadas
da década de setenta
afagado pelas flautas
pianos e maestrinas

Amarrado pelas cordas
quebrei dedos na viola
pelos bares, pela nua
face redonda da lua

Naquele tempo você
navegaria em meus olhos
morrendo nas minhas canções

Diria eu mesmo pra mim
que te conquistaria
ao som do meu bandolim.

Pierre Tenório

segunda-feira, 23 de maio de 2016

a noite me engoliu

subi a escadaria
de uma torre que
alcança o céu anuviado
onde passeei
triste

meus dedos tocaram a lua
enquanto
por sua garganta
profundamente
flutuei

estrelas me despiram
de mim

o sol me bronzeou
dentro dele

não fiquei com marcas
de biquini

nem usei óculos 3d

saí do cinema com a sensação
que a noite nunca mais
acabaria comigo
de novo

repeti a música dezenas de vezes
pra ver se decorava teus olhos

tudo não passava
de trilha sonora

tu,
um planeta inabitável
de encontro a minha falta
de órbita.


Pierre Tenório

mesmo que não
o poema desgraça
não tem força rima
sina farsa
vida não tem raça
negra rubra
desgraçada
sem foto foco
rótulo

trapaça beija
rala tato fato
ato
graça
qualquer coisa
vinho
tinto branco lombra
coisas rasas
pedro bombadones
fred luna loca
laça
coisa me abandono
nas palavras
lágrimas
desaguam
a toa
fala sério
vamos todos
morrer
de rir
do nada nada
córrego
devassa
tua lombra.

Pierre Tenório





domingo, 15 de maio de 2016

razão

do fundo
avisto
imensidões.

Pierre Tenório

sexta-feira, 13 de maio de 2016

disseram que estou velha demais para passar madrugadas inteiras a planejar viver mais um pouco. contemplei a barragem na lama e senti que não mais haveria tempo para vê-la sangrar novamente. segurei uma foto de infância a qual soltava pipa a beira da praia. os meus pés não mais alçariam o mar. nem a pipa ousariam alcançar. estou morrendo de viver onde fronteiras são erguidas a cada rua da minha vila. preciso atravessar os montes para amarrar o corpo as cordas de um violão. antes de segurar a voz e o choro deixo meu suor escorrer pelas estradas do meu rosto. ontem roubaram um pão da mesa da vizinha. colocaram flores de plástico na cabeceira da minha cama e fecharam as cortinas. espero um sopro do vento abrir alguma fresta. as boas novas estão velhas demais para o meu pouco tempo. mesmo que o amor não volte atrás tudo retrocede ao vão dos precipícios. amanhã cantei num restaurante onde as pessoas comiam tudo menos música. ganhei um colete a prova de rosas amarrado a uma camisa de forca. falsifiquei passaportes que me levassem de volta ao futuro. rasguei o título de matéria prima. chutei o balde vazio de água da chuva. subi na cadeira sem pernas e gritei inutilmente.


Pierre Tenório

segunda-feira, 9 de maio de 2016

Fugiam as palavras
nada mais havia a ser dito
tentei inúmeras vezes sangrar
as pedras inutilmente
De bruços sobre elas
lhes sugava a alma com desvelo
Mirando ao nada
ninei ao som do vento
todas as almas
que os olhos abrigavam
Sozinho pude ouvir
os zumbidos que
acalentavam os ouvidos
Gritos de socorro
pedidos de namoro
pausas dramáticas musicavam o silêncio
preenchiam o vazio vislumbrante
da minha própria alma avessa.
Pisoteei as flores do caminho
extraindo orvalho para os labirintos
venosos do meu corpo árido
Destilei veneno das nuvens
suor de frutas
Hidratei os cabelos com areia das praias
desertas
Bebi toda água do mar como combustível
para apagar o passado.
apagar.
Procurei novos significados para os medos
e com a brutal força dos arcanjos
pude sorrir dentro de um pesadelo.
Galopei em corcéis de asas cortadas
por estradas sem gravidade.
Procurei um cantinho escuro entre as estrelas
onde pudesse me revelar poeira.
com total autoridade
sobre qualquer sentimento
qualquer.

Pierre Tenório

sexta-feira, 6 de maio de 2016

num belo dia
morri vestida
de música
escrevi meu nome
nas fotos
para lembrar
que um dia
fui
única
para
alguém
e
voltei
outras
igual
a todas
as outras.

