AUTORRETRATO
pareces impenetrável,
véu de viúva negra
cobrindo o rosto pálido.
escrevi um péssimo livro
ninguém ousaria tocá-lo
algo menos que a primavera
de uma pétala em branco.
o que sobrou da resma:
sangue em palavras de pedra
descongelando triunfos,
água escorrendo por terras.
nada mais é
que lápis de olho borrado
de alguém que pinta alfarrábios.
Pierre Tenório
sábado, 30 de janeiro de 2016
quarta-feira, 27 de janeiro de 2016
CARNIÇA
vestiu-se de abutre
pra voar ao longe
do meu corpo humano
sempre circulando
sobre.
e nunca mais cantar
para os meus ouvidos
poemas desconhecidos
podres.
e nunca mais tentar
sufocar meu ar
de cara subversivo
nobre.
e nunca mais despir
o que lhe vestiu
e reveste
pobre.
a única coisa que ele queria
era cravar suas garras
e me agarrar
forte.
Pierre Tenório
vestiu-se de abutre
pra voar ao longe
do meu corpo humano
sempre circulando
sobre.
e nunca mais cantar
para os meus ouvidos
poemas desconhecidos
podres.
e nunca mais tentar
sufocar meu ar
de cara subversivo
nobre.
e nunca mais despir
o que lhe vestiu
e reveste
pobre.
a única coisa que ele queria
era cravar suas garras
e me agarrar
forte.
Pierre Tenório
sábado, 23 de janeiro de 2016
transparentes cicatrizes abrigam os ossos de seres queimados
na fogueira do meio dia após dia,
criam elas ouvidos e faces e berros e labirintos
inquietos como uma boca mastiga papeis em algures,
pessoas passam despercebidas por trás de lentes sem contato,
armadas com agulhas nas mãos prontas para entrelaçar
os tecidos de pele crua, fotografias queimadas, alma fria, única
inconsequente a barra do vestido toca partículas de pensamentos
que sustentam o chão sob passos de ballet saltitantes em fuga,
de poça em poça vazia os pés são lavados nas águas das chuvas de nunca.
o céu branco inspira pintores apenas, na aurora os poetas despem suas almas
e sacam suas canetas para matar seres já mortos
e nada mais importa, tudo está embrigado de sangue pelas calçadas
enquanto a seca paira e o fogo se espalha.
Pierre Tenório
na fogueira do meio dia após dia,
criam elas ouvidos e faces e berros e labirintos
inquietos como uma boca mastiga papeis em algures,
pessoas passam despercebidas por trás de lentes sem contato,
armadas com agulhas nas mãos prontas para entrelaçar
os tecidos de pele crua, fotografias queimadas, alma fria, única
inconsequente a barra do vestido toca partículas de pensamentos
que sustentam o chão sob passos de ballet saltitantes em fuga,
de poça em poça vazia os pés são lavados nas águas das chuvas de nunca.
o céu branco inspira pintores apenas, na aurora os poetas despem suas almas
e sacam suas canetas para matar seres já mortos
e nada mais importa, tudo está embrigado de sangue pelas calçadas
enquanto a seca paira e o fogo se espalha.
Pierre Tenório
domingo, 17 de janeiro de 2016
peruana
peguei o baseado com a mão esquerda
com cuidado para não queimar o banco
o direcionei à boca vagarosamente
tão lento como uma tela em branco
sugando-lhe toda fumaça
que fui capaz, foi quando
em súbito desejo, meus lábios
trêmulos tocaram os teus.
como quem sopra uma ferida
te presenteei o ar
que abrigava-me os pulmões
minha nuvem carregada de fumaça
tua língua contraindo as emoções
e com os olhos bem fechados
tudo em câmera lenta
tomamos banho de chuva.
Pierre Tenório
peguei o baseado com a mão esquerda
com cuidado para não queimar o banco
o direcionei à boca vagarosamente
tão lento como uma tela em branco
sugando-lhe toda fumaça
que fui capaz, foi quando
em súbito desejo, meus lábios
trêmulos tocaram os teus.
como quem sopra uma ferida
te presenteei o ar
que abrigava-me os pulmões
minha nuvem carregada de fumaça
tua língua contraindo as emoções
e com os olhos bem fechados
tudo em câmera lenta
tomamos banho de chuva.
