quarta-feira, 30 de março de 2016

ONZE E MEIA

Me desespero
quando não sinto
as tuas mãos

tateando-me
tatuando-me
torturando

me decifrando.

Te exaspero

perfurando-te
perfumando-te
perpetuando

espero.

minha saliva
te afoga

e tua língua
me penetra.

Pierre Tenório







terça-feira, 29 de março de 2016

A Srª Mente
Mastiga verdades
Durante o sono.

Pierre Tenório

segunda-feira, 28 de março de 2016

me entoja a fala
que persegue inútil
teus lábios mecânicos

-você nem percebe-

não me alumbra mais
aquele perfume

sobre tua pele.

procurei sinônimos
para a dissílaba
palavra nojo

não mais há poema

que exteriorize
todo o meu gosto

pelo sentimento
de discernimento

que guardo no bolso.

Pierre Tenório

terça-feira, 22 de março de 2016

peço que tenhas
muito cuidado

com a minha cena
na sua sina

posso querer
ficar pra sempre

ouvindo a tua
voz de menina;

o puro encanto
do meu veneno

somente mata
quando germina;

te darei tempo.

Pierre Tenório
20 de março de 2016

Vivo morrendo
de rir das coisas
ao meu redor

Morro vivendo
chorando tudo
que há de pior

Melhor seria
que me bastasse
apenas ser

Só que nem tudo
é bem do jeito
que a gente quer.

larvas de vulcão escorrem
dos meus dedos todo tempo
e no silêncio me contenho
e me contento no silêncio

a alma queima congelada
sou um deserto quase frio
cheio de cores
e miragens

parece impossível me tocar

corro parado
e guardo certezas
nas profundezas
das minhas dúvidas

desculpa se preciso ficar sozinho
é que aprendi a amar dessa forma

também aprendi a jogar
amores fora.

Pierre Tenório

segunda-feira, 14 de março de 2016

ALCOÓLICA

Me sinto um mostro
e por enquanto
você não pode
me penetrar,
se não, te mordo
até sua alma
poder voar.

Fiques calado
enquanto o falo
que me amordaça
grita que nunca
serei tua raça.

irei embora
pelas calçadas;

como você,
sou vira-latas.

Pierre Tenório

segunda-feira, 7 de março de 2016

escrevo e jogo poemas fora
no lixo denso das sabedorias
nos vasos que há dentro dos corpos
nos pratos que não mato a fome
parece bobagem (ou frescura)
mas, por mais vazio que sinta
meus versos são calejados
e somente posso sentir
d'um jeito bem semelhante
ao que todo mundo sente
meus versos são para as folhas
das árvores, baleias, astronaves
para qualquer olho cego, morto-vivo
ou talvez para os amigos
dos amigos
ninguém mais
meus versos são para o meu ex namorado
e também para o seu
passado e futuro, nunca presentes
não, não são presentes
pálidos
os poemas são fatos ou fotos,
fitas de vídeo e cetim
vícios, viço
jogo poemas fora
mas, não me atreveria
jogar um papel de bala
desarmado na calçada.

tenório, pierre

quarta-feira, 2 de março de 2016

SORRISO ESBOÇO

Observe sempre
pequenos detalhes
mas, nunca se prenda
aos grandes olhos
de qualquer pessoa

faça um negócio
quebre os espelhos
por toda casa
retire os óculos

vista a cegueira dos animais
siga instintos elementais

seja a poeira
das folhas brancas
desequilibre-se
rente aos tremores
mergulhe fundo
em erupções


não precisa sorrir na foto
para gargalhar do outro
pode esquecer essa história
daquele que ri por último.

Pierre Tenório