segunda-feira, 18 de julho de 2016

fiz uma carta imensa
toda escrita em números
contabilizando as horas
que perto estive distante
nada que se decifre
nem mesmo sobreviveu
o derradeiro afago
que os dedos nunca tocaram
foi na pelugem das costas
quando me destes as costas
que percebi o quão úteis
podem se tornar os ursos
sem uma gota de álcool
tacaste fogo em meu corpo

vazio de chamas

os ponteiros já não passeiam
nos mesmos lugares de sempre
onde nunca gastamos tempo.

agora estou a escrever
um romance em braile.

tp

quinta-feira, 14 de julho de 2016

GOURMET

faça o prato
com amor e
ele te come.

Pierre Tenório

quarta-feira, 13 de julho de 2016

joguei fora a culpa
deste sentimento
não quero vagar
perdido no vento
que você esqueça
as palavras frias
faladas no dia
que a chuva vestia
nossos corpos ledos
e você mentia
olhando meus medos
enquanto sorria
"bom dia, meu bem"
gravei esse texto
no alarme diário
do meu telefone
pra não esquecer
que o nome culpado
está escondido
pelos calendários
tua voz agora
só diz: vá embora
finjo que não ouço
procuro desculpas
perdidas nos bolsos
das roupas que não
nos despem os olhos
cegos de perdão.

Pierre Tenório

quinta-feira, 7 de julho de 2016

BAR E BECK

Um cara de pau
estuprou-me a boca
falando por horas
línguas muito loucas
dentro dos ouvidos
gestos indevidos
forçaram meus olhos
a não se abrirem
para o perigo.

Sem entender nada
no meio do escuro
vesti minha roupa
e pulei o muro
valeu a cerveja
da noite inteira
mas, nada no mundo
vai se comparar
ao que não me deixa.

Beijos vazios
só enchem
o saco.

Palavras repletas
de silêncio
e asco.

Pierre Tenório
hoje amanheci mulher
uma mulher feminista
chata e menstruada

que lava as roupas
da família inteira

e é obrigada a ficar em casa.

amanheci meio trans
meio homofóbica

assassinei alguns poemas
e lancei meu corpo fora

pulei de uma cachoeira vazia
e quebrei a cabeça pensando

em como fugir dessa bosta.

amanheci uma cadela no cio
uma onça no meio da rua

um gorila preso a um bebê
um mendigo que não sabe escrever

amanheci tantas, mas,
não acordei.

Pierre Tenório

sábado, 2 de julho de 2016

Meu all star preto
ainda está sujo
com a lama da chuva
do dia em que nós
saímos juntinhos
contando as gotas
de orvalho das flores
você agarrado
a minha cintura
com o riso maior
que o clarão do brilho
de todas as luas.

Calcei o sapato
mesmo sem limpá-lo
sujo de alegrias
com você ao lado
e saí sozinho
na noite nublada
matando a saudade
dos olhos de estrelas
a motocicleta
ja está lavada
esperando a hora
da próxima queda.

Pierre Tenório