quarta-feira, 31 de janeiro de 2018

Lua Morta

Você não precisa
se tornar poeta
me escrever palavras
como à um profeta

Você não precisa
declamar meu nome
só fechar os olhos
e a noite some

Você não precisa
voltar e ir embora
já não me levanto
para abrir a porta

Você não precisa
ficar mais sozinho
pois ainda cantam
tantos passarinhos

Você não precisa
nem sentir saudade
pois eu jogo fora
tuas caridades

Mas, se és vaidoso
e queres uma prosa
terás que plantar
um milhão de rosas

e libertar pássaros
de quaisquer gaiolas

Você só precisa
abraçar o vento
ver que as respostas
estão no silêncio

e eu não estou mais.

Pierre Tenório

terça-feira, 30 de janeiro de 2018

Marte estava triste
sem motivos
o céu inteiro chorou

quinta-feira, 25 de janeiro de 2018

Ando tão disperso
não me lembro
de que lado
meu cabelo está
Nem por qual calçada
dessa rua vou
me atravessando
e esquecendo de você
Francamente hoje
não quis abraçar
o bêbado leproso
que passa por mim
todo santo dia
e ele aprendeu
a acenar de longe
quando miro
sua retina
sinto que a distância
é a arrogância
do triscar, do toque
e que não há lágrima
que se demore
ao afagar os olhos

Pierre Tenório

terça-feira, 23 de janeiro de 2018

escreveu como uma lesma
deslizando sobre a folha
encontrou o primeiro namorado
na lista telefônica
e rasgou o número sem dúvidas
trocou o dia pela noite
assistiu o show
de uns amigos e fingiu que gostou
não para agradá-los
mas, para economizar tempo
já que teve que pagar a entrada;
a gente sempre tem que levar
os negócios dos amigos a sério
mesmo que não tenham futuro;
foi pedida em namoro mais uma vez
e recusou mais uma palavra
após a outra.
a lesma molha o papel
ao se masturbar sobre o poema
a luz de velas;
conheceu mais um famoso
na portaria do cabaré
e o odiou
por via das dúvidas

Pierre Tenório

segunda-feira, 22 de janeiro de 2018

gosto dos bares
gosto de dormir
acordado nos bares
ouvir a verdade
da boca dos bêbados
das bocas de fumo
fumar o cigarro
dos bêbados chatos
pagar uma dose
de algo e aceitar
em troca outra dose
de amor ao próximo
ouvir um romance
dizer um poema
não lembrar de muito

Pierre Tenório

sexta-feira, 19 de janeiro de 2018

minha amiga acabou de ser amada
e ligou-me histericamente
declamando uns poemas de sexo
o boy tinha o sorriso mais lindo
de todo mangue recifense
no corredor do hotel
ajoelhada e humilhada
aos pés de um macho
descansa sua pele
hidratada, assistindo tudo
pelo próprio celular
ignora a existência da felicidade
trancada fora de si
ela não sabe o que fazer
então ela me liga
e tenta me fazer inveja
e eu digo: durma em paz, sua puta
arrombada
você não pode me fazer feliz
estavamos bêbadas ao mesmo tempo
em lugares diferentes

Pierre Tenório

idiotice minha

não precisa parar o tempo
para que eu possa
sobreviver mais um pouco
já que você faz questão
de usar as palavras
para me matar distante
e me manter você,
você, você.
eu preciso desesperadamente
falar um pouco mais
da minha vida alheia
só assim eu consigo toca-lo
posso sentir o odor
da felicidade, amor
a praia está longe dos meus pés
e eu continuo dentro de você
seu idiota
nasci uma garota livre e
abandonada;
agradeço aos miseráveis deuses
por não conhecer
ninguém
absolutamente
me deixe em guerra

Pierre Tenório