sexta-feira, 28 de agosto de 2015

acordei e fiz questão
de abrir os próprios olhos
mais uma vez, olha
olha só pra isso, baby
eles estão bem distantes;
e aproximadamente
pertinho
nuvens negras, também brancas
para sempre cegos
estarão os sonhos
prefiro por todos
e
todos e todos
os momentos curtos
da minha vida linda
procurar feiuras
pra poder maquiar
de forma incerta
destransfigurar
em algo possível
de ser impossível
qualquer coisa; rima
mínima, semínima
qualquer musiquinha
ou sombra de dúvidas
ando aprofundado
nos rasos dos poços
meu coração óbvio
pesca peixes mortos
mastigando anzóis
em nenhum lugar
o fogo do inverno
vai queimar tuas roupas
tanto em tanto tato
dedo no nariz
cheira quase olfato
ou fato, tua boca
diz, beijos calados
vomitando coisas
inteligentíssimas
que minhas orelhas
tão grandes ouvintes
não vão escutar
ouço barulhosas
as asas das borboletas
que
pousam na carroça
do burro que galopo
pra longe do perto.
sinto muito
o mau amor.

Pierre Tenório

quinta-feira, 27 de agosto de 2015

pau no cu

comi um poeta
caguei uns poemas.

Pierre Tenório

sábado, 22 de agosto de 2015

ASA DELTA

parem comigo, não suporto meus sonhos,
o peso das armas corta-me os punhos;
mal consigo apanhar as retinas
na pia do banheiro e nada mais me importa
pois minhas malas foram postas
bem dentro de mim, não responda

permaneço cega.

me calem as cores, ventanias e cristo
só não o cu
pois tanto quanto cago, as bostas nossas
velhas, novas, idiotas, cheiram bem em costas
ricas memórias, meu abraço, coração,
asas das costas que arranco

voos em longos térreos.

cortem-me as pernas, não os precipícios;
façam que eu caia do mais alto abismo
possíveis razões de viver
por mais bêbada que estejas
nunca deixarias pistas ao redor

da mesa .

quando me deixares pensando
fugindo das cordas andando
desequilibradamente;
sonharei todos os dias
o mesmo sonho; você
em livre queda presa.

Pierre Tenório
"Se o cano da arma estiver colado no crânio ou em alguma parte sensível
como o olho, o deslocamento de gás pode causar uma ferida grave"

PROJÉTIL FESTIM

tenho muito medo
de não conseguir
escrever poemas
já que tua língua
lê de toda forma
o que não percebo
sobre o meu corpo
agora só vítima

como a tudo temo
em certeza dúbia
não consigo ver
ainda as letras
na tua carteira
de identidade
cédulas inteiras
metades inválidas

te peço, querido
faça-me um favor
compres o meu peito
com as tuas graças
deite bem pertinho
te darei de graça
todos os carinhos
de um eu sem farda

atire um pouco mais
perto

no alvo dos meus
desertos.

Pierre Tenório




quinta-feira, 13 de agosto de 2015

enquanto jogamos fora o xadrez
meus cavalos percorrem tabuleiro
agora dentro

não ajo mais como dama
os saltos quebraram enquanto
subia as escadas da torre
pra ir conversar com você;

não estavas lá.

[confesso que nem fiz nada
desesperada]

com teus pés corri descalça
apenas;
joguei fora as roupas
despi de qualquer nobreza
nua apenas tua coisa
querendo bem menos só

pular na beleza daquele
pedaço de tempo perdido
e achado por este poema

necessário

não me confunda as pupilas
espero que tua vingança
me mate de graça e à vista
daquela bonita paisagem

que sem você é a miragem
que me habita mesmo assim.

Pierre Tenório

quarta-feira, 5 de agosto de 2015

bem que te kiss;
disseste
kiss me, bem
meu bem, quiseste

reencontrar
dentro do jeito

meu paladar
roubando tempo

para escutar
tudo que importa

você calar
alguma coisa.

olhando ao canto
entra no olho

pra que eu possa
fingir não saber

reagir bem
fazer de você

o único bem
que eu possa querer.

escreverei alguma canção
onde possa te dizer, não.

como alguém que já aprendeu
nunca dar ouvidos aos olhos

melhor rasurar um poema
que nunca será entendido

do que declamá-lo pra sempre
em rodas de tempo perdido;

hei de rasgar nossos medos
soltando e guardando segredos

do sentimento que diz tudo
para qualquer ouvinte surdo.

Pierre Tenório





MIRANTE

Entoarei canções de balão
à beira de fogueiras apagadas
esboçando a felicidade
nas dobraduras de não sorrisos.

Contemplarei o soneto das cordas
amarradas aos calcanhares
sentindo o chicotear nas costas
no profundo silêncio dos gritos.

Repousarei sobre mares de notas
como um peixe navega sem vida
entre ventos de sóis e chuvas
ressuscitando o amor todo encanto.

Pierre Tenório