PENA
Mantinha-me prisioneiro em suas pernas.
Durante as poucas horas de aprazimento, a liberdade já não era algo interessante, fingia desacordado em pensamentos delirantes, recordava suas juras enquanto as mãos a procura de repouso cruzavam minha cintura em direção ao ventre, não discernia sua respiração dos meus batimentos, eram percussão clássica de corpos anônimos, me sentia completamente consumido e condenado àquelas presas.
Não queria perceber que a eternidade não dura tanto quanto dizem.
Em giro de 180°, aquele rosto já não seria de alguém que eu pudesse ignorar no dia seguinte, pois, já era manhã e sentia muita sede, serenamente desliguei-me dos lençóis em direção ao filtro, voltei com uma cachoeira nas mãos e ele já estava de saída, como que por advento da consciência, quisesse se libertar da liberdade.
-Vamos fumar um cigarro.
Os tragos eram tão lentos quanto à capacidade que eu tinha de interpretar nosso silêncio, segundos passavam em câmera lenta (eu preferia relógio parado), enquanto os olhos reluziam o quarto inteiro. Fomos arrebatados a uma dimensão entre céu e inferno (como fumaça), a felicidade em homônimos gritava sorrateiramente, estava consumado e ninguém poderia mudar ou nos tirar isso. Mergulhamos nus naquelas águas e lembramos o quanto tínhamos bebido durante a noite, sorrimos.
Beijou-me alegando estar louco e saiu às pressas, declarou-me absolvido e carregou toda culpa.
Pago a pena de escrever, fumando solitariamente os cigarros que ele esqueceu, enquanto o pássaro inocente,
cumpre prisão perpétua em regime de asas cortadas.
Pierre Tenório
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