domingo, 16 de outubro de 2016

distante das minhas retinas
era como ela costumava se comportar
todos dias quando comigo cruzava
pelos corredores, sala de estar
pracinha, banheiro, as horas passavam
e a que eu mais gostava de viver
era o almoço
quando em meio aquela gente toda
meus olhos a procuravam
e as cores eram mais coloridas
quando ela estava no enquadramento
da minha fome
enquanto olhava ao longe fixo
suas pequenas mãos apalpando o garfo
como num passeio de astronave
lentamente aterrizando na boca
mastigando cada pedaço dos dez anos
de vida que tenho a frente dela
ela mastigava vida
eu a comia com os olhos
todos os dias
meu pau pulsava no mesmo ritmo
que o coração parava quando a via
minha deusa, pensei tanto
tanto que escrevi
ela
queria entregar esse poema limpo
e cheiroso
e inútil para ela
mas, não o faria

não perderia jamais
a sensação de não podê-la.


Pierre Tenório




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