domingo, 30 de julho de 2017

Alguém me disse
que odeia poesia
na hora exata
fiquei de pau duro
tentei disfarçar
os poemas que vinham
na minha cabeça;

deu vontade de cuspir
na cara dele.

Pierre Tenório

quarta-feira, 19 de julho de 2017

I.

tudo no meu tempo é meu
eu e aquilo que invento

um pouco entediada, mas,
feliz com o clima
logo recomeçam as atividades
aulas, aulas, trabalho novo
busca por mais trabalhos
já que o salário é pouco
músicas novas
poemas novos
novos encontros
ocupações

quero ocupar corações
ocupar o meu coração
e meu sono
ocupar as horas que fico com fome
ocupar as mentes em cima da hora
acampar na varanda do apartamento
no fim de semana com o namorado
deixá-lo respirar um pouco ao meu lado
e sair sozinho

II.

escrevo o que gostaria de ler

estou morta
como
durmo, fumo maconha, espero acordar,
parei com cigarros, escrevo, apago
e olho para a tela do telefone
esperando uma mensagem no whatsapp
uma mensagem que nunca chega.
e não é "parabéns você foi sorteado"

logo tudo começa
a ficar cansativo de novo

eu vendo tudo
sem um real no bolso
volto pra casa na chuva
vagando  a pé pela rua
somente o frio agasalha
e ninguém quer me pagar
pelo que faço melhor
jogam na minha cara
jatos de água gelada

a mensagem foi entregue,
não visualizada.

III.

desempregada, fui despejada
e o namorado deu-me um beijo
de despedida.

Pierre Tenório

terça-feira, 18 de julho de 2017

unha por unha
vagarosamente
roeu todo esmalte
de cada dedo
que apontava
para a porta
da minha face

quase decidi voar
do 16° andar
vagar pelo fundo
do rio, como um peixe
vivo dormindo
acordado

não deu tempo
as flores murcharem
nas minhas mãos

quase desmaiei
por medo de falar:
não sentirei saudades.

Pierre Tenório

sexta-feira, 7 de julho de 2017

queimando as páginas

decidi não acordar mais
só pra ficar sonhando com quem já fui
desapareci dos becos, da sala de aula e do carnaval
tentei fugir da tua boca, fumar o teu cigarro
tuas bocas parecem deus perto
pulei a fogueira apagada
e as brasas encontraram meus sonhos acesos
os sonhos de mim
quem sou não importa, meu bem
nem tampouco o que me torno
e tudo em torno
encontro a melhor rua para tua fuga
te convido para um chá
me deixa em paz já que te amo e grito para mim
te amo ano após amo
é uma pena que você vaga a mesma merda
os anjos mijam sobre nossas cabeças
já tive medo passando pelos meus rascunhos
e o vento trouxe de volta o animal
"quando todos vão embora eu me tranco aqui e tudo bem"
para você escrevo
que sempre estive onde
você não procura e
não me empresto pra você.

Pierre Tenório

quarta-feira, 5 de julho de 2017

queria mudar a cabeça dos homens
não pedir para eles pensarem tanto
só queria que ficassem sozinhos
e tirassem a gravata que enforca
seus pescoços
queria arrancar a cabeça
dos homens
colocar um corpo de mulher
assim eu poderia tirar-lhes a barba
fio por fio
como uma máquina de desfazer medos
queria colorir a boca dos homens
e me apaixonar como um animal
selvagem
esquecê-lo para sempre sempre
mudar de calçada toda vez
que avistasse um homem
para vê-lo passar divagando
como nunca vi devagar
eu queria ser um cachorro
com o rabo entre as pernas

tp

terça-feira, 4 de julho de 2017

venho tentando
trepar em você
esse foi o último
atentado que me
lancei arriscar

tirar um espinho
de alguma flor
que estava enganchada
pelos teus cabelos

ao querer entrar
dentro das raízes
dessas tuas terras

férteis cicatrizes
lágrimas desertas
comer tuas pétalas

Pierre Tenório