domingo, 31 de dezembro de 2017
estou sentado e acabo de deixar o meu corpo derramado sobre ela
não entendo o idioma que a cadeira fala, peço uma vírgula e
me entrego ao som do ruído que a cadeira about me emite
algo que já está dentro implora mais uma razão de sair
não se sabe para onde ainda só se sabe para onde ainda não
não é sobre escrever uma imagem é além de sair da cena sem
é sobre o não ser de conjugar o porque de é ali o caminho
i said your hands cruzando os dedos e fechando os dedos e
esmurrando minha face meu olho esquerdo pensando em nada que
direcione a mim os medos
agonizo no interfone
um sapo pula sobre minha barriga e este é um novo paragrafo
eu não tenho medo dos sapatos que sobrevoam a minha cara
o zíper está aberto e os dedos da vizinhança apertam enter
não me peça mais espaço entre mim e eu e você pode ir
Pierre Tenório
sexta-feira, 29 de dezembro de 2017
pia, mermo
também não significa que eu não tenha senso de humor, apenas sou
uma garota sem paciência para ouvir piadas e ter que achar graça;
mas, no meio dessa bobagem toda eu descobri um prazer quase invisível
em narrar piadas, na verdade em escrever piadas, criar e tirar de dentro do meu
útero:
piadas
e ao invés de esperar o riso,
sorrio da ira alheia
do ódio nos olhos
da seriedade súbita
da falta de paciência
por não haver graça em minhas piadas e isso alimenta
a minha vontade de viver
dá até uma dor no peito, um aperto no estomago, uma vontade desgraçada
de rir.
isso me faz bem;
foi a forma que encontrei de me livrar dos piadistas sem coração.
Sempre acharam que eu era uma piada, começando quando eu digo que meu nome é
Cleide, fico observando um esboço de riso dentro dos olhos, pois que sempre
fingi que não percebia, na escola, na rua, nas calçadas,
e na igreja, ainda
queriam vestir minhas roupas e pentear meus cabelos
isso também me fez rir por um bom tempo, hoje não preciso rir
de mais ninguém, pois sou dona do meu corpo, das minhas atitudes e do meu nome;
gosto do riso espontâneo
mesmo que seja de mim mesma
bem distante de mim, eu mesma.
O melhor das piadas sempre serão os entendedores
Pierre Tenório
quarta-feira, 27 de dezembro de 2017
poemas presentes
por todas as ceias
os fins acontecem
nas mesas com a mesma
certeza que tudo
de novo começa
na próxima breja
pessoas ausentes
na fotografia
queridos na mente
carentes na vida
nos pratos comida
a louça lavada
e tudo inicia
não gosto de escrever como
se o mundo fosse uma ceia
de ano novo
Jesus está velho demais
para grandes festas
de aniversário
se eu não tivesse memória
só viveria os agoras;
é quase outro ano quente
pra gente aguentar a gente.
Pierre Tenório
quarta-feira, 20 de dezembro de 2017
É possível que te escrevam um poema
e também que o decodifique e o transmute e o desminta e rasgue a nossa frente de alma aberta e o mastigue como você desbota na página
É possível que isto, um poema, não sirva para ti e também que você o rasgue e que você não leia e que dissolva como um papel na língua que ninguém mastiga, um pedaço de página
É bem possível que não saibas poematizar a poesia ou vomitar para dentro gestos silábicos soletrados com vontade de rir, secando o suor dos olhos cansados de tu- d o, é possível que não toques página por página
Pierre Tenório
terça-feira, 19 de dezembro de 2017
assim, vou conhecendo os eles dele e qualquer dia escrevo desvairada sobre tudo e todos a quem amo sem inventar qualquer inevitável pessoa a quem amo
observo a luz do dia e destroco as pessoas são palavras boas que me finjo de louca e sei que a pia está cheia louças não quero as mesmas palavras dentro do meu sacrifício de falar as mesmas e explicar tudo o que sei em destroços
realmente não sei te dizer
não te dizer realmente
dizer-te não sei
que és o mesmo
troco os troços e me finco no mesmo lugar
ao estar bêbado na sala de star tomo decisões e volto sozinha nas curvas dos arabescos pego uma mototaxi e amo pela última vez de novo
desliguem o ar-condicionado
Pierre Tenório
segunda-feira, 18 de dezembro de 2017
domingo, 17 de dezembro de 2017
eu só tinha dinheiro para andar em um parque e tive que escolher entre comer um pastelzinho de forno ou ficar mais um tempo esperando as coisas se realizarem dentro de um algodão doce você não estava mais daí então eu descobri o motivo para existir aos poucos quando disseram que eu deveria ser alguma coisa lancei minha cédula na paisagem sem vento e ela caiu sobre o meu sapato só faltava mesmo vento mas inventei que ela queria ficar comigo sem ser gasta e nem bolsos eu tinha na minha saia
Pierre Tenório
presto muita atenção
quando ele fala
e me cobra uma razão
para viver esse silêncio
que afeta os ouvidos do mundo
nessa nossa conversa
sobre o mundo só
nossa conversa
tão só
quanto nós dois
dobrei as roupas
tirei as roupas
você rasgou minha peça
favorita do quebra-cabeça
e eu perdi a cabeça
do teu corpo
sem roupas dobradas
tiradas na frente da
porta do banheiro
rasgadas nas mãos
Pierre Tenório
quarta-feira, 13 de dezembro de 2017
fui assassinado
e deixaram meu corpo
com todos os sentimentos
intactos e profundamente
enterrados sob a carne
crua e podre
e nos ossos
havia pena e tinta
isso, os ossos
sobrevoando a terra firme
das palavras
tatuadas por debaixo
da pele carnal
e limpa
fui assassinado
pois que nunca
sobrevivo aos momentos
que te amo
isso mesmo, você existe
e me matou
carinhosamente
quando disse boa noite
e a lua se tornou poeira
diante os olhos
e o corpo escreveu
a última palavra
do poema vivo
não é fácil sobreviver
aos pedidos de
despedidas
apago os eu te amo
da lista telefônica
ainda não te morri
Pierre Tenório
terça-feira, 5 de dezembro de 2017
segunda-feira, 4 de dezembro de 2017
avisto o shopping e
tenho a estranha sensação
que não existe morte
e Jesus virá de helicóptero
a qualquer momento
tirar fotos
penso que a vida
dali em diante
por si só
devido as cores
eternamente será
vou aos parques caros
e saio sem pagar
feliz escolho
qual não ir
as mães seguram
as mãos
e as soltam
pra nunca mais.
ficamos lençóis
quase com palavras
o cheiro
da praça
de alimentação
o cd novo
no toca discos
do carro
a paisagem
agarrada no braço
e por incrível que pareça
sempre compro
nada.
e ganho nadas
o cheiro do livro no armário
Pierre Tenório