sexta-feira, 19 de setembro de 2014

Disseram que não encontrarias o caminho de volta, apesar de tudo estar claro pelas paisagens que percorres tão convicta das próprias vontades e viciada nas minhas.
Tuas mãos exercem poder, mas não consegues sequer amarrar os sapatos.
Apesar de não estar perdida, tu não te encontras em nada
se não em si ou ali perto daquele quadro.
Vens a mim em busca dos teus pecados ou
de um deus mais humano?

Vou acender um cigarro.

Eu sabia que estavas vivendo de saudade, mas, as gavetas estão abertas
e lá tudo escrito e perdido, não há mais nada que possa ser desfeito.
Não se queima o abstrato lançado ao universo, lembra?
Logo será uma mulher independente de qualquer coisa.
Teu engasgo não me engana; faz tanto tempo.
Desconfio que depois de tantos anos sozinha ainda insista
em trancar as malditas portas do guarda-roupa.

Lembra essa música?

Embriagada, caindo em meus braços derramada;
Brindamos com os inimigos;
sorrimos para os peregrinos ao alvorecer,
choramos e dormimos nus
o tempo parou
e fizemos de conta...
fizemos de conta.

Pega aquela marica, ali.

Me disseram que estás louca, mas, não existe loucura maior do que estar perdido, meu amor.
O descontentamento de não visitar alguma de tuas províncias me torna prisioneiro a esmo.
A ansiedade de me ver enjoado dos teus vícios, contemplando o nosso amor sendo gasto, quase jogado fora, não é maior do que a esperança de reinventa-lo. Estamos velhos.
Só assim eu poderia me amar um pouco mais,
largar os cigarros e beber três litros d’agua por dia.
Consigo enxergar um universo aí dentro, logo eu, que fico sempre por fora.

E estás aqui.

Pierre Tenório

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