Pierre Tenório
OUTRAS ALDEIAS
as pessoas nascem para perder as outras
mesmo quando ganham na loteria
borboletas como prêmio
tenho bilhetes escritos, mas, não a sorte de perdê-los
ao cruzar estradas descalço
contemplo a cor dos olhos que roubam
a força das nuvens escuras
tudo, nada ou qualquer coisa fará mudar a cor da fachada
o perfume sempre será indiscreto por trás da orelha
chove água quente por aqui, o rosto se desmancha
sentado à sombra das árvores que encontro
pelas margens dos mesmos rios
tampouco importa se estão cheios ou vazios
ou apenas compotas de pequenas ou longas histórias de natal
carnaval ou qualquer data comemorativa
em que gosto de fugir das festas em família
busco um ou mais sentidos para começar a falar
qualquer coisa que faça o tempo parar.
Pierre Tenório
as pessoas nascem para perder as outras
mesmo quando ganham na loteria
borboletas como prêmio
tenho bilhetes escritos, mas, não a sorte de perdê-los
ao cruzar estradas descalço
contemplo a cor dos olhos que roubam
a força das nuvens escuras
tudo, nada ou qualquer coisa fará mudar a cor da fachada
o perfume sempre será indiscreto por trás da orelha
chove água quente por aqui, o rosto se desmancha
sentado à sombra das árvores que encontro
pelas margens dos mesmos rios
tampouco importa se estão cheios ou vazios
ou apenas compotas de pequenas ou longas histórias de natal
carnaval ou qualquer data comemorativa
em que gosto de fugir das festas em família
busco um ou mais sentidos para começar a falar
qualquer coisa que faça o tempo parar.
Pierre Tenório
quarta-feira, 13 de janeiro de 2016
sábado, 9 de janeiro de 2016
nos desencontros
da noite
que a gente vai
e se encontra
um suposto apaixonado
arrancou a minha mão
para poder afagar
o próprio rosto insone
sem qualquer permissão
a leu como vidente
durante dias insistente
mas não conseguiu escrever
palavra alguma
enfiou anéis entre os dedos
guardando e revelando segredos
depois ele retirou todos
graças à deusa
se masturbou por horas
esquecendo o quanto
tudo se demora
na indevida calma
hora sobre hora
não obteve gozo
faltava-lhe algum corpo
vivo-morto
pra poder repousar
durante alguns segundos
enquanto o olho direito
ainda piscava
por fim então devolveu-me
já que nenhuma serventia
aquela mão o tinha
obtinha
órbitas
óbito.
eu fiquei olhando aquilo
sobre as minhas mãos
depois joguei ela fora
para que todos os porcos
pudessem sem tocar.
Pierre Tenório
da noite
que a gente vai
e se encontra
um suposto apaixonado
arrancou a minha mão
para poder afagar
o próprio rosto insone
sem qualquer permissão
a leu como vidente
durante dias insistente
mas não conseguiu escrever
palavra alguma
enfiou anéis entre os dedos
guardando e revelando segredos
depois ele retirou todos
graças à deusa
se masturbou por horas
esquecendo o quanto
tudo se demora
na indevida calma
hora sobre hora
não obteve gozo
faltava-lhe algum corpo
vivo-morto
pra poder repousar
durante alguns segundos
enquanto o olho direito
ainda piscava
por fim então devolveu-me
já que nenhuma serventia
aquela mão o tinha
obtinha
órbitas
óbito.
eu fiquei olhando aquilo
sobre as minhas mãos
depois joguei ela fora
para que todos os porcos
pudessem sem tocar.
Pierre Tenório
quinta-feira, 7 de janeiro de 2016
ao ponto que me exponho
desmancho-me completo
furo meus dedos com agulhas sem pontas
desfio os cabelos do corpo inteiro;
escrevi uma frase numa linha de costura
em letras bem pequenas para que ninguém
pudesse ler
até o fim das voltas sem pontuação
pra esconder os pontos fracos e amarrar os fortes
em nós
a costura fazia com que aos poucos se soltassem
presas num acabamento que quando vestidas ao corpo
gritassem morrendo aos poucos
desbotadas ao longo do tempo
despidas as palavras são véus para
máquinas de casamentos
fico com os retalhos
costurados à mão
entre a indecisão do sim ou.
