terça-feira, 2 de agosto de 2016

Sinto muito se a qualquer hora morro, se não de saudade,
posso ter um piripaque.
Atravessar a rua na hora errada.
Pegar a estrada certa e dar de cara com o equilibrista,
ambos morrendo de medo.
Um policial pode me confundir com um homofóbico
e matar o homofóbico. Tenho medo de policiais, principalmente
homofóbicos.
Alguém pode me matar porque esqueci meu telefone em casa.
Ou porque entreguei meu samsung galaxy 2000.
Alguém pode surtar e sair atirando por aí, decerto eu estaria
no meio da pista.
Tem gente que morre de amor pra dar sem ter a quem, com tanta gente, bicho,
bicha.
Tem gente que morre pelo outro, taí, acho bonito.
Tem gente que não morre por séculos e séculos, amém.
Esse papo de morte parece mórbido, mas, não.
Gente morta-viva me deixa triste.
Só pensei em morte porque estava a pensar em coisas frágeis.
Atiraram em mim pensando que eu era negro, mas, não morri não.
Atiraram na minha fragilidade, mas, a bala pegou de raspão.
Pensei em nunca mais sair de casa.
E o médico me disse que tenho um tumor no cérebro.
Pensei: Tá brincando.
Me fiz um cafuné. Abri um vinho e suspirei profundo
afagando a textura do tecido do braço do sofá,
quase como a um filho.
Assisti a madrugada esperando o último ônibus de volta
para algum lugar.
Liguei pro meu amigo e pedi para ele curtir minha foto.
Abracei a querida cachorra que mora na calçada e está doente
pois quase a mataram também.
Ninguém matou meu amor por amar as coisas sobre todos os deuses.
Doei todas as minhas coisas. As roupas também.
Saí andando nua pela rua e fui detida por atentado.
Nunca pensei que seria terrorista.
Senti frio na alma. Sabe esses clichês de cinema e poesia?
Você olha a paisagem e sente exatamente.
Até hoje ninguém sabe como morri.
Só sei que existem muitas palavras dentro de cada palavra.
Inclusive as que não falamos, eu não diria principalmente.
Faz pouco tempo, mas, parece tanto.
Mesmo distante, parece tão perto.
Que de tão livre, preso.
E de tão preso, verso.

Pierre Tenório








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