quinta-feira, 11 de agosto de 2016

falando dela
parecia cabisbaixa
um pouco feliz em me ver
nunca a vi tão bonita, cada vez que some
ao voltar está mais bonita
embora nunca volte
fria
dizia-se preocupada com o país
cortaram as bolsas da universidade
a casa estava uma bagunça
a casa sempre estava uma bagunça
eu gostava da bagunça
o cheiro dali lembra coisas bonitas
cheiro de incenso
o cheiro dela
alguns desenhos espalhados
modelos vivos
mortos
posei algumas vezes para foto
somente para ela gostar
fingia sempre gostar
todo mundo de humanas se une
pra fazer essa coisa de arte
nos cantos, nos corpos, nos cus
eu gosto de esperar o ônibus
sentindo o cheiro do recife
enquanto a cidade chove
e voltamos para casa
e para de chover
e eu volto pra minha casa
essa é a minha relação com a arquitetura
o cheiro.
fumamos alguns baseados, era o último dia
daquele meu feriado, olhamos o mar fumando o sol
ela disse que vai dividir ap com um povo de cinema
que conheceu ontem e vender brownie e o que der
pelos cantos dos cantos dos cantos
termina o curso em um ano
foi despejada e quer um papel
num filme de baixo orçamento
o tempo parece somente
passar para mim que eu não posso
voltar
a acho uma ótima atriz
embora não consiga mentir direito
aquela loucura convence
amo aquela loucura
de se descobrir descobrir
fiquei na rodoviária
esperando por um bom tempo
bons tempos
onde nunca precisaremos
negar eu te amos
voltei pro interior
do interior
do interior
com fones nos ouvidos.

Pierre Tenório














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