transparentes cicatrizes abrigam os ossos de seres queimados
na fogueira do meio dia após dia,
criam elas ouvidos e faces e berros e labirintos
inquietos como uma boca mastiga papeis em algures,
pessoas passam despercebidas por trás de lentes sem contato,
armadas com agulhas nas mãos prontas para entrelaçar
os tecidos de pele crua, fotografias queimadas, alma fria, única
inconsequente a barra do vestido toca partículas de pensamentos
que sustentam o chão sob passos de ballet saltitantes em fuga,
de poça em poça vazia os pés são lavados nas águas das chuvas de nunca.
o céu branco inspira pintores apenas, na aurora os poetas despem suas almas
e sacam suas canetas para matar seres já mortos
e nada mais importa, tudo está embrigado de sangue pelas calçadas
enquanto a seca paira e o fogo se espalha.
Pierre Tenório
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