distante das minhas retinas 
era como ela costumava se comportar 
todos dias quando comigo cruzava 
pelos corredores, sala de estar 
pracinha, banheiro, as horas passavam
e a que eu mais gostava de viver  
era o almoço
quando em meio aquela gente toda
meus olhos a procuravam
e as cores eram mais coloridas 
quando ela estava no enquadramento
da minha fome 
enquanto olhava ao longe fixo 
suas pequenas mãos apalpando o garfo
como num passeio de astronave 
lentamente aterrizando na boca
mastigando cada pedaço dos dez anos
de vida que tenho a frente dela 
ela mastigava vida
eu a comia com os olhos
todos os dias
meu pau pulsava no mesmo ritmo 
que o coração parava quando a via  
minha deusa, pensei tanto 
tanto que escrevi 
ela  
queria entregar esse poema limpo
e cheiroso 
e inútil para ela
mas, não o faria 
não perderia jamais  
a sensação de não podê-la. 
Pierre Tenório
 
Nenhum comentário:
Postar um comentário