terça-feira, 30 de setembro de 2014

MAIS UM POEMA RIDÍCULO

sonhei comigo mesma
me masturbei por horas
joguei xadrez sozinha
sem discos na vitrola

beijei muitos espelhos
brindei taças de lágrimas
raspei os meus cabelos
bonita te esperava

jantei a luz de velas
rocei o pé na perna
da cadeira vazia
que na mesa te espera

amaldiçoo teu nome
pela milésima vez
nenhum demônio escuta
a minha insensatez

bendito seja teu nome
por uma única chance
de caso deuses existam
trazerem tu, meu calmante

tornei-me um ser inerte
por nada tenho apreço
envio gardênias murchas
para meu próprio endereço

nunca irei ao cinema
nem tocarei violão
não cantarei para os muros
que isolam os corações

perdida num labirinto
relembro aquele perfume
fatio os meus instintos
catana sem nenhum gume.

Pierre Tenório





















segunda-feira, 29 de setembro de 2014

REVOLTO

exclui os teus rascunhos
quebrei pratos na cozinha
ignorei testemunhos
de tantas línguas vizinhas

bloqueei os teus recados
o cheiro insiste em vingar
tingi até os retalhos
que querem nos remendar

todos os artefatos
das lembranças que restaram
nunca serão apagados

recolherei os destroços
sem lágrimas nos olhos
e nada mais será nosso.

Pierre Tenório






sábado, 27 de setembro de 2014

GAME STATION

por sorte
ou destino
um anjo maligno
cruzou meu caminho

forma de mulher
coração de pedro,
judas, mateus
maria, josé.

do sexo, escrava
sadomasoquista
supervisionava
varões sem conquista

para meus fetiches
saírem dos planos
sempre estaria
debaixo dos panos

com cada joão
que se envolveria
mais uma cabeça
num prato traria

matar o amor
é sua função
ainda há quem diga
que existe cão.

Pierre Tenório










sexta-feira, 26 de setembro de 2014

quinta-feira, 25 de setembro de 2014

o que sei
é justamente
o que não sei.

é confuso
cruel
injusto

quero ficar longe

e encontrar
outros
eus.

Pierre Tenório

quarta-feira, 24 de setembro de 2014

SONETERNO

comecei desenhar um romance
baseado em história real
o antagonista sou eu
no papel do bem e do mal

nele alumiam feitiços
não há começo nem fim.
antigas bruxas e magos
almas unidas a mim

um caos de exatidão
devorado por subjetivos
pretextos de interrogações

tudo está (quase) descrito
ao findar, folhas secas
silêncio desaparecido.

Pierre Tenório





sexta-feira, 19 de setembro de 2014

Disseram que não encontrarias o caminho de volta, apesar de tudo estar claro pelas paisagens que percorres tão convicta das próprias vontades e viciada nas minhas.
Tuas mãos exercem poder, mas não consegues sequer amarrar os sapatos.
Apesar de não estar perdida, tu não te encontras em nada
se não em si ou ali perto daquele quadro.
Vens a mim em busca dos teus pecados ou
de um deus mais humano?

Vou acender um cigarro.

Eu sabia que estavas vivendo de saudade, mas, as gavetas estão abertas
e lá tudo escrito e perdido, não há mais nada que possa ser desfeito.
Não se queima o abstrato lançado ao universo, lembra?
Logo será uma mulher independente de qualquer coisa.
Teu engasgo não me engana; faz tanto tempo.
Desconfio que depois de tantos anos sozinha ainda insista
em trancar as malditas portas do guarda-roupa.

Lembra essa música?

Embriagada, caindo em meus braços derramada;
Brindamos com os inimigos;
sorrimos para os peregrinos ao alvorecer,
choramos e dormimos nus
o tempo parou
e fizemos de conta...
fizemos de conta.

Pega aquela marica, ali.

Me disseram que estás louca, mas, não existe loucura maior do que estar perdido, meu amor.
O descontentamento de não visitar alguma de tuas províncias me torna prisioneiro a esmo.
A ansiedade de me ver enjoado dos teus vícios, contemplando o nosso amor sendo gasto, quase jogado fora, não é maior do que a esperança de reinventa-lo. Estamos velhos.
Só assim eu poderia me amar um pouco mais,
largar os cigarros e beber três litros d’agua por dia.
Consigo enxergar um universo aí dentro, logo eu, que fico sempre por fora.

E estás aqui.

Pierre Tenório