terça-feira, 22 de setembro de 2015

estar num palco é
protagonizar o poema
além de comer o coração dele,
ser maldito, desnudo
encarnado e condenado
ao mergulho de outros

arrancar a alma da poesia;

assistir-se ao lado de dentro
estar num palco é ser não sendo.

sinceramente não compreendo
nenhuma letra que fora escrita
neste âmago por tua língua

nossos corpos fétidos
encharcados não recuaram,
teus líquidos a sede do corpo
saciaram embriagando-me todo

sinceramente não admito
teres me raptado a alma,
disso não me conformo

nossos corpos alinhados
nossos órgãos em comum
ossos dóceis não fugiram do afago
as memórias que me cospem forte a face.

quando digo que te amo
e você me retribui
com flechadas e pancadas
tiros, bombas de palavras
silêncios, facadas imaginárias
cara feia, risinho tranquilo

quando dizes que não sabes
se é nunca mais ou sempre;

me convenço que nasci unicamente
para amar ser tua putinha,
a putinha que desprezas loucamente
a putinha que te imagina como não és

e te apaga quando risca na parede
com os ponteiros arrancados do relógio
versos irreversíveis e sem tempo,
falas de um texto improvisado;
a putinha que espera temerosa
o silêncio do despertador.

interpretar a putinha que te ama
é sobretudo ser o palco que enganas.

onde estou?

Pierre Tenório









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