segunda-feira, 30 de junho de 2014

Te procuro
nas paredes
do meu quarto.
A saudade
o aprisiona
em um quadro.
Imóvel sobrevivo
nas molduras.
Contemplo
meu desejo
em vozes mudas.
Resisto em ocupar
os teus espaços.
Nas tintas
cores secas
não te acho.
Arranco e guardo
os pregos que
o segura.
Amando as
cicatrizes
que perfuram.

Pierre Tenório






sábado, 28 de junho de 2014

não olho,
olhos nos
olhos
me pego
preso
aos olhos
nos olhos.
solto-me
leso
aos olhos
nos
olhos soltos,
olho no
olho.
braços
fogem ao
corpo
nu
olho no
olho.

tudo bem, que o inverso
me inverta.
não sei bem, mas...



Pierre

sexta-feira, 27 de junho de 2014

Cacatuas mãos de pedreiro
deixam digitais de rei
sobre as vitrines
das virtudes.

Cacatuas falas ensaiadas
só repetem erros
de míseros
costumes.

Cacatua asa esfacelada
solitariamente
ante os fios
do cárcere.

Cacatua coroa colorida
monumento que atrai
contato face
a face.

Pierre Tenório








quinta-feira, 26 de junho de 2014

Pró Pático

Por ninguém gostar de mim
acabei me acostumando
a erguer bandeiras brancas
e quebrar imagens santas.

Por ninguém gostar de mim
acabei reaprendendo
a não sofrer por outrem
e esquecer o que tá dentro.

Por ninguém gostar de mim
acabei com amor próprio
desperdiçando sorrisos
e alimentando ódio.

Por não gostar de mim mesmo
acabei jogando afora
os foras que me fizeram
querer todo mundo agora.

E por gostar de ninguém
fechei os olhos nos olhos
abrindo escuridões
que fazem sentir além.

Pierre Tenório
FRUTÍFERO

Prendo os ares
me pego preso
a respiração
prendendo.
Solto o ar
nos ares soltos
ares me soltando.
Rendo-me ao
tudo e nada
me vendo rendido.
Vingo pairando
vingança nos ares
não vinga.

Pierre Tenório
ENCONTROS DESMARCADOS

ontem
esperamos
madrugadas
acabarem;
para finalmente
conversarmos
nossas vidas.

hoje
espero
que o dia assim
termine; e
a noite comece
a ter fim
sem despedidas.

Pierre Tenório


Ser
e
não ser;
não há questão.

Pierre Tenório

quarta-feira, 25 de junho de 2014

ILHA DE EPITÁFIO

Castelo de areia
com portas de areia
cadeiras de areia.
Corações de areia
abrigam o castelo
de areia.
Varanda e piscina
de água salgada
fascinam.
Sereia de mármore
canções de vento
encantam.
Castelos de água
piscinas de areia
com portas
de pedras e gramas.

Pierre Tenório
tiro
a gana
e atiro
à lama

atinjo
o profundo
sorriso
defunto

não consigo
acordar
porque o sono
persigo

não entendo
agora
porque o sonho
demora

saio
pulando
de ponto
em ponto...

Pierre Tenório



sábado, 21 de junho de 2014

eu, que só
espreito
natureza
destes olhos
l** linda
na janela,
mostre o tempo
em forma de
concreto
s**?

eis o fado de não parecer tudo em verso;
eis o verbo de não conhecer nada em fato.

Pierre Tenório





sexta-feira, 20 de junho de 2014

FOGO DIVINO

irmãs
largam
hábitos

irmãos
queimam
atos.

Pierre Tenório

quinta-feira, 19 de junho de 2014

Os gritos ecoam pela janela, enquanto calada perco o fio da meada
em frente ao espelho, penteando os cabelos com dedos de muitas mãos;
Observo os detalhes dos poros e os caminhos que surgem pelas rugas da face.
Contemplo o horizonte irresistível correndo pelas estradas afora,
sorrio para arbustos que se mantém sérios e lembro de quando
aguava as plantas da varanda.
Encho a barriga de imagens coloridas e também sem cor, desfio
o rasgão no joelho da calça, jogando fora os fiapos de linha,
linhas telefônicas, polifônicas, aéreas, perco a linha e me perco
nas linhas do tempo.
Ajoelho-me encravando os dedos na terra molhada de suor, consigo sentir
o quanto o mundo é perfeito em sua miséria atômica destrambelhada, encontro
respostas no eco que me leva aos detalhes dos poros e rugas
que surgem a cada caminho.
Avisto matas queimadas, animais atropelados, ossadas e formigas;
me encontro nos brotos e frutos maduros, enquanto passo horas nas asas
das borboletas, dia após dia.
Os gritos ecoam pela janela do horizonte imenso que se conserva dentro
de cada pupila, os fios agora estão presos pelas linhas do elástico,
em frente ao espelho.

Pierre Tenório

terça-feira, 17 de junho de 2014

o sonho da pedra

graças ateu
esqueceram
até
porque
Cristo morreu.

infinitamente

graças a Deus
lembram
até
o que
Cristo esqueceu.