Pierre Tenório
construí uma casa
na árvore
e acabei me tornando
frutífero
agora sobrevivo
distribuindo
nutrientes
e simpatia
como uma frutinha
venenosa

dentro de uma bolha
detergente
tornou-se
o ofício
mais doce
alimentar humanos
e bichos
papões
dividindo o mesmo
planeta.

Pierre Tenório




terça-feira, 26 de abril de 2016

Alma não tem irmã gêmea

quando desafino
minha alma chora
pálida
resplandece ao nada
quando a nota foge
ecoando ao longe
o corpo aborta
voa cega alma
vagando impávida

crio minha alma
fora do meu corpo
dentro da cabeça
mas, é de mentira
tudo é de mentira
imaginação
meu ouvido dói
quando desafino

ô alma danada
tu és inventada
então cante certo
ou fiques calada

tu aí sentado
pode até tentar
mudar de instrumento
mas, não poderá
trocar uma alma,
mesmo que seja
por outra penada

alma é alguém
que não vai à luta
com múltiplas armas
ou odores letais,
ainda há quem diga
que são imortais

almas usam corpos
e corpos usam almas
de certas pessoas
para ecoar gritos
ou talvez niná-las.

quando desafino
morre minha alma
e o corpo nada

dela musicá-la.

Pierre Tenório

domingo, 24 de abril de 2016

A alma pálida
resplandece o próprio nada
que o corpo aborta
ecoando
voa cega pelas redes
sociais vagando impávida,
quase pálida
escorre aos córregos
nadando rios
completos de peixes
elétricos
a alma perfuma
e perfura
bifurca indecisões
vara
corpos humanos
transpassando tudo
filtrando o insano
anos
anus
passam por frestas
de memórias
acesas
luzes de velas

A alma sobreluta
com armas de múltiplos
odores letais

ainda há quem diga
que almas são imortais.

Pierre Tenório

sábado, 23 de abril de 2016

Alice pediu para que desenhasses o mundo
em meia folha de papel oficio.

Você fez um planeta terra, cheio de água e árvores e flores.

Alice pediu para que desenhasses o mundo, novamente.

Sobrepuseste círculos multicoloridos.

Alice pediu para que desenhasses o mundo bem gigante.

Fizeste de conta que a folha era inteira.

Alice silenciou por alguns minutos e indagou: Desenha o mundo!?

Deixaste a folha em branco.

Ela então ordenou: Desenha a porra do mundo.

Você desenhou uma bola de futebol
e disse: O mundo não é o país das maravilhas, Alice.

Lembrei dos brasileiros,
tão livres,
enquanto presos.

Ainda assim, Alice persiste em desbravar os mundos.

Pierre Tenório

sexta-feira, 15 de abril de 2016

quero ser tua
como és minha

pouco contato
tanta entrelinha

atento ao tempo
que de repente

muda os rumos
subitamente;

te tenho quase inteira
embora nunca me queiras

tu, me tens no agora
mantendo sempre por fora

mesmo quando partes
o cheiro demora

pois és prisioneira
da minha memória

vive em liberdade
porque está morta

eu, por fim à espera
vivo abrindo portas

e também janelas
minha alma cega

o vento venera.

Pierre Tenório

quarta-feira, 6 de abril de 2016

GOLPE

Ela faz sexo por baseado
dinheiro, lanche
ou qualquer olhado

dá um trago e olha de lado
como quem não quer nada
me deixa molhado

mesmo quando ela brinca
de pintar
seus papéis só quebram
do lápis as pontas

para ter pretexto de não instigar
nosso lance é mesmo um grande
faz de conta.

Olho sua página no facebook
esperando post com o próximo look

ou alguma indiretinha pra mim
-isso é antiquado meu bem: ela diz.

-Quero conversar sobre revolução
ir morar no mato
te pegar na mão

contemplar estrelas
ouvir um vinil
clarear o dia falando besteira

Conta para mim que signo tu és
posso ser teu mapa
da cabeça aos pés

tua ascendente
teu inferno astral
leve ou selvagem

como um animal.


Eu que só que queria
me aproveitar
da facilidade
do teu blá, blá, blá

agora estou mísero apaixonado
e tudo quero é ficar do teu lado

arrisquei até te escrever um poema;

-tá mais para funk, amor, sem problema.

Creio que todo mundo já percebeu,
na verdade o fácil da história fui eu.

Pierre Tenório






Os olhos da deusa

Peço que vivas mais
tudo mais
tu vai com o tempo
o tempo.

Que não passamos, tudo abstrai
se esvai e te traz à mim.

