quinta-feira, 19 de junho de 2014

Os gritos ecoam pela janela, enquanto calada perco o fio da meada
em frente ao espelho, penteando os cabelos com dedos de muitas mãos;
Observo os detalhes dos poros e os caminhos que surgem pelas rugas da face.
Contemplo o horizonte irresistível correndo pelas estradas afora,
sorrio para arbustos que se mantém sérios e lembro de quando
aguava as plantas da varanda.
Encho a barriga de imagens coloridas e também sem cor, desfio
o rasgão no joelho da calça, jogando fora os fiapos de linha,
linhas telefônicas, polifônicas, aéreas, perco a linha e me perco
nas linhas do tempo.
Ajoelho-me encravando os dedos na terra molhada de suor, consigo sentir
o quanto o mundo é perfeito em sua miséria atômica destrambelhada, encontro
respostas no eco que me leva aos detalhes dos poros e rugas
que surgem a cada caminho.
Avisto matas queimadas, animais atropelados, ossadas e formigas;
me encontro nos brotos e frutos maduros, enquanto passo horas nas asas
das borboletas, dia após dia.
Os gritos ecoam pela janela do horizonte imenso que se conserva dentro
de cada pupila, os fios agora estão presos pelas linhas do elástico,
em frente ao espelho.

Pierre Tenório

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