sábado, 18 de fevereiro de 2017

NÃO ESPERE QUE EU EXPLODA
POIS NÃO SOU UM HOMEM BOMBA
SE EU NÃO FICAR MILIONÁRIO
PELO MENOS TIRO ONDA
COM A CARA DOS OTÁRIO
O QUE FALO NÃO É LOMBRA
SE ME COLOCAR NO PALCO
SAI DA FRENTE, SE ESCONDA

TÁ PENSANDO QUE EU NÃO PENSO
O QUE É A ESPERANÇA
TU ESPERA QUE ALGUÉM MORRA
PRA PODER FICAR COM HERANÇA

NÃO TÔ NEM AÍ PRA ISSO HOMEM
MESMO QUE EU PASSE FOME

SEMPRE FAREI O QUE GOSTO
EU ESCREVO E TU COME

VAI PRA LONGE

COM ESSE TEU CLIMA PESADO
TU JÁ FOI DESSA QUEBRADA
PEGA TEU MONNEY E SOME

É ASSIM QUE EU NÃO PRESTO
POSSO FICAR COM O RESTO

MAS O QUE NÃO FALTA NÊGO
É A PALAVRA PRO VERSO

SABE ONDE QUERO CHEGAR?
PERTO DOS PÉS DE UM ALTAR
PEGAR O BUQUÊ DE FLÔ
E IR PRO MATO PLANTAR

OLHAR NO CÉU MULTICORES
ME DESPERSONIFICAR

SEGURA AQUI MEU DIÁRIO
E VÊ SE APRENDE A LER OTÁRIO

Pierre Tenório

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2017

me senti um ser humano preso numa roda de conversa
onde meus ouvidos pediam para descansar, mas, a senhorita
não parava de discutir ininterruptamente com o indivíduo a sua frente,
ele estava indelicadamente vestido de mulher, ''catraia'',
no melhor jeito machista de falar, alegava não ser machista.

ela estava devidamente organizada com um terno branco,
barba de lápis de olho, chapéu, um relógio dourado que provavelmente
seria do avô falecido.

-que horas são, moça? (perguntei-lhe tentando fazer com que eles
esquecessem do que estavam falando. inutilmente.)

-tá parado. (respondeu-me olhando para o braço e coçando os ovos)

ela o agrediu minutos antes de saírem em seus respectivos blocos
de carnaval; ela não permitira que ele saísse em um bloco cujo nome
depreciava o ser feminino.
ele a chamou de puta.

os dois são casados a 13 anos e se conheceram na adolescência,
mas, alegavam não se conhecerem nada a cada dia.
ela chorava de ódio.
ele é a favor do governo temer.
ela o agride por isso.


Quando o delegado chegou, me liberou pelo roubo do chapéu verde que
afirmei ter esquecido de pagar e pedi desculpas e assinei um papel.
parece que terei que limpar os banheiros de uma escola durante seis meses.

no caminho de casa no meio do furdunço, encontro os dois blocos
bêbados de mãos dadas levantadas ao alto quase zombando dos policiais
que os prenderam minutos atrás.
o som da orquestra de frevo e dos batuques de maracatu
quase ofuscava o de suas vocês que gritavam e
cantavam e gritavam freneticamente felizes

-MACHISTAS FEMINISTAS, NÃO PASSARÃO!
-FEMINISTAS MACHISTAS, NÃO PASSARÃO!

não sou rockeiro, mas, carnaval me dá medo. rs

Pierre Tenório



roubei o chapéu verde da loja de brinquedos
comprei uma briga com o vendedor
que me fez passar vergonha ao correr atrás de mim
ele não percebeu que roubei o chapéu verde
correu atrás de mim
para devolver o caderno de poemas que caiu da minha bolsa
nem tive tempo de piscar os olhos para agradecer
não comprei nada finalmente;
ele deve gostar de coisas verdes.
grilos
o chapéu tem formato de grilo,
eu coloquei na cabeça e enquanto
futucava a bolsa para tirar a
câmera para tirar uma foto o caderno
caiu sem que eu me desse conta
que esse faz de conta não tem preço algum.
o vendedor tirou a foto
eu não pretendia tirar o chapéu
ele foi o único que não me viu sair.
me senti invisível nesse clima carnavalesco

Pierre Tenório

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017

meus dedos tocam o infinito enquanto abro a janela do quarto
não queria me desprender do cheiro que há nas mãos
com vista para nada, me deparo com o nada que há na janela
e os meus olhos se fecham, onde estão as cortinas?
a chuva que não, o vento que não vai, o cheiro que não,
ainda estou acordado
cheio de perguntas e não sei sequer escolher um tema.
minha foto favorita está rasgada e eu só te peço para
que voltes, ao menos por dez minutos, ou quatro,
as lembranças me remetem ao quarto
quando vinhas doce e de quatro e ias embora
acho melhor ires embora mesmo, (pro outro quarto)
levando o vento que o tempo em vão, claro que não
sem que eu quisesse deixar, (mastiga um chiclete)
minhas horas favoritas são quando estou despretensioso
quando isso ocorre as águas discorrem sobre tudo além mais
as telas conspiram e as tintas desviam meu medo de tudo
não quero ler o meu nome, nem gosto de ver minha imagem
não que sinta vergonha de mim, mas, é exatamente isso,
creio as palavras não podem ser solfejadas em outro tom que não
seja o presente desembrulhado
meus joelhos se contraem repetidamente em um ritmo dissonante
não seja meu amante.

