estar num palco é 
protagonizar o poema 
além de comer o coração dele,
ser maldito, desnudo 
encarnado e condenado 
ao mergulho de outros
arrancar a alma da poesia;
assistir-se ao lado de dentro
estar num palco é ser não sendo. 
sinceramente não compreendo 
nenhuma letra que fora escrita 
neste âmago por tua língua 
nossos corpos fétidos 
encharcados não recuaram,
teus líquidos a sede do corpo
saciaram embriagando-me todo
sinceramente não admito 
teres me raptado a alma,
disso não me conformo 
nossos corpos alinhados 
nossos órgãos em comum 
ossos dóceis não fugiram do afago
as memórias que me cospem forte a face. 
quando digo que te amo 
e você me retribui 
com flechadas e pancadas 
tiros, bombas de palavras
silêncios, facadas imaginárias 
cara feia, risinho tranquilo
quando dizes que não sabes
se é nunca mais ou sempre;
me convenço que nasci unicamente 
para amar ser tua putinha,
a putinha que desprezas loucamente
a putinha que te imagina como não és
e te apaga quando risca na parede 
com os ponteiros arrancados do relógio
versos irreversíveis e sem tempo,
falas de um texto improvisado;
a putinha que espera temerosa 
o silêncio do despertador. 
interpretar a putinha que te ama
é sobretudo ser o palco que enganas. 
onde estou?
Pierre Tenório
 
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