quarta-feira, 29 de julho de 2015

Existe um vazio
inexplanável vazio
fora de órbita

e sem gravidade

metáfora nenhuma explica
mas, posso tentar como ninguém;
é como se eu não ligasse

mais para você

e tentasse de tudo
nadar para o fundo
das mentiras do mundo

e quisesse sem paz
que as estrelas caíssem
sobre nossos pés

como déjà vu.
uma fechadura
no olho do cu

abre toda aorta
mas, não existe máscara
e os portões trancados

a chave antiga
única que abria
pra sempre perdida.

agora, querida;
você dá corda na caixinha
e a bailarina rodopia.

Pierre Tenório

segunda-feira, 27 de julho de 2015

DO SER A LEVEZA

Pinceladas de tinta em bolas de sorvete brancas
Tempestades nos goles de cervejas frias
Vassoura no chão do corredor com papéis coloridos
Paisagens sonoras aos arredores do sítio
Trechos de um documentário bom para o espírito
Abrir livros de poemas e navegar estórias
Ouvir lendas d’outros mundos ao dobrar as linhas
Rir dos tempos que nunca mais serão perdidos
Fingir que está triste pra passar o medo
Dar muitos e muitos beijos sem permissão
Sorrir sem vergonha do dente que está quebrado
Fumar baseados alegando largar os cigarros
Fechar portas e abrir janelas desertas
Soltar pássaros presos em qualquer gaiola
Chorar pela árvore cortada na calçada
Nascer criança todos os santos dias
Permanecer criança mesmo nos dias ruins
Estar sempre atento (a)os ventos.

Pierre Tenório

quinta-feira, 23 de julho de 2015

GOTAS DO TELHADO

Numa cela com oito homens
sonhei sendo estuprada
estava naquela prisão
por ter amado um cara,
os homens que ali viviam
rasgaram as minhas roupas
choraram as minhas lágrimas
enquanto eu implorava
para que não parassem
de me tratar como a dama
que sempre cuidou da casa
e sempre lavou as roupas
e sempre fez a comida
ignorando as outras
foi a mais divertida.
Os oito homens tinham
as faces dos meus amigos
que me alertavam em tempo
que homens são como vento;
Estuprada pela lembrança
do dia em que fui traída
por minha própria consciência
e por ter acreditado
que pudesse ter um filho
de cada um que matei.
Estuprada por aqueles oito
fiz o papel de escrava
durante quase toda vida
e as seis da manhã chuvosa
daquele último dia
acordei acorrentada
nas grades da solitária.

Pierre Tenório
REFLEXO SEM ESPELHO

Sempre tão cedo
para os dedos
tocarem tanto
esses desejos

do corpo ausente
cheio de pelos e lacunas;

Criados mudos
e travesseiros
chuva de lágrimas
sem pesadelos

sonhando em tempos
de desespero e afinidades;

Os dias passam
em horas lentas
não há trabalho
nem evidências
de que a sorte
mudou de clima
não mais o vejo
tudo é neblina e
o chão está seco;

A menina
atravessa a rua
de mãos dadas
enquanto passo
fingindo sempre
que vejo tudo.

Pierre Tenório

segunda-feira, 20 de julho de 2015

AMIZADE EM SONETO CORROMPIDO

o simples nuclear de tudo
desde quando a aurora anoitece
é o que faz as mudas de sementes
florirem bombas de amizades

verdades expostas nos brinquedos
caminhos trilhados com coragem
o meu é também teu desespero
bobagens, bagagens, estilhaços

quando encontrados aos destroços
os reconstruímos em memórias
serpentinas, velórios, inglórias

desmanchados aos tempos de delírios
construídos nos templos preto e branco
permanecerão sempre coloridos.

desfaço meu soneto vos amando.

Pierre Tenório

sexta-feira, 17 de julho de 2015

Não sou o melhor
pra ninguém

disso pode ter certeza.

Só posso servir
um café

se me deres a sobremesa.

Sou totalmente cruel,
quando os dedos tocam o papel.

Mesmo assim, não te assustes
com as minhas fantasias

todo esse ódio que sinto
é invenção da poesia.

Pior do que estar sozinho
é chocar ovos, sem ninho.

Posso voar pra bem longe
em questão de segundos

mas, só sobreviverei
levando comigo o teu mundo.

Assim poderás sentir
como é morrer por mim.

Pierre Tenório
MIRAR

tenho 25 anos, me sinto com 26;
os anos passam por todos os anos de uma vez,
batendo na minha aorta.

ninguém para pra dizer
que a solidão é insignificante,

estou quase acompanhado
pela nudez dos ouvidos.

um pedaço de pano felpudo veste as noites e dias que passam
sem nenhuma visita à prazo, com garantias.

faço videos provando o quanto sou viva e talentosa,
não estou morta viado, só não atendo o telefone.

existe algo pior que só ouvir a própria voz?
me pego falando ao travesseiro,
olhando através de alguma janela
de algum ônibus estacionado.

procuro a cura para os abandonos mal resolvidos,
miro ao chão sem curvas,
pobre de mim.

amanheceu e
pulei do décimo quinto andar daquele hospital
quando disseram que eu
estava curada.