Pierre Tenório
desmancho-me completo
furo meus dedos com agulhas sem pontas
desfio os cabelos do corpo inteiro;
escrevi uma frase numa linha de costura
em letras bem pequenas para que ninguém
pudesse ler
até o fim das voltas sem pontuação
pra esconder os pontos fracos e amarrar os fortes
em nós
a costura fazia com que aos poucos se soltassem
presas num acabamento que quando vestidas ao corpo
gritassem morrendo aos poucos
desbotadas ao longo do tempo
despidas as palavras são véus para
máquinas de casamentos
fico com os retalhos
costurados à mão
entre a indecisão do sim ou.
Pierre Tenório
segunda-feira, 4 de janeiro de 2016
recolhi uma gardênia
morta do meu jardim
já estava criando rugas
e mergulhado entre as dunas
de tantas transformações
pude compreender
que por mais maquiagem
que possamos usar
o pó que estava vencido
por dias, meses na estante
torna-te o rosto mais leve
quase 'aquilo que és'
livre dos meus retoques
poros de diamante
incandescentes pela
divina transparência
meus átomos, tua essência
me enriquecia os dedos
mesmo em planos distantes
de coerência;
submerso em vasto brilho
pude contemplar o mar
quando uma de suas ondas
levou-me embora de volta
pra cerca do meu vergel
surgindo de todo nada
uma sereia com asas
do escuro estrelar do céu
tentou convencer por tudo
que embaixo de qualquer água
até grandes sinfonias
tocam silenciadas.
Pierre Tenório
morta do meu jardim
já estava criando rugas
e mergulhado entre as dunas
de tantas transformações
pude compreender
que por mais maquiagem
que possamos usar
o pó que estava vencido
por dias, meses na estante
torna-te o rosto mais leve
quase 'aquilo que és'
livre dos meus retoques
poros de diamante
incandescentes pela
divina transparência
meus átomos, tua essência
me enriquecia os dedos
mesmo em planos distantes
de coerência;
submerso em vasto brilho
pude contemplar o mar
quando uma de suas ondas
levou-me embora de volta
pra cerca do meu vergel
surgindo de todo nada
uma sereia com asas
do escuro estrelar do céu
tentou convencer por tudo
que embaixo de qualquer água
até grandes sinfonias
tocam silenciadas.
Pierre Tenório
sexta-feira, 1 de janeiro de 2016
nesses dias tropicais
de fim para recomeço
passei tão despercebido
por uma dessas favelas
aquela favela
daquelas favelas amigas
sem labirintos foi onde
tive o grande prazer
de reencontrar aquele
meu predileto magrinho
e descompassado assassino
de mim e das minhas fraquezas
indiferente com único
sorriso macio navalha
suas mãos cansadas e lindas
e cheias de veias infindas
estradas nas voltas dos dedos
crimes demais que imperfeitos
jogar papeizinhos na rua
era o seu único erro
fico rindo de mim mesmo
que apago todas as bitucas
dentro de um mesmo cinzeiro
as balas transpassam o ego
atire escrevendo meu bem
pregos sob meus martelos.
Pierre Tenório
de fim para recomeço
passei tão despercebido
por uma dessas favelas
aquela favela
daquelas favelas amigas
sem labirintos foi onde
tive o grande prazer
de reencontrar aquele
meu predileto magrinho
e descompassado assassino
de mim e das minhas fraquezas
indiferente com único
sorriso macio navalha
suas mãos cansadas e lindas
e cheias de veias infindas
estradas nas voltas dos dedos
crimes demais que imperfeitos
jogar papeizinhos na rua
era o seu único erro
fico rindo de mim mesmo
que apago todas as bitucas
dentro de um mesmo cinzeiro
as balas transpassam o ego
atire escrevendo meu bem
pregos sob meus martelos.
Pierre Tenório
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