Cólera em taças de plástico
bonecos infláveis
tamancos desgastos
os astros te trazem aqui.

Saber o que cê vai fazer sem mim
me mata de tanto sorrir por dentro.

Só quero um pouquinho de você completo
no verso e esconda onde todo mundo vê
pretendo mudar pra bem longe daqui
espero mudar pra melhor

Me deixe em transe me faça um péssimo ator
me chupe os lábios venenosos

Destilo o sangue
no copo no olho
nas águas de marte
a vida da morte
o cão dos infernos
o deus da serpente
a lua de ouro
massagem nos pés

Os olhos da deusa encantam
os olhos da deusa
os olhos da deusa encantam
os lábios, os lados, os fatos
o sangue no cálice.

''afasta de mim...''

Pierre Tenório

Água

Acordei na madrugada
você não estava lá
já morrendo de ressaca, pensei

preciso de muita água
a minha cabeça dói
não lembro de quase nada
não sei se falei
alguma coisa que distrai

para onde foi o meu amor
ai, como dói minha cabeça
onde estará meu celular?

leio o bilhete sobre a mesa:
- me esqueça.

Pierre Tenório

terça-feira, 5 de abril de 2016

peço estrelas
como quem clama
um deus sozinho
visto em pedaços
por olhos cegos
todo o céu

completamente
escuridão

dá para ver
embaraçada
forte a luz
que circundando
os meus pedaços
tornam-me um

inteiramente
você e eu

breves adeus.

Pierre Tenório











quarta-feira, 30 de março de 2016

ONZE E MEIA

Me desespero
quando não sinto
as tuas mãos

tateando-me
tatuando-me
torturando

me decifrando.

Te exaspero

perfurando-te
perfumando-te
perpetuando

espero.

minha saliva
te afoga

e tua língua
me penetra.

Pierre Tenório







terça-feira, 29 de março de 2016

A Srª Mente
Mastiga verdades
Durante o sono.

Pierre Tenório

segunda-feira, 28 de março de 2016

me entoja a fala
que persegue inútil
teus lábios mecânicos

-você nem percebe-

não me alumbra mais
aquele perfume

sobre tua pele.

procurei sinônimos
para a dissílaba
palavra nojo

não mais há poema

que exteriorize
todo o meu gosto

pelo sentimento
de discernimento

que guardo no bolso.

Pierre Tenório

terça-feira, 22 de março de 2016

peço que tenhas
muito cuidado

com a minha cena
na sua sina

posso querer
ficar pra sempre

ouvindo a tua
voz de menina;

o puro encanto
do meu veneno

somente mata
quando germina;

te darei tempo.

Pierre Tenório
20 de março de 2016

Vivo morrendo
de rir das coisas
ao meu redor

Morro vivendo
chorando tudo
que há de pior

Melhor seria
que me bastasse
apenas ser

Só que nem tudo
é bem do jeito
que a gente quer.

larvas de vulcão escorrem
dos meus dedos todo tempo
e no silêncio me contenho
e me contento no silêncio

a alma queima congelada
sou um deserto quase frio
cheio de cores
e miragens

parece impossível me tocar

corro parado
e guardo certezas
nas profundezas
das minhas dúvidas

desculpa se preciso ficar sozinho
é que aprendi a amar dessa forma

também aprendi a jogar
amores fora.

Pierre Tenório

segunda-feira, 14 de março de 2016

ALCOÓLICA

Me sinto um mostro
e por enquanto
você não pode
me penetrar,
se não, te mordo
até sua alma
poder voar.

Fiques calado
enquanto o falo
que me amordaça
grita que nunca
serei tua raça.

irei embora
pelas calçadas;

como você,
sou vira-latas.

Pierre Tenório

segunda-feira, 7 de março de 2016

escrevo e jogo poemas fora
no lixo denso das sabedorias
nos vasos que há dentro dos corpos
nos pratos que não mato a fome
parece bobagem (ou frescura)
mas, por mais vazio que sinta
meus versos são calejados
e somente posso sentir
d'um jeito bem semelhante
ao que todo mundo sente
meus versos são para as folhas
das árvores, baleias, astronaves
para qualquer olho cego, morto-vivo
ou talvez para os amigos
dos amigos
ninguém mais
meus versos são para o meu ex namorado
e também para o seu
passado e futuro, nunca presentes
não, não são presentes
pálidos
os poemas são fatos ou fotos,
fitas de vídeo e cetim
vícios, viço
jogo poemas fora
mas, não me atreveria
jogar um papel de bala
desarmado na calçada.

tenório, pierre

quarta-feira, 2 de março de 2016

SORRISO ESBOÇO

Observe sempre
pequenos detalhes
mas, nunca se prenda
aos grandes olhos
de qualquer pessoa

faça um negócio
quebre os espelhos
por toda casa
retire os óculos

vista a cegueira dos animais
siga instintos elementais

seja a poeira
das folhas brancas
desequilibre-se
rente aos tremores
mergulhe fundo
em erupções


não precisa sorrir na foto
para gargalhar do outro
pode esquecer essa história
daquele que ri por último.

