MIRAR
tenho 25 anos, me sinto com 26;
os anos passam por todos os anos de uma vez,
batendo na minha aorta.
ninguém para pra dizer
que a solidão é insignificante,
estou quase acompanhado
pela nudez dos ouvidos.
um pedaço de pano felpudo veste as noites e dias que passam 
sem nenhuma visita à prazo, com garantias.
faço videos provando o quanto sou viva e talentosa, 
não estou morta viado, só não atendo o telefone.
existe algo pior que só ouvir a própria voz? 
me pego falando ao travesseiro, 
olhando através de alguma janela 
de algum ônibus estacionado.
procuro a cura para os abandonos mal resolvidos, 
miro ao chão sem curvas, 
pobre de mim.
amanheceu e
pulei do décimo quinto andar daquele hospital 
quando disseram que eu 
estava curada.
Pierre Tenório
 
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