POEMA INTERMINÁVEL
as paredes me convocam 
me convocam 
pareceres
como sempre
engulo 
tudo 
como 
sempre
tudo. 
estão batendo ampulhetas
na nossa 
cara, por favor 
devolve meu carinho
devolve meu cheiro
meu jeito
pode ficar
desculpa, mas não dá 
pra te encontrar 
alguma coisa em mim 
dói muito
quando deito
tantos quantos 
reais 
me mostram a bunda
e eu mostro a bunda pra você
abro todas as janelas e
me faço 
parecer outras pessoas
pra te encontrar em outros 
fernandos,
sua louca
não te leio e quando
fico de pau duro
sempre que você 
pensa em me dar 
boa noite ou
uma dura,
te adoro
te deduro
para dentro;
o meu pensamento
é morte;
sai de perto
espelhos não respondem
os comandos
dos meus nervos
erros 
desmandando
mandos
balançando bandeiras 
pedalando escadas
circulando
de uma hora pra outra
fico doente 
e morro no parto
carente, amo 
em traços de 
tatuagem mal feita 
me deito
deleito
granito.
gratuito,
grão 
de deserto
olho miragens 
tantos
disfarces
permito que algemas
sereias
se afoguem
em algumas 
pérolas.
expulso todos da sala
de estar 
jogos
jantar
lugares 
lugar
quebro taças
vazias de você
acelero 
nos quilômetros
voando com as tuas asas,
rasgo meus diplomas
sugo tua alma,
amor.
peço as deusas 
que me tragam
os teus dedos
numa bandeja
de ovos quebrados.
vou aos médicos
descubro 
doenças de mentira
remédios, chocolates 
psicopatias 
esqueço a lógica,
sou a garota negra
do tempo que passa
meteoros.
totalmente sozinha
como as letras de um jornal
antigo, me proponho
rodar 
caixinha de música
ouvindo vozes 
me dizerem 
se estou boa ou
ruim,
mar 
fim.
recomeço
de enfins 
já não tenho 
paciência
peço que não me escute
nem me leia,
peço que se convença
o ódio é para todos e vai além.
sempre que te leio
nunca te vejo
preciso te ser, dentro.
esses dias presenciei 
alguém bem no meio 
de nós
tão bonito, colorido, rico,
tão legal
tão cinema, ecologia, 
tão sarcástico 
tão horrível
previsível
quanto quem estava obrigatoriamente 
cortando aquela árvore;
não intervenho
vinho 
venha 
poesia;
morro como as coisas morrem 
em alguma hora.
longe mesmo
longe
te distraio e tudo mais
exaustivo 
te perturbo de novo 
e logo
vou com tudo 
repondo as sementes do jardim.
consigo falar do teu sorriso
último
póstumo.
rio
do passado inconsequente
choro do presente. 
penso em me jogar da janela 
do térreo,
me empurram para cima 
e eu subo
caio
sem saber mesmo
onde
no sítio do pica pau
descamado 
visconde.
cortaram mais uma árvore
amarrada naquele poste
imagina
se um coração quebra
eu posto 
e tu compartilha
mesmo que seja ou não
choro e tu nem te ligas pra mim.
o telefone é a única coisa
que não me toca.
recita um poema?
por favor,
preciso ser enganado.
Pierre Tenório
 
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