Pierre Tenório

segunda-feira, 16 de junho de 2014

estalo os dedos ao digitar,
por não saber o que estancar
se não os dedos cheios de sonhos
universivos, tá... Posso parar de contar
as estrelas do mar deste mísero e terreno
sertão rico sonífero.

Pier....

domingo, 15 de junho de 2014

DOMINGO DISTANTE

Arrumei as malas
maquiagem de leve
em sequência
cabelos assanhados
vestido de núpcias
batom rosa rastro
barba mal feita
barba e a dor
de um salto gasto.

de tudo um pouco na bagagem:

fogos de artifício
perfume dois pingos
garrafa de vinho
unhas postiças
maçaneta de porta
cuecas comestíveis
olhos de ressaca
silêncio defunto
roteiro de cinema.

algumas mentiras
ciúmes de vento
encartes, vinis
óleo de amêndoas
esmaltes
batatas fritas
maconha mofada
inquietude
e alguns poemas.

asas de frango
foice cega
lenços de seda
papel higiênico
3 quartos
uma piscina
ego escondido
bolinhas de sabão
e poucos problemas.

esconderijo
labirintite
vícios e cios
luzes e grillz
solidão patética
papel de bombom
violão quebrado
anel de barbante
e tantos dilemas.

Carreguei tudo
em duas sacolas pretas
de supermercado,
fiquei na esquina
esperando um táxi,
e finalmente chegou
o carro alegórico
de lixo orgânico onde
lancei as sacolinhas.

tudo de novo na bagagem
viajem maravilhosa,
mas, que bobagem!

Pierre Tenório

https://www.youtube.com/watch?v=Aog9EWiFkRc
humilhação junina

chupo o sabugo
de lembranças cozidas
tão deliciosamente.

Pierre Tenório

sexta-feira, 13 de junho de 2014

sob encantos

apago a memória
do sonho que
inconsciente
desminto,
pressinto calor
desafago o doce
acalento imagino,
suponho estrofe
perdido em
desejos docentes,
disparo balas
em festa
vestindo grávidas
jeans,
me mato em
capuz
de chapeuzinho
vermelho carente,
disponho
caminhos
despejo
em rodapés
o desejo,
por um triz
enquanto Ernesto
aos dedos
delinquentes,
piano
à lua do sol
adormeço
ausente.

Pierre idiota da silva e ponto.

quarta-feira, 11 de junho de 2014

NÃO INSISTA

já falei que o amor
é partitura
em melodia.

(tentei ser músico)

disse que entre
os de bom grado
está presente.

(tentei ser padre)

inventei palavras finas
tão banais
lancei um livro.

(tentei ser poeta)

encontrei mil corações
atormentados
como o meu.

(tentei ser puta)

encontro definições
que não explicam
o que sinto.

(não sei ser, minto)

Pierre Tenório

segunda-feira, 9 de junho de 2014

Correio Elefante

ombros
membros
presas
espelhos

sanguíneas
artérias
sanitários
vasos

com flores nas mãos
vomito no meio fio
de tanta felicity

um muro despencou
sobre o cartão de visita
amarrotado na caixinha.

Pierre Tenório

quinta-feira, 5 de junho de 2014

MARTÍRIO

quero sentar aos pés da tua cruz
e te contar penumbras de amor
assim viver nas mãos do teu remorso
sem gratidão devida, prego e forço.

as luminárias gritam apagão
enquanto corvos pousam na matina
pulo ao alto mar que te reveste
nas pupilas verdes que adormecem.

a lua canta em clima despedida
enquanto os santos todos se embriagam
o sol anseia luz que nos dissipa.

o tempo voa em som que acende a sina
perdido no espaço entreaberto
sou tinta na caneta que te assina.

Pierre Tenório





LIBERTINO

na mazela
dos momentos
esquisitos
no trajeto
divergente.

atrapalho
o momento
do escarro
escancarado
indiferente.

corre o bicho
da goiaba
no café da
manhã
cedo que te
acorda.

o momento
do desejo
puxa a corda
dessa forca
que te
enfoca.

Pierre Tenório



quarta-feira, 4 de junho de 2014

o poema estava
escrito no
papel de seda
fina
na gaveta
da bagunça.
com dúvidas
enrolei
puxei
lancei
à natureza
esvoaçante.
o poema está
solto
translúcido
assombro
do verbo
surpreso.
sem dádiva
destino
jogado
às torrentes
de mar
violentas.

Pierre Tenório








terça-feira, 3 de junho de 2014

CLÁUSULA POPULI

o que difere
a lei da vida
da lady diva:

uma é arte
marcial
a outra
artificial.

Pierre Tenório
sei que mesmo calados
lemos nossos sinais
porque não somos mais
que grãos descoordenados

entre risos e cânticos
madrugada a dentro
sob o brilho de vênus
numa praia do atlântico

você lembra da lua?
foi você quem nos disse:
é o gato de alice!

que a sorrir continua
para as ondas do mar
vendo o mundo girar

F. C.

domingo, 1 de junho de 2014

SCRIPTEASE

de silêncio me dispo
rasgando a história
do fim ao início.

Pierre Tenório
Não me canso
por nada,
de tentar esquecer
a confusão
causada
por nossas
pernas
entrelaçadas.

Pierre Tenório