PURGATÓRIO
Pude sentir a ira nas expressões faciais daquela mulher, 
de uma hora pra outra ela batia o martelo com mais força,
o prego caía e ela continuava batendo com força o martelo,
até quebrar as paredes. 
E nas paredes do deserto ensolarado por SETE DIAS E SETE DIAS,
SEM NOITES, me tornei uma sombra escura e maldita, perseguida 
por corpos a procura de uma, como quem corre do sol de um 
dia-meio
corrido, sem teto e 
sem tato. 
Ela faz de conta, sorri e corre pelos campos secos
até que sedenta, senta sobre uma linda pedra preciosa
sem nenhum valor e adormece;
sonha com uma noite inteira 
procurando conchas, pois havia um
mar;
de pesadelo bebe um pouco daquela água 
salgada e sorri de si
e do deserto de si. 
Acorda no sétimo dia, rastejante 
a procura de uma sobra de parede que
a trouxesse sombra, mas, a ultima que restava, 
ela derrubou com uma
martelada;
antes de morrer
Pierre Tenório
 
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