domingo, 28 de dezembro de 2014

PRESERVATIVO

I.
não te procuro mais em outros corpos,
meu tato insatisfeito apalpa o próprio
que chorou tanto em faces de protótipos;

II.
o vejo ao longe atravessar os campos
voltando de batalhas sem vitórias,
meu rosto sem memória em qualquer canto;

III.
vivendo vou te recriando
em doces e amargas melodias
pois és o único que amo;

IV.
nem todos os dublês se fazem mortos;
e em sentimentos fictícios
te mato, amor, de puro ódio.

Pierre Tenório






sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

escrever pra mim não é profissão;
não que eu não leve a sério, mas, preciso.
escrever é mais do que procissão
de dez mil pessoas pensando em velas.
gosto de conversar com os meus
eus e os eus de outros;
abreviar sentimentos
e só.

Pierre Tenório

a saudade já me mastigou
por todos os lugares onde devorei
ventos e assim vai se manter
congestivamente exata
em meu corpo ainda vivo;
penso.

Pierre Tenório
amor bomba

me abandonaste
-desfiz problemas
compondo cursos
antipoemas.

me afagaste
-perdi o senso
em não sintaxes
ganhando tempo.

Pierre Tenório

segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

PINHEIROS (natais despedaçados)

suas palavras encheram alguns açudes,
secando-me as veias;
vias vazias
paisagens completas
de quase histeria.

não lembro o nome dos endereços
nem uso aplicativos,
ainda que usasse
as seringas estão
cheias de ar.

resumo meus esforços
no descanso discursado,
conceituando a vida (o amor)
um relógio acelerado,

um corpo leve ao despencar,
um corpo denso ao se afogar,
pratos sujos na pia e
no fogão gás a vazar;

nenhuma sílaba ferida
sim ou não, vai afirmar
como eu devo fluir
ou se ainda posso rezar;

já não quero mais presentes,
nem coroa de estrela,
se arrancam-me os frutos verdes.

Pierre Tenório


sábado, 20 de dezembro de 2014

ELEGANTE

coerente
tua mão serpente
foge

daqui;

mas o cheiro
de pavor que
a ausência

exala
de longe,

me come.

pensei que gostavas
do gosto
meu rosto
olhar

por mais
que as drogas
não efeito

façam
enquanto me
usas, sinto

a luva
envolvendo-me
os pés

tuas chuvas de céu
nublado

me acabamento
de inacabado
amor

consumado.

embora
me faças
refém

qualquer hora
me honras

teus olhos
de espelho

que mandam-me
embora

pra perto.

Pierre Tenório

sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

não encantado
me espaço
fechado

calo entre os dedos
das mãos

descabaço;

cartões
não escritos
passeiam jardins

desfloridos
sorrisos,

vestidos de noiva
regados
buquês

de sórdidos
simples
porquês.

se o sim
que não ao não


revoga
o ato
de se renovar

ingrato.

reponho-me
ao marco

remarco
desfatos

recortando
mandos

desmando
e disfarço.

expondo
ao mínimo

compondo
ao máximo.

Pierre Tenório







terça-feira, 16 de dezembro de 2014

madame diabólica

-enquanto paga
a foda
acaba;

celebra o natal
querendo dar;
presentes

pelo amor
de deuses.

Pierre Tenório
DE OLHOS BEM FECHADOS

meus fantasmas gritam
em auroras silenciosas;

auroras escurecidas.

meus fantasmas silenciam
a clareza
dos crepúsculos luminosos

crepúsculos
inescrupulosos.

meus fantasmas riem
dos lagos sangrentos
que abrigam
meus olhos
de peixe.

meus fantasmas
fizeram escolhas

e agora são
árvores
despidas de folhas;

fogueiras juninas,
notas musicais,
páginas de bíblia
enrolando cigarrilhas,
páginas em branco
sem mais guerras
escritas.

meus fantasmas
estão presos
na liberdade
que desconheço.

Pierre Tenório




quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

Ventos

falando
de mal gosto
não desgosto
das boas formas
quais enfrento.

não degusto
muitas vezes
quem me come
ou me olha
me comendo
quando mastigo.

me desfaço
dos quereres
bem amados
desfaleço
as alegrias
dos perfumes
amaciados por

água e
sabão.

sinto cheiro
de alegria
por não ser
perfeitamente
o sofrimento
de não te-lo
inteiramente

nessa rima
tão
de vida;

só sei não sei
que ao fim do fundo
não há fossas
nem há mundo

tudo que respira
nos varais
são roupas
limpas
esperando.

Pierre Tenório




segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

AQUÁRIO

O céu é o mar
daqui
onde estou
afogado

a lua não é satélite
estrelas não peixes
boiam

ondas não senoidais

sem mais

nada
em mim
se esvai

por trás dos olhos
fechados
de vidro.

-não há tempo
para
escapatórias.

Pierre Tenório

sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

FAMINTO

arco íris
escorre nas mãos;

escolho uma cor
para narrar todo
tremor
deste suposto
sem fim

ai de mim

se não falasse que
sinto muito

não tenho como evitar
vaidades
as letras
desmancham como
gala jorrada
porra
no vão das paredes
em redes

boquiabertas

como se fossem
algo que são

incontroláveis

dentro do meu pau
apaixonado
cu, braços, objetos ao redor
coisas assim
sem mim e
fim

abraços
imaginários

ventando;

oração
pelo que vem
de poema

em poema.

Pierre Tenório

quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

vou mentir
que és incapaz
de reparar
em minhas
pernas
trêmulas

pelas
primeiras
segundas
terceiras intenções;

não vou dizer
que és capaz
de alinhar
teus
labirintos
do início

ao fim
do caminho

pelas
terceiras
segundas
e primeiras
impressões;

não vou
deixar
de amar
espinhos.

Pierre Tenório