Pierre Tenório
ontem mesmo, fiz questão
de transar com um assassino

ele sabia como
tocar as minhas mãos

ele sabia o quanto
eu pudia ser letal

sobre suas veias
de quase menino jesus;

pedi para que me matasse
e olhos nos olhos roubou

algumas palavras da boca
tirando do bolso uma faca

rasgando o próprio peito
arrancando o coração.

calado me fez um pedido
para que eu comesse

empurrou-me inteiro a boca
o gosto não era bom

mas, afinal de contas
estávamos nos nascendo

de tanto que não parávamos
de jogar conversa,

eu já não tinha paladar

confessou muitos segredos
despertando meu desejo

de estar em sua memória
como tatuagem de chiclete

não houve sequer violência
nem penetração.

Pierre Tenório





quarta-feira, 8 de julho de 2015

POEMA INTERMINÁVEL
as paredes me convocam
me convocam
pareceres
como sempre
engulo
tudo
como
sempre
tudo.
estão batendo ampulhetas
na nossa
cara, por favor
devolve meu carinho
devolve meu cheiro
meu jeito
pode ficar
desculpa, mas não dá
pra te encontrar
alguma coisa em mim
dói muito
quando deito
tantos quantos
reais
me mostram a bunda
e eu mostro a bunda pra você
abro todas as janelas e
me faço
parecer outras pessoas
pra te encontrar em outros
fernandos,
sua louca
não te leio e quando
fico de pau duro
sempre que você
pensa em me dar
boa noite ou
uma dura,
te adoro
te deduro
para dentro;
o meu pensamento
é morte;
sai de perto
espelhos não respondem
os comandos
dos meus nervos
erros
desmandando
mandos
balançando bandeiras
pedalando escadas
circulando
de uma hora pra outra
fico doente
e morro no parto
carente, amo
em traços de
tatuagem mal feita
me deito
deleito
granito.
gratuito,
grão
de deserto
olho miragens
tantos
disfarces
permito que algemas
sereias
se afoguem
em algumas
pérolas.
expulso todos da sala
de estar
jogos
jantar
lugares
lugar
quebro taças
vazias de você
acelero
nos quilômetros
voando com as tuas asas,
rasgo meus diplomas
sugo tua alma,
amor.
peço as deusas
que me tragam
os teus dedos
numa bandeja
de ovos quebrados.
vou aos médicos
descubro
doenças de mentira
remédios, chocolates
psicopatias
esqueço a lógica,
sou a garota negra
do tempo que passa
meteoros.
totalmente sozinha
como as letras de um jornal
antigo, me proponho
rodar
caixinha de música
ouvindo vozes
me dizerem
se estou boa ou
ruim,
mar
fim.
recomeço
de enfins
já não tenho
paciência
peço que não me escute
nem me leia,
peço que se convença
o ódio é para todos e vai além.
sempre que te leio
nunca te vejo
preciso te ser, dentro.
esses dias presenciei
alguém bem no meio
de nós
tão bonito, colorido, rico,
tão legal
tão cinema, ecologia,
tão sarcástico
tão horrível
previsível
quanto quem estava obrigatoriamente
cortando aquela árvore;
não intervenho
vinho
venha
poesia;
morro como as coisas morrem
em alguma hora.
longe mesmo
longe
te distraio e tudo mais
exaustivo
te perturbo de novo
e logo
vou com tudo
repondo as sementes do jardim.
consigo falar do teu sorriso
último
póstumo.
rio
do passado inconsequente
choro do presente.
penso em me jogar da janela
do térreo,
me empurram para cima
e eu subo
caio
sem saber mesmo
onde
no sítio do pica pau
descamado
visconde.
cortaram mais uma árvore
amarrada naquele poste
imagina
se um coração quebra
eu posto
e tu compartilha
mesmo que seja ou não
choro e tu nem te ligas pra mim.
o telefone é a única coisa
que não me toca.
recita um poema?
por favor,
preciso ser enganado.

Pierre Tenório





















segunda-feira, 6 de julho de 2015

Continua
com esses carinhos nas minhas costas,
estou adorando essas estórias,
cuidado para não quebrar as asas,
tenho muitas penas belas, você pode arrancar uma
e fazer um colar
ou um pincel, sei lá.

Acalma as correntezas
desse sangue que pulsa e ferve dentro de mim,
para que eu possa descansar um minutinho,
você pode beber o quanto quiser,
mas não largue os dentes do cangote onde abrigas vampiro.
Pode gozar
na minha cara.

Congela os batimentos
do relógio que ao teu pulso abraça e sufoca,
o tic tac atormenta meus ouvidos, toque uma música
que eu possa viver
em câmera lenta
cantar de vez em quando,
pra lembrar o que virou lenda.

Aqueça somente as memórias, amanheceu,
posso te deixar em casa,
antes, podemos tomar café e fumar outro baseado,
gostei quando você disse que tem namorado,
leva um chocolate desse aqui, é o meu favorito
e não esqueça as meias.

Pierre Tenório
SAGRADO

Na mira de pistolas
que disparam água benta

Alvo, grito pela paz
pregando o que não sustenta

Bebo sangues diferentes
no inferno me mantenho

Feliz como ser ausente
olhos nos olhos detenho

Peço pra que te consagres
nos pecados dos milagres

E que permaneça solto
na imensidão dos sonhos:

morto.

Pierre Tenório
MARCAS DE BATOM

recebo cartas que nunca leio
escrevo outras que não envio

somente desse jeito compreendo
o conteúdo que está por dentro

melhor que colecionar selos
é trair rompendo os mistérios.

Pierre Tenório