terça-feira, 26 de abril de 2016

Alma não tem irmã gêmea

quando desafino
minha alma chora
pálida
resplandece ao nada
quando a nota foge
ecoando ao longe
o corpo aborta
voa cega alma
vagando impávida

crio minha alma
fora do meu corpo
dentro da cabeça
mas, é de mentira
tudo é de mentira
imaginação
meu ouvido dói
quando desafino

ô alma danada
tu és inventada
então cante certo
ou fiques calada

tu aí sentado
pode até tentar
mudar de instrumento
mas, não poderá
trocar uma alma,
mesmo que seja
por outra penada

alma é alguém
que não vai à luta
com múltiplas armas
ou odores letais,
ainda há quem diga
que são imortais

almas usam corpos
e corpos usam almas
de certas pessoas
para ecoar gritos
ou talvez niná-las.

quando desafino
morre minha alma
e o corpo nada

dela musicá-la.

Pierre Tenório

domingo, 24 de abril de 2016

A alma pálida
resplandece o próprio nada
que o corpo aborta
ecoando
voa cega pelas redes
sociais vagando impávida,
quase pálida
escorre aos córregos
nadando rios
completos de peixes
elétricos
a alma perfuma
e perfura
bifurca indecisões
vara
corpos humanos
transpassando tudo
filtrando o insano
anos
anus
passam por frestas
de memórias
acesas
luzes de velas

A alma sobreluta
com armas de múltiplos
odores letais

ainda há quem diga
que almas são imortais.

Pierre Tenório

sábado, 23 de abril de 2016

Alice pediu para que desenhasses o mundo
em meia folha de papel oficio.

Você fez um planeta terra, cheio de água e árvores e flores.

Alice pediu para que desenhasses o mundo, novamente.

Sobrepuseste círculos multicoloridos.

Alice pediu para que desenhasses o mundo bem gigante.

Fizeste de conta que a folha era inteira.

Alice silenciou por alguns minutos e indagou: Desenha o mundo!?

Deixaste a folha em branco.

Ela então ordenou: Desenha a porra do mundo.

Você desenhou uma bola de futebol
e disse: O mundo não é o país das maravilhas, Alice.

Lembrei dos brasileiros,
tão livres,
enquanto presos.

Ainda assim, Alice persiste em desbravar os mundos.

Pierre Tenório

sexta-feira, 15 de abril de 2016

quero ser tua
como és minha

pouco contato
tanta entrelinha

atento ao tempo
que de repente

muda os rumos
subitamente;

te tenho quase inteira
embora nunca me queiras

tu, me tens no agora
mantendo sempre por fora

mesmo quando partes
o cheiro demora

pois és prisioneira
da minha memória

vive em liberdade
porque está morta

eu, por fim à espera
vivo abrindo portas

e também janelas
minha alma cega

o vento venera.

Pierre Tenório

quarta-feira, 6 de abril de 2016

GOLPE

Ela faz sexo por baseado
dinheiro, lanche
ou qualquer olhado

dá um trago e olha de lado
como quem não quer nada
me deixa molhado

mesmo quando ela brinca
de pintar
seus papéis só quebram
do lápis as pontas

para ter pretexto de não instigar
nosso lance é mesmo um grande
faz de conta.

Olho sua página no facebook
esperando post com o próximo look

ou alguma indiretinha pra mim
-isso é antiquado meu bem: ela diz.

-Quero conversar sobre revolução
ir morar no mato
te pegar na mão

contemplar estrelas
ouvir um vinil
clarear o dia falando besteira

Conta para mim que signo tu és
posso ser teu mapa
da cabeça aos pés

tua ascendente
teu inferno astral
leve ou selvagem

como um animal.


Eu que só que queria
me aproveitar
da facilidade
do teu blá, blá, blá

agora estou mísero apaixonado
e tudo quero é ficar do teu lado

arrisquei até te escrever um poema;

-tá mais para funk, amor, sem problema.

Creio que todo mundo já percebeu,
na verdade o fácil da história fui eu.

Pierre Tenório






Os olhos da deusa

Peço que vivas mais
tudo mais
tu vai com o tempo
o tempo.

Que não passamos, tudo abstrai
se esvai e te traz à mim.

Cólera em taças de plástico
bonecos infláveis
tamancos desgastos
os astros te trazem aqui.

Saber o que cê vai fazer sem mim
me mata de tanto sorrir por dentro.

Só quero um pouquinho de você completo
no verso e esconda onde todo mundo vê
pretendo mudar pra bem longe daqui
espero mudar pra melhor

Me deixe em transe me faça um péssimo ator
me chupe os lábios venenosos

Destilo o sangue
no copo no olho
nas águas de marte
a vida da morte
o cão dos infernos
o deus da serpente
a lua de ouro
massagem nos pés

Os olhos da deusa encantam
os olhos da deusa
os olhos da deusa encantam
os lábios, os lados, os fatos
o sangue no cálice.

''afasta de mim...''

Pierre Tenório

Água

Acordei na madrugada
você não estava lá
já morrendo de ressaca, pensei

preciso de muita água
a minha cabeça dói
não lembro de quase nada
não sei se falei
alguma coisa que distrai

para onde foi o meu amor
ai, como dói minha cabeça
onde estará meu celular?

leio o bilhete sobre a mesa:
- me esqueça.

Pierre Tenório

terça-feira, 5 de abril de 2016

peço estrelas
como quem clama
um deus sozinho
visto em pedaços
por olhos cegos
todo o céu

completamente
escuridão

dá para ver
embaraçada
forte a luz
que circundando
os meus pedaços
tornam-me um

inteiramente
você e eu

breves adeus.

Pierre Tenório