PROFECIA 
Num fluxo corrosivo cotidiano de tudo 
que adormece e acorda ao sol e lua,
janelas se despedem das paredes, e paredes 
se dissolvem em tinta crua. 
Maldita melodia que dispersa o que exprimo
entre os espinhos farpados nos arames
dos arranjos de flores conservadas inodoras, 
labirinto em linha reta.
Ressalto o poeta endeusado, obviamente 
encantado pela clausura do outro;
Único uníssono e perdido entre os espelhos 
e miolos do cerebelo que vos revela.
Espojado ao chão em brasas, percebi o elo
entre os olhares. Deus devorava com ira o fruto
proibido, que apodrecido, aumentava Sua força cruel,
engolindo por inteiro, sugou toda vitalidade das raízes 
da árvore central, gigante frondosa, estava apaixonado
pelo pecado, cego de olhos iluminados e fechados. 
Entre Deus e o fruto, eu era adorno, serpentina 
esvoaçante inibida, enfeitando e inflamando
a conclusão pré-carnavalesca dessa festa filosófica. 
Deus e o Diabo são amantes, por isso o amor verdadeiro
é feio. 
Pierre Tenório
 
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