terça-feira, 4 de março de 2014

VESTIDO DE CINZAS

A quase duas semanas
passaram-se dez anos
em
algumas horas;
meio fora de órbita,
cruzei com algumas estrelas
queimadas pelo fogo
de fantasias
apagadas.
Me vesti
de cinza de cigarro
e invadi olhos alheios
nesse vento em que
flutuo,
era uma espécie
de cegueira,
reis e mendigos
na sacada do prédio
no bloco
dos mortos
vivos.
Carnaval não passava
de um cheiro que vinha
ao longe
pelas calçadas sem nenhum
ar.
Eu mudava de fantasia
a cada baforada
que me cegava deitado
no sofá da sala
esperando o bloco
nunca passar,
enquanto me sugavas
eu brincava e pulsava
lentamente em tuas veias;
vestida de cinza
eu era fumaça.
Hoje, lendo tuas cartas
sinto quedas de energia
quase
queimarem
o meu PC.
No mais,
qualquer palavra
seria pretexto
para mais um trago
e todo carnaval
seria
quarta-feira.

Pierre Tenório

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