CLOVE MASALA
Procuro as palavras certas desde ontem
procuro as palavras certas, elas fogem de mim
desesperadas, sendo assim uso as erradas, não sei
dizer porquê, mas sinto elas erradas e distantes.
Uma carta, não sei se é uma carta, não sei
se é uma carta que deva ser enviada, só sei que
deve ser lida, pode fazer sentido
em algum lugar no universo.
Não sei se são lágrimas ou esperma.
A culpa é toda sua.
Esse cheiro bom me lembra tuas veias,
as veias do teu membro pulsando entre minhas
pernas na diagonal, tuas veias carinhosas.
O chão do quarto agora está limpo
pelos nossos pelos; até o banheiro.
Nossa extravagância bêbada esterilizou o chão
que agora é fumaça perfumada e limpo, brincadeira de criança.
Impressa nos lençóis esteve até uns dias
a insone perturbação do nosso anti amor.
Fumando o café da manhã, selamos nossa despedida
num silêncio fúnebre, todas as canções da noite passada
agora estão em carrosséis.
O correio alarma, é um postal seu.
Uma canção de ninar me leva ao pesadelo
da ausência, crio asas e chifres, voo ao inferno
e encontro deus por lá a passeio, vou ao inferno aqui sentado.
Deus estava lá de novo, dessa vez em pesadelo,
sem expressão, lendo esse cartão postal,
lendo essa carta cheia de palavras erradas,
dessa vez ele me entregou um cigarro enquanto fumava outro
(sempre que encontro deus
ele me dá presentes)
onde a fumaça era minha alma,
fumei minha alma aromática
clove masala até a ponta.
Acordei com a mesma expressão divina,
sensações de escrivaninha,
vomitei os lençóis de culpa.
A culpa é toda sua.
Minha merda estampada na cueca sinalizara o que fizemos,
dangerous,
passei um cheque em branco e te expulsei pra sempre
até semana que vem, quando seremos desconhecidos
novamente.
O chão estava sujo de cinzas e a unica coisa
que ficou foi o cheiro do incenso que acendi
enquanto trepávamos meias verdades, bagas de cigarro
e uma música que insistia em não tocar eram o cenário.
Acho que fizemos uma festa.
O incenso que rolava era contra inveja e olho gordo,
embora eu prefira clove masala
esta é a lembrança do nosso anti amor,
custa 1,50 na lojinha de macumba,
ficaria feliz se ganhasse uma caixinha
no meu aniversário, idade nova,
almas penadas e isqueiros vazios.
Pierre Tenório
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