quinta-feira, 29 de dezembro de 2016

tenho uma série de crimes
para confessar ao mundo

quando silencio me sinto
do fundo ao mais profundo

de algum comporte vazio
a captura de ventos

frios

o primeiro foi nascer e ao nascer
abrir a flor do sorriso mais preciso

sem desaguar uma gota de orvalho
nenhum grito de alerta, ao contrário

até hoje vivo rindo da cara dos outros
para que também possam rir da mesma forma

sem nenhum sentimento de culpa
vivo separando as sílabas

e aprendendo a falar mais calmo

gritar de baixo pra cima
calar de cima pra baixo

assumindo as próprias leis
sendo o próprio capacho.

Pierre Tenório






















sábado, 24 de dezembro de 2016

tão julgado indiferente injusto
pra mim é fevereiro no natal janeiro
e me perco irremediavelmente
nem percebo o mundo que se cria em meu bucho magro
quase como um filho de merda que renego as vésperas
do vômito beijo
posso carregar o hálito das algumas visceras
pelas estradas do labirinto que me perco idiota
e enfiar teu pau como uma árvore poente
imensidão de luz e friagem
frigidez
coisa mórbida
mas, não cinza
EU QUERO CINZA (isso deveria estar minusculo pq eu não gosto disso)
enquanto isso me perco no arrebol
não, no nascente claro
esqueci
pra fazer escorrer no teu corpo
as larvas de gelo que são
todas as palavras que não dito
digito
digo e ao mesmo tempo...
coagulo num porão de rosas mortas
achadas no lixo
protesto e ocupo
as escolas como e devoro
minha casa forte
porto
sorte
penso que me ensinarias
penso que morreria ao saber que

num longo espaço de tempo amplo
nossas cicatrizes como a terra
germinam
transparentes nordestes
e nada nos cabe
todo mundo dorme

Pierre Tenório

quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

gostaria de medir
a espessura do verbo
desde quando inda preso

gostaria de pesar
a leveza de tais versos
mesmo sem sair ileso

gostaria de afagar
letra por letra dos verbos
como se fossem de carne

gostaria de engolir
parte a parte do verso
ainda que vomitasse.

Pierre Tenório

terça-feira, 13 de dezembro de 2016

telapático

sempre que fecho os olhos
sinto um clarão por dentro

descendo na garganta
como se engolisse

tudo que é retratado
pela inconsciência

de quando abro teus olhos
e vejo a escuridão

estática em processo
de labareda em carvão.

Pierre Tenório

segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

acordei com saudade de todos
os meus amigos
também dos inimigos distantes
ontem perdi meu celular
que estava mais embriagado que eu
não uso what's app
por isso não preciso estar avisando
mas, a saudade deles continua tanto
agora que não posso ligar
é que me ligay que estou um pouco distante
talvez isso seja um poema
talvez não
posso te beijar se você quiser
ser meu inimigo distante
de qualquer sintoma
nós somos o destino
e isso não é um poema triste
queria estar estar deitado sobre
um colchão de vidro
como uma correnteza de livros
fazendo-me sentir vivo
preciso me desligar

Pierre Tenório
27 anos luz

Certa vez
me pediram
em namoro

engoli o riso
prendi o choro

súbito aceitei
com fogo
no rabo

dali em diante
lado
alado
comecei contar
os dias

pra tudo acabar
logo.

Pierre Tenório

sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

bijuteria

fiz um faz de conta
tanto faz, refaço

nada mais adianta
colar os pedaços

deste anel quebrado.

escritos, símbolos, dialetos
tentaram florir desertos

me enterrei sob o próprio enigma

e a chuva veio de táxi
atropelar a miragem.

Pierre Tenório