Pierre Tenório



a lixeira está derramada à sua espera
os lixos já foram jogados dentro de nós
então peço que te acalmes, menina,
nada que não seja belo nos Antônia as narinas, ficamos por conta das causas
os copos também estão vazios à sua espera
danço como bailarina de funk e por
vezes me sinto louca e bêbada fingindo
à sua espera
sempre me deixando levar pelo som
da música que paira, você não me para nem pra dizer oi
enquanto mexo meu corpo de vontades
mesmo enquanto silencio e sobrevoo sua espera
as pessoas falam e eu não retorno a ligação, não é minha culpa
estúpida
não existe culpa, quando o crime é aprazível
eis que as mãos estão vazias
mato os poemas nas mãos enquanto os fatos
não passam de fotos na manhã plena
à sua espera
me desgasto e sobrevivo
não há nada que não nos ache,
então se desespere 

Pierre Tenório

sábado, 11 de fevereiro de 2017

tudo me cega sem que eu tenha que ter cuidado com os cacos dos litros
as vidraças já não são paisagens, os vizinhos apenas a miragem dos vidros
os retroprojetores já não inalam o que os pulmões gritam sobre meu ego inflamado
estouro os balões da festa, enquanto as ninfas dispersas estouram os mesmos balões
o piano alcança inesperadamente o meu tom, improviso uma conversa despretensiosa
meus ouvidos mais estão atentos a desgraça do que aos semitons de qualquer graça
fujo e volto na mesma hora para que você me sirva um café
sirva me algo, não suporto mais a inercia do acalanto não atento
chora um pouco em cima do esmartifone
sorria para mim então, contarei os dentes e direi que te falta algo
que a compreensão não te permite
por mais que interrogações me interroguem o medo do juízo é mais forte que as amarras do sucesso
a fama e glória me sufocam a ansiedade de não tê-las
devolva os dez centavos que te dou algum agrado da sobra que nunca inalei
grilos cantam na paisagem, e se você lê que me leia no verso das páginas das
calçadas, as palavras me cansam os artigos inúmeros também, e é nas entrelinhas que me engano
totalmente, me envolvem as entrelinhas que me,
sem que tenha braço, sem nada por nada que afaga, onde está a fada do dente
onde estará o duende que dormiu comigo na noite passada e fugiu do medo
de sorrir comigo,
entreaberta janela fechada e sem ferrolhos, desculpa.
não ousar de tantas palavras, apenas que me entendas deveras
por favor, não me entenda.
as lágrimas já estão petrificadas neste nordeste.
um norte
eu poderia ser a qualquer pessoa
que amarias no mesmo vento.

pierre tenório

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2017

Oi,

abraço não se devolve, besta
cartas sim.
devolva também o cd que você pegou emprestado e eu sei que perdeu,
eva nunca vai me perdoar por isso, maurício beijou outro cara no fim de semana
e o namorado dele finalmente com ciúmes, ligou pra mim 13:00 da tarde
dizendo que a ressaca o traz de volta.
ele estava ouvindo justamente um cd igual ao meu
haha achei engraçado ouvir joplin de ressaca
não entendo os ciúmes depois de tanto tempo
acho ciúmes engraçado, talvez belo, ciúmes tem cheiro do amor de deus por nós
por isso deve ser que ele mata todo mundo, não tenho ciúmes dos deuses.
nem dos amigos, desde que foste nunca mais senti nada.
e me questiono e escrevo.
tem uma árvore que dança pra mim toda noite enquanto me bronzeio
a luz da lua e da brisa quente na varanda.
as vezes cerveja, as vezes café, ontem foi vinho.
aí tá quente ou frio? como são as flores? a vegetação, as chuvas.
aqui tá uma guerra, tudo desgovernado, o país inteiro; tô pensando em fugir.
gostei muito das fotos que você mandou na ultima correspondência, vê se treme menos.
me fala sobre a exposição
o que a crítica falou de menos? kk adoro as narrativas
grava a fita do brotolândia pra mim, também a bossa do caetano
gosto daquele jeito k7 que você me olha
eu sempre fico de aparecer né, mas, sinto meus pés fincados aqui
presa em um pentagrama cheio de notas baixas,
também das últimas vezes que me escreveste senti
uma aversãozinha da sua parte, tá me escondendo algo?
ou tá com medo de mim?
não esqueça que sou uma bruxa das palavras
e consigo ver teus olhos de longe;
pensando bem, acho melhor demorar mais um pouco,
preciso cuidar das crianças, depois saio por aí,
talvez apareça... talvez não.
abraço se envolve, como a pista sente os pneus em pleno meio dia
e os ares as asas dos pássaros, o tempo sente falta de um abraço
e o corpo de mais um aniversário.
abraço se envolve como o silêncio dos quilômetros.
como me envolvo com você.
me diz como foi o carnaval, com detalhes poéticos, por favor.
prometo usar a máscara que você deixou


beijos,

Pierre Tenório

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2017

me ame
como as sombras são
feito assombração

passam por lá, longe

torture
como tartaruga
beija bem na nuca

devagar se move

afaga
puxando os cabelos
arrancando o dedos

rodeando as sagas.

dos versos perdidos
dos copos partidos

corações inteiros
pulsam

procurando tempo
pra viver em paz

sempre e nunca mais.

curta minha foto
que te dou um voto

de castidade
veja nossa idade

já passou o tempo
em que nos prendíamos

a ter liberdade.

fechem os portões.

e gozem-nos nas mãos

Pierre Tenório









quinta-feira, 2 de fevereiro de 2017

Veias alheias

peito sobre peito
na tentativa
de sincronia

olho sobre olho
no palpitar
das pálpebras
frias

sangue de pedra
percorrendo fio
a fio de cada cabelo

corpos gelados
de mãos dadas
sobre a cama
vermelha

e nada sobre mim

quem foi o vírus
que te enforcou
com minhas teias?

Pierre Tenório