domingo, 27 de abril de 2014

DIGESTÃO

ao escrever um poema,
delibero sensações
indescritíveis
num poema.
Penso que posso
desenhar inenarráveis,
a vida exposta de dentro
para fora.
A folha em branco
um caminho sem fim,
enquanto acaba
viro essa página mastigada.

Pierre Tenório

quinta-feira, 24 de abril de 2014

Dos piores, sou pior que tudo de pior que existe de pior aconselhável, doce amável mostro
em tudo que faço monstro e sou um corpo em chamas no elevador, o pior de tudo e todos aqueles miseráveis ali sentados na calçada. Pior ainda, do que seria pior em tudo, sou usado como roupas de brechó, são as piores melhores ainda mais baratas no quintal querem invadir o meu quarto, socorro descartável, de uso momentâneo, buraco negro inferno astral inquietante, atrás da porta o amor queima no meu lixeiro de alumínio, assunto da semana, sou pior que a dor do parto, tão prático entorpecente escondido na varanda de casa, bastardo, recusado de infância e pra sempre de destino, abandonado de tão cão de rua perdido, forte e resistente de tão pior que escrever poemas na porta do banheiro público, pior dizer bom dia ao porteiro e não receber resposta alguma de bom dia senhor pior convencido sem prazo de validade, não consigo ler pensamentos e me recuso a ir em fonte de desejos, não tenho ninguém no vácuo da respiração. Puta quem sou eu me encontro na primeira pessoa narrativa deserta na orquestra, todos querem ver o sonho acordado. A felicidade é uma paz cheia de dinheiro. Uso e desuso plasticas de reforma da casa. Te amo no desamor das dores intermináveis, acaba que tudo aquilo é uma palhaçada sem sentido. Mergulho na piscina de três metros e meio e sobrevivo por lá. Massageio teus pés de otário em cima da mesa. Seres humanos fungos do planeta, sacio assim minha depreciação amável.

Pierre Tenório
A VERSÃO

Cantei
sua música
predileta
de uma forma
diferente.
Além de não
gostar,
mandou
uma indireta
silente.

Pierre Tenório
ÚLTIMO POEMA

a paixão escrita
em cartas coladas
nas paredes
do quarto, da sala,
do jardim,
durante a casa inteira
esperando alguém
que as lesse.

leitura silenciosa,
esqueço.
escrevo um manual gritado
de como se amar calado.

foram os móveis que restaram

Pierre Tenório

terça-feira, 22 de abril de 2014

amor
começa
com prova
conforme
a paz
desaprova
em forma
de saudade
a prova
é o enlace.

Pierre Tenório

sábado, 19 de abril de 2014

CARINHO

adoro
seu jeito
de me agredir.

Pierre Tenório

terça-feira, 15 de abril de 2014

à Joey

LUA DE SANGUE

Arranquei os olhos da face
mirei ao céu da madrugada
ele estava deserto.
Não havia sequer poeira
de estrelas.
As nuvens choviam
mar adentro,
onde nadavam sereias
cadentes.
Sobre as rochas
Arcanjos maquiados
abriam as portas
das cachoeiras.
Ao chão do quarto
a lua banhada de sangue
anuncia eternidade
das paixões solitárias.
O sol decidiu matá-la:
Eis o apocalipse!

Pierre Tenório

sábado, 12 de abril de 2014

GATA BORRALHEIRA

Fecho os olhos,
coração espanca
o peito indefeso
de saudade vã.
Estou viva encantada,
palpites mudos,
palpitações.
Sujei os móveis e
quebrei a prataria.
Do outro lado
da escadaria,
engraxei sapatos,
perdi gravatas
e deixei uma carta
anônima:
Não tenho esse amor
para dar hoje,
estou cansada
e já passa da meia noite.
Olhos do meu sorriso
cego e proibido,
aceita uma valsa
no porão?

Pierre Tenório
PESCARIA

Lancei o anzol,
morderam a isca.
Estou frito!

Pierre Tenório

quinta-feira, 10 de abril de 2014

A LETRA DA VALSINHA É OUTRA

deixo as portas abertas
tão perto de ti.

O sonho me traz
a lembrança
e na porta te vejo
sorrir.

Quando abro os olhos
e tu não estais mais aqui.

Abro a janela e te vejo assim;
Fecho a porta e esqueço de ti.

