sábado, 29 de outubro de 2016

São Paulo mentiu para nós
santinho desgraçado
que de santo só tem barro
e tamanho

sonhei durante uma noite
contando para são paulo
todos os meus segredos
dentro d'um confessionário
fiz papel de otário
pensando que seria salvo
da seca
mas, não
sampa não tem coração

desenharei poemas
para ti
com enormes dimensões
e caminhando
sobre eles
com uma cruz
no pescoço
à procura de condenação
chegarei até você
e os direi
sem nada nos olhos

mesmo que o barulho
não o deixe ouvir

e tudo seja em vão
como tudo é;
todos São.

Pierre Tenório
mais sozinho
que uma árvore
no centro da cidade

suportando caixas de som
que anunciam falência

não, eu não sou você
não aparento
é que já não escrevo poemas de amor

eles me sufocaram com as duas mãos
apagaram todas as letras do alfarrábio

me vendi por algumas misérias
degustei tantos miseráveis

comprei ereções matinais
esperando

poemas de ódio

artesanal

para declamar teu sorriso de mim
invisível poeta
pop.

Pierre Tenório

domingo, 16 de outubro de 2016

distante das minhas retinas
era como ela costumava se comportar
todos dias quando comigo cruzava
pelos corredores, sala de estar
pracinha, banheiro, as horas passavam
e a que eu mais gostava de viver
era o almoço
quando em meio aquela gente toda
meus olhos a procuravam
e as cores eram mais coloridas
quando ela estava no enquadramento
da minha fome
enquanto olhava ao longe fixo
suas pequenas mãos apalpando o garfo
como num passeio de astronave
lentamente aterrizando na boca
mastigando cada pedaço dos dez anos
de vida que tenho a frente dela
ela mastigava vida
eu a comia com os olhos
todos os dias
meu pau pulsava no mesmo ritmo
que o coração parava quando a via
minha deusa, pensei tanto
tanto que escrevi
ela
queria entregar esse poema limpo
e cheiroso
e inútil para ela
mas, não o faria

não perderia jamais
a sensação de não podê-la.


Pierre Tenório




sexta-feira, 14 de outubro de 2016

"qual o preço da tua venda"
já não o vejo
apago lembranças
e fico sem nada
cobrar
não chove nos olhos
também já não há
dentro da escrita
algo que esconda
para sempre
ele da minha frente
matei todo mundo de rir
contando piadas sem graça
e sendo horrivelmente sincero
espero uma ligação dizendo: o cachê
tá na conta
corrente elétrica
sistema nervoso
nunca mais escrevi
poemas em cédulas.
a distância é algo feliz
jogo das velhas
rastegues soltas
de mão
em mão.
não há preço que
não se pague
por amores
perdidos.
abre o olho

Pierre Tenório

quarta-feira, 12 de outubro de 2016

ando ocupando os meus espaços
públicos e pubianos
navegando pelo sangue
ainda não derramado
permeado entre
a positividade e o convívio
consegui umas aulas particulares
mas, abandonei
antes mesmo do aluno
decidir o que queria
não que eu não esteja errado
há tanta coisa dentro
dos vinte e sete anos
os poemas já são uma droga
quase sem efeito
sei que pareço assustador
há tanto pra ocultar
que desisto
como plantas
silencio.

Pierre Tenório


sexta-feira, 7 de outubro de 2016

eu poderia ler
nos teus lábios
coisas que você
nunca escreveu
mastigaria tua língua
em vários idiomas
até não entender
mais nada sobre mim
eu seria sim
o guardião dos pesadelos
na tentativa insana
de te tornar eterno
dentro dos meus sonhos
e te livrar da morte
sempre esperando uma pergunta
como forma de resposta.

Pierre Tenório
POBRE STAR

por onde andará

jorge cabeleira

o cara que um dia
achou que era sansão
pensou que poderia

salvar a própria vida
comendo rock e baião

reino de curto circuito
excesso de poucos intuitos

numa jogada de mestres
sobreviveu um semestre

nem o próprio kurt cobain
esqueceria de morrer, meu bem.

Pierre Tenório