Pierre Tenório

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

as moscas passeiam pelas ruas
pousando em nossas macaxeiras
com manteiga derretida sobre
nós dançando agarrados
a nós mesmos
numa dança
de algum jantar
em plena guerra
espera

não lanço sorrisos
pegue a mão dos meus olhos
e siga sempre pra onde
não quiseres

contra dance
contra eu

faça-me o favor
de pisar meu pé

sobrevoando as lógicas
das nossas semióticas.

Pierre Tenório

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

Por mais e mais
e mais palavras
ditas por amor,
o tempo mesmo
é de ódio.
por mais fáceis
palavras não são
frágeis
e nada se igualará
à ira do silêncio.
bobagens da linguagem,
do que ela dá
e tira
e atira.

Pierre Tenório
poema de domingo à tarde

não
eu não quero morrer agora,
preciso sentir o cheiro da noite
e da privada

sentir o beijo das almas
e o corte das pálpebras

eu não quero morrer
porque não me permito
desaparecer pelos buracos
brancos do esquecimento

não, eu não quero morrer
ainda preciso abraçar o vento
concreto e não
real.

Pierre Tenório

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

Súdito

Arrumei as malas
simulando fuga
naveguei parado
por terras de nunca

Conheci paisagens
as quais desprezei
dei misericórdia
descumpri as leis

Na imensidão do teu corpo
ousei ser tripulante
por lá fiz de tudo um pouco
só não pude ser amante

Me perdi nas próprias palavras
inclusive as que calei

Queimo todos os castelos
onde não posso ser rei.

Pierre Tenório

sábado, 30 de janeiro de 2016

AUTORRETRATO

pareces impenetrável,
véu de viúva negra
cobrindo o rosto pálido.

escrevi um péssimo livro
ninguém ousaria tocá-lo
algo menos que a primavera
de uma pétala em branco.

o que sobrou da resma:
sangue em palavras de pedra
descongelando triunfos,
água escorrendo por terras.

nada mais é

que lápis de olho borrado
de alguém que pinta alfarrábios.

Pierre Tenório

quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

CARNIÇA

vestiu-se de abutre
pra voar ao longe
do meu corpo humano

sempre circulando
sobre.

e nunca mais cantar
para os meus ouvidos
poemas desconhecidos

podres.

e nunca mais tentar
sufocar meu ar
de cara subversivo

nobre.

e nunca mais despir
o que lhe vestiu
e reveste

pobre.

a única coisa que ele queria
era cravar suas garras
e me agarrar

forte.

Pierre Tenório

sábado, 23 de janeiro de 2016

transparentes cicatrizes abrigam os ossos de seres queimados
na fogueira do meio dia após dia,
criam elas ouvidos e faces e berros e labirintos
inquietos como uma boca mastiga papeis em algures,
pessoas passam despercebidas por trás de lentes sem contato,
armadas com agulhas nas mãos prontas para entrelaçar
os tecidos de pele crua, fotografias queimadas, alma fria, única
inconsequente a barra do vestido toca partículas de pensamentos
que sustentam o chão sob passos de ballet saltitantes em fuga,
de poça em poça vazia os pés são lavados nas águas das chuvas de nunca.
o céu branco inspira pintores apenas, na aurora os poetas despem suas almas
e sacam suas canetas para matar seres já mortos
e nada mais importa, tudo está embrigado de sangue pelas calçadas
enquanto a seca paira e o fogo se espalha.

Pierre Tenório

domingo, 17 de janeiro de 2016

peruana

peguei o baseado com a mão esquerda
com cuidado para não queimar o banco
o direcionei à boca vagarosamente
tão lento como uma tela em branco
sugando-lhe toda fumaça
que fui capaz, foi quando
em súbito desejo, meus lábios
trêmulos tocaram os teus.

como quem sopra uma ferida
te presenteei o ar
que abrigava-me os pulmões
minha nuvem carregada de fumaça
tua língua contraindo as emoções
e com os olhos bem fechados
tudo em câmera lenta
tomamos banho de chuva.

