Há poeira
e chuva
Nesta contra
aliança
O peixe se dá na pesca
O touro na dança amansa
O touro vive afogado
O peixe morre na lança.
Eu ainda não sei como terminar este poema
(Pierre Tenório)
Há poeira
e chuva
Nesta contra
aliança
O peixe se dá na pesca
O touro na dança amansa
O touro vive afogado
O peixe morre na lança.
Eu ainda não sei como terminar este poema
(Pierre Tenório)
POEIRA
longas horas de escuta
os teus olhos desprovidos
rente aos meus desprevenidos
e as demoras foram curtas
vida que parece aquilo
mas, com muita calmaria
há lugar pra bicho grilo
cigarras em cantorias
uma nuvem de fogueira
luz ardendo em nosso corpo
o dia amanhecendo
você partindo de novo
eu bicho besta chorando
pedindo pra tu ficar
tu repetindo meu choro
mentindo que vai voltar.
(Pierre Tenório)
fez carinho
ao travesseiro
recebeu em troca
beijos
de cinema.
desligou o computador
e dormiu sem pensamentos
nem sonho
nem pesadelo
só poemas.
acordou molhada
e foi trabalhar
serviu as mesas
sem descansar
na mesma hora, exasperada
abriu a porta
de casa
e entregou-se ao mesmo
nada.
a música no pensamento era a única
outra
(Pierre Tenório)
Beija flores
sobre meu colchão
O vazio da rua sem saída
A pedra presa no corpo
de outra pedra
A mão tocando as costas
como Deus a sua obra
Ansia de comer tijolos
um sobre o outro, feito casa
A asa fincada na vértebra
o corpo despido de calma
Meu peso suportando o desprezo
desliza como semente
O reconhecimento do amor
engolido pela saliva.
Tudo escorre
(Pierre Tenório)
disseram que ando triste
à procura dos teus olhos
consigo ver-te em silêncio
lembrando tudo que posso
mas nada me faz feliz
como o olho do teu cu
que mesmo sendo lembrança
hei de levar como herança
teu corpo ao meu corpo nu.
queria bem te escrever algo profundo,
talvez impossível ou criar um mundo;
mas só posso ler teu riso de mim
teus cabelos desbotados da memória
(Pierre Tenório)
Uma saudade que não sei
o poema definitivo quase escrito
a palavra sem sílabas
a sílaba sem par
a letra desenhada pela mão
perto da ideia do não
sei
O poema termina quando desço
do ônibus e não te encontro
no meus recomeços
mandei cartas em aberto
e quando não esperava mais nada
você não me deu mais
nada
O poema não termina
como a gente.
(Pierre Tenório)
A verdade é que não gosto que me olhem muito.
Não gosto que me olhem.
Na verdade, eu não gosto quando ficam me olhando.
E sabe qual é a mentira?
Minha verdade fictícia.
Eu não gosto que me olhem, mundo.
Não gosto mundo que me olhem mudo.
Não quero que fiquem me olhando com esses olhos mau olhados.
E nem ousem falar nada, melhor que fure os olhos.
E os abra.
Mas não me leia, pois não sou um poema público.
Não me olhem como se eu fosse surdo.
Estou me odiando e amando o espelho
estou contemplando os meus olhos vermelhos.
Pareço morto, mas
só estou
um tanto absorto. (Pierre Tenório)