domingo, 27 de setembro de 2015

existe um redemoinho dentro de mim
inerte dentro dele
pacifico minhas vontades

tudo pode existir

nossas visões
sobre as coisas.

os anéis de saturno
entre os dedos

é tudo que você pode
me dar;

não respondo as perguntas
no entanto, me encontro

dentro do teu cu,
enquanto os ossos
pensam.

Pierre Tenório


quinta-feira, 24 de setembro de 2015

é quase hora de dormir
e a garota bêbada
fecha todas as portas

meio cansada de tudo

ajeita a cortina da janela
para caso a luz divina
ouse buscá-la pela fresta;

ela olha sentada na cama
para as capas dos livros que já leu
acende algumas vezes o isqueiro

apaga a luz e arregala os olhos
aperta as teclas do telefone

incomodada com a luminosidade
ela gosta mesmo é do silêncio

aceso

das frases desconexas
que pairam pelo pensamento,
pensa até em arranjar um emprego

sente o cheiro das cédulas
e decide gastar todo tempo

fazendo tempestades
em copos de álcool;

não há hora pra acordar
quanto mais se sonha.

Pierre Tenório

terça-feira, 22 de setembro de 2015

estar num palco é
protagonizar o poema
além de comer o coração dele,
ser maldito, desnudo
encarnado e condenado
ao mergulho de outros

arrancar a alma da poesia;

assistir-se ao lado de dentro
estar num palco é ser não sendo.

sinceramente não compreendo
nenhuma letra que fora escrita
neste âmago por tua língua

nossos corpos fétidos
encharcados não recuaram,
teus líquidos a sede do corpo
saciaram embriagando-me todo

sinceramente não admito
teres me raptado a alma,
disso não me conformo

nossos corpos alinhados
nossos órgãos em comum
ossos dóceis não fugiram do afago
as memórias que me cospem forte a face.

quando digo que te amo
e você me retribui
com flechadas e pancadas
tiros, bombas de palavras
silêncios, facadas imaginárias
cara feia, risinho tranquilo

quando dizes que não sabes
se é nunca mais ou sempre;

me convenço que nasci unicamente
para amar ser tua putinha,
a putinha que desprezas loucamente
a putinha que te imagina como não és

e te apaga quando risca na parede
com os ponteiros arrancados do relógio
versos irreversíveis e sem tempo,
falas de um texto improvisado;
a putinha que espera temerosa
o silêncio do despertador.

interpretar a putinha que te ama
é sobretudo ser o palco que enganas.

onde estou?

Pierre Tenório









domingo, 13 de setembro de 2015

não suporto quando me deixas
sob efeito das tuas estruturas

que droga

dormente o mundo não real
despenca pesado
e um cupido pousa
bem em cima
do meu baseado
tudo real
mas, o que é real mesmo?

as pedras ficam andando pelos jardins
e eu fico olhando pra elas
elas estão paradas é?
ai, meu deus

não lembro de nada

não preciso falar
que ouvi aquela canção

você pode confiar em mim
mesmo eu nunca decorando

o uso dos porquês

é mais forte que eu
pareço uma música
mal traduzida

podemos fazer quantas
quisermos pra depois
esquecermos todas elas

como você esquece
de me ligar todos os dias

eu queria fotografar as tuas roupas
penduradas no varal

pra sempre poder te despir
no afago dos pensamentos

e te afogar
no berço das minhas lágrimas

o amor está dentro dos seus olhos
enxutos

eles são meus.

Pierre Tenório

quinta-feira, 10 de setembro de 2015

DOIS PAUS

sufoquei uma flor
com apenas dois dedos

e serei condenado
pelo ato insensato;

mudas de flores
surdas num jarro

não falam comigo
nem leem sequer

uma só palavra
do que está escrito

sempre serão minhas

mesmo entre as páginas
dos livros favoritos.

com apenas dois dedos
fumei com remorso

o milésimo cigarro
da tua carteira

a primeira vez
que tive certeza

que tua presença
nos ares fumaça

me traz com a proeza
de quem por mim passa

e não me convence

que preciso parar
de tanto estragar.

Pierre Tenório





terça-feira, 8 de setembro de 2015

não quero aprender
de nenhuma forma
a interromper
silêncios perfeitos
e principalmente
como o teu, escuro.

apreciar a ânsia
de palavras nuas
conforme o tempo
na esteira estática
correndo em direção
contrária, não passa

é quase bastante
para qualquer dúvida
não ter forma alguma

apenas a tua
que ao lado, sentado
clareia silêncios

em sombra de músicas.

Pierre Tenório