Pierre Tenório

quarta-feira, 9 de abril de 2014

À MANHÃ

tão bonita
essa coisa de se abrir
assim comigo

enclausurando
as palavras num abrigo
em meu exílio
de expressões
raras estáticas;

bocas e caras
beijos e tapas.

sonho de valsa amarrotado
aos pés do guarda-roupas.

Pierre Tenório
SANATÓRIO

metáforas
pobres
de espírito
não conseguem
alimentar
sequer porcos
fantasiados
a mente
do doido
não mente, otário
suga, suga
conhecimento
e deixa tua alma
preta, prata
lembranças
descartáveis em
baladas de ouro
a verdade vale
mais do que
qualquer
migalha de
frango de macumba
assado
assim: faço
questão de
me orgulhar que
não recebo sequer
um salário
das mãos de
ladrões
jurídicos santos
vigários
comer ei
um coração
pra te mastigar
criatura
desalmada, causa
tristeza
pq não é
amada as vésperas
do batizado
envenenado
ceia de natal
pascoal sacrificada
nas bordas
da piscina de
maçãs
haja lavriado
para lavar
parábolas de
bolhas de sabão.

divagação: soube
que além de
promíscua máscara
de carnaval as vésperas
da paixão cristã
bumba meu boi
caridade deus
te perdoe
por se perder
fiquei sabendo
que a alegria
da despedida
causou chifres com
as cores da bandeira
gay nazista
toma um
presente de
presença,
represente com
alma mesmo que
a xerox saia
borrada, semear
"amor com amor
se paga"
apaga essa
porra do script
easy.

cena 2:
olha pra aquela
câmera,
a paisagem tá
verde, continua
falando da
vida dela,
que sou eu
cachorra
sobe no palco
do teatro
e dança igual
aquela outra
que coça o saco
de batatas e
nada cria alfaces
de mentira
roubou um
tigre no
supermercado na
esquina e
aprendeu a fumar
aos 14 anus
arrombado, me
deixa em paz
perseguição
de Cristo
menino Jesus
de Praga
ela partiu
rindo da diretora
de cinema
banguela de
bicicleta nas
ladeiras da
saudade, não
tenho mais
telefone, um
grande baseado
em fatos reais
fumaça, aprendizado
existe amor na
briga dos
universitários
vestibulandos
fecho a porta
e jogo as chaves
amanhã tô
de volta, Elvis
tá de mal humor.

Pierre Tenório

terça-feira, 8 de abril de 2014

DIAPASÃO HUMANO

odores
diretos
dormindo
safando
tá solto

pra chegar lá
440 quedas senoidais.

se dói?

Pierre Tenório

sexta-feira, 4 de abril de 2014

PROSTITUTA MUSICAL (PARTE II)

Basta ver um violão
Que por entre minhas pernas
Passa a ter um corrimão
De acordes e tantas merdas.

Notas de puto prazer
Teus dedos deslizam em mim
Não posso desafinar
Essa música sem fim.

Trombone de meter vara
Pandeiro pra dar na cara
Quero descer lá em baixo
Elétrico pra ver se encaixo.

Gemidos, gritos pianos
Contralto, tenor, soprano
Sei que não passa de horas
O que eu queria por anos.

Não posso ser amadora
Por opiniões contraditórias
Calada como John Cage
Sou música aleatória.

Pierre Tenório
Musiqualidade

Poesigrafia
Fotopoema
Topofonema
Fonestesia
Eterrimado
Criativimetrica
Pendriventura
Postaisaudade
Caixas de sono
amplifica dores
Renascital

Cartões de memória.

Pierre Tenório

quinta-feira, 3 de abril de 2014

SENHORA ATENDENTE

não faço planos
infinitos
nem olho cartas
no correio
após o sinal
deixo recado
com torpedo
branco e preto
não peço que
pagues contas
mas, não me deixes
sem créditos
porque eu te amo
tanto
que o teu protocolo
é
meu número
predileto.

Pierre Tenório
CHARADA SINCOPADA

alguém anda espremendo
aquelas nuvens estampadas

na folha do outono
man-ti-da pendurada

calada
não alada
é fada amargurada

a-prisionada
a-bandonada

no galho
chora a lágrima
no solo quente e seco
no solo do sertão
varinha de condão
quebrara maldição encantada
a
bençoada
a
pedrejada

a fruta cai e a folha
fica plantada
entre as fadas
no céu
com as luzes bem apagadas
observando ao chão
a fruta ali
alagada.

Pierre Tenório