Pierre Tenório
OUTRAS ALDEIAS

as pessoas nascem para perder as outras
mesmo quando ganham na loteria
borboletas como prêmio
tenho bilhetes escritos, mas, não a sorte de perdê-los
ao cruzar estradas descalço

contemplo a cor dos olhos que roubam
a força das nuvens escuras
tudo, nada ou qualquer coisa fará mudar a cor da fachada
o perfume sempre será indiscreto por trás da orelha
chove água quente por aqui, o rosto se desmancha

sentado à sombra das árvores que encontro
pelas margens dos mesmos rios
tampouco importa se estão cheios ou vazios
ou apenas compotas de pequenas ou longas histórias de natal

carnaval ou qualquer data comemorativa
em que gosto de fugir das festas em família
busco um ou mais sentidos para começar a falar
qualquer coisa que faça o tempo parar.

Pierre Tenório

quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

ÓDIO CRIATIVO

me deixaste;
escrevi um livro
de como cicatrizar corações

mirando tiros.

me amaste;
não fiz mais nada
além de poucas canções

mal acabadas.

Pierre Tenório

sábado, 9 de janeiro de 2016

nos desencontros
da noite
que a gente vai
e se encontra

um suposto apaixonado
arrancou a minha mão

para poder afagar
o próprio rosto insone
sem qualquer permissão

a leu como vidente
durante dias insistente

mas não conseguiu escrever
palavra alguma

enfiou anéis entre os dedos
guardando e revelando segredos

depois ele retirou todos
graças à deusa

se masturbou por horas
esquecendo o quanto
tudo se demora

na indevida calma
hora sobre hora

não obteve gozo
faltava-lhe algum corpo

vivo-morto
pra poder repousar

durante alguns segundos
enquanto o olho direito
ainda piscava

por fim então devolveu-me
já que nenhuma serventia
aquela mão o tinha

obtinha
órbitas
óbito.

eu fiquei olhando aquilo
sobre as minhas mãos

depois joguei ela fora
para que todos os porcos
pudessem sem tocar.

Pierre Tenório

quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

ao ponto que me exponho
desmancho-me completo
furo meus dedos com agulhas sem pontas
desfio os cabelos do corpo inteiro;
escrevi uma frase numa linha de costura
em letras bem pequenas para que ninguém
pudesse ler
até o fim das voltas sem pontuação
pra esconder os pontos fracos e amarrar os fortes
em nós
a costura fazia com que aos poucos se soltassem
presas num acabamento que quando vestidas ao corpo
gritassem morrendo aos poucos
desbotadas ao longo do tempo
despidas as palavras são véus para
máquinas de casamentos
fico com os retalhos
costurados à mão
entre a indecisão do sim ou.

Pierre Tenório

segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

recolhi uma gardênia
morta do meu jardim
já estava criando rugas
e mergulhado entre as dunas
de tantas transformações
pude compreender
que por mais maquiagem
que possamos usar
o pó que estava vencido
por dias, meses na estante
torna-te o rosto mais leve
quase 'aquilo que és'
livre dos meus retoques
poros de diamante
incandescentes pela
divina transparência
meus átomos, tua essência
me enriquecia os dedos
mesmo em planos distantes
de coerência;
submerso em vasto brilho
pude contemplar o mar
quando uma de suas ondas
levou-me embora de volta
pra cerca do meu vergel
surgindo de todo nada
uma sereia com asas
do escuro estrelar do céu
tentou convencer por tudo
que embaixo de qualquer água
até grandes sinfonias
tocam silenciadas.

Pierre Tenório


sexta-feira, 1 de janeiro de 2016

nesses dias tropicais
de fim para recomeço
passei tão despercebido
por uma dessas favelas

aquela favela

daquelas favelas amigas
sem labirintos foi onde
tive o grande prazer
de reencontrar aquele
meu predileto magrinho
e descompassado assassino
de mim e das minhas fraquezas
indiferente com único
sorriso macio navalha

suas mãos cansadas e lindas
e cheias de veias infindas
estradas nas voltas dos dedos
crimes demais que imperfeitos

jogar papeizinhos na rua
era o seu único erro

fico rindo de mim mesmo
que apago todas as bitucas
dentro de um mesmo cinzeiro

as balas transpassam o ego
atire escrevendo meu bem
pregos sob meus martelos.

